Nova vida

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Essa era eu, fazendo o meu caminho para uma cidadezinha pacata no sul da Inglaterra. Não, eu não iria me acostumar nem ferrando! Sou uma garota de dezessete anos da cidade grande, com uma vida noturna e diferente do que todos nesse inferno de lugar jamais imaginaram levar.

Eu morava em Nova York com a minha mãe, até que ela decidiu que eu deveria "mudar de ares" e me mandou para morar com meu pai e sua nova família nesse fim de mundo. Eu sei que ela realmente me ama e se importa comigo, mas ela me deixou desta vez. Talvez por não saber mais como lidar comigo.

Além de pegar um avião, ainda tive que aguentar 8 dolorosas horas dentro de uma merda de um ônibus. Ele já havia chegado ao meu destino, só me restava pegar minhas malas e ir à minha nova casa e me juntar a aquela bosta de família.

É claro que meu pai não iria me buscar em um aeroporto ou até mesmo na rodoviária. Afinal, nem adeus ele conseguiu me dar quando nos trocou para viver essa vida medíocre ao lado daquela vagabunda. Ela provavelmente deve ter odiado a ideia de eu vir morar com eles, mas não tanto quanto eu. Ela só deve ter aceitado pois minha mãe disse que era uma "medida extrema".

Não tô nem aí também, contanto que eu tenha um quarto só para mim, não me importo com mais nada. Ela também não devia reclamar, pois meu pai acolheu de braços abertos seu filho como se fosse dele próprio, melhor até do que sua legítima filha.

Cheguei a uma vizinhança com casinhas todas no mesmo estilo, idênticas até eu diria; mesma cor, mesma quantidade de janelas. Aquilo já me fazia vomitar de tão sem vida que era aquela rua, se é que eu poderia chamá-la assim, pois alí não passava um carro e pouquíssimos gatos miados caminhavam nas calçadas. Era ali, número 277.

Toquei na porta e duas pessoas me atenderam. Uma delas o meu pai, com um sorriso no rosto. A outra, aquela velha peçonhenta, com um falso semblante de alegria.

- Molly, minha filha! Há quanto tempo princesinha! Como você está grande meu amor! - disse meu pai, vindo em minha direção com os braços abertos e me envolvendo com eles em seguida.

- Pois é pai. - eu disse, seca e sem emoção, não correspondendo seu abraço. Ele me largou, ainda com um sorriso que se desmanchava aos poucos e eu caminhei mais a frente.

- Deixa que eu carrego as suas malas. - ofereceu pegando-as de minhas mãos. Poxa, parabéns hein! Você realmente se importa bastante.

- Tá. - respondi friamente.

- Olá querida! Tudo bem? Ainda não nos conhecemos. Sou Evellyn, prazer em conhecê-la. - disse com um sorriso falso em seu rosto, estendendo sua mão.

- Estou bem. - ignorei sua mão e sua apresentação, sorrindo com desdém nítido. Simplesmente passei por ela, adentrando a casa.

Era uma casa com dois andares. Parecia um tanto pequena e amontoada para mim, mas tanto faz. Não pretendo ficar aqui por muito tempo mesmo. Passei pela sala, onde havia um garoto que parecia ter a minha idade esparramado no sofá, jogando vídeo game.

- Nathan, esta é a Molly, sua nova irmã. Ela é só um ano mais nova que você, então espero que vocês se deem bem. - apresentou-nos meu pai, subindo com as malas.

-Eae. - o garoto disse, sem tirar os olhos da tela do jogo.

Não respondi nada, apenas segui meu pai, subindo as escadas. Ele não iria ouvir uma palavra do que eu dissesse mesmo, então era melhor guardar minha voz, porque se tem uma coisa que detesto é gastar saliva a toa.

Ele se dirigia a uma porta que estava bem ao final das escadas. Rodou a maçaneta e adentrou um cômodo um tanto quanto pequeno. Lá as paredes possuíam um irritante tom rosado, que me incomodavam os olhos. Também havia uma cama, um armário e uma escrivaninha.

- Ainda não está muito bem decorado, mas você pode pedir o que quiser, está bem? - explicou suavemente, colocando as malas no chão.

- Tá bom. - respondi.

- Err..vou te deixar sozinha agora. Se precisar de alguma coisa estarei lá em baixo, tudo bem? - avisou, como se estivesse pisando em um terreno perigoso, perto de desabar.

- Ótimo. - balbuciei, virando-me e jogando minhas malas em cima da cama, que possuía uma colcha felpuda de uma tonalidade vinho, ouvindo o som da porta se fechando atrás de mim. Isso ele acertou, eu adorava a sensação desse cobertor, parecia um gato. Era muito aconchegante. E a cor também era muito bonita.

Peguei um livro e coloquei meus fones de ouvido, para que nenhum ruído me distraísse da minha leitura. Passei algum tempo ali, parada. Lendo e devorando cada deliciosa página daquele livro de mistério. Até que ouvi a porta se abrir novamente.

- Poderia tocar antes de entrar? - perguntei com uma feição aborrecida quando percebi que quem incomodava meu momento de leitura era Nathan.

- Foi mal garota. Eu só queria dar uns recados para você. - aquele jeito de sabichão como ele falava me irritava demais. Ele fechou a porta atrás de si e caminhou até minha cama, sentando-se nela em seguida.

- Primeiro, eu tenho nome. Segundo, que tipo de recado? - perguntei com desdém.

- Do tipo informativo. Bom, primeiro de tudo, minha mãe já te matriculou no meu colégio e suas aulas começam amanhã. Queria avisar que você não me conhece no colégio, tudo bem? Não sou se amiguinho e eu não ligo se você sentar sozinha na mesa do refeitório, você não falará comigo nem com os meus amigos. Não, nem preciso te avisar isso, porque estou na classe dos veteranos e não se atrevem a falar conosco a menos que seja convidado. Mas como você não é daqui, vai saber.. - explicou, com uma voz irônica e tom audacioso. Era muito corajoso de falar assim comigo. Pobre coitado, não me conhece!

- Pode ficar tranquilo, isso não passou pela minha cabeça nem em um milésimo de segundo. - sorri debochada.

- E mais uma coisa... Depois de amanhã minha mãe e seu pai vão fazer uma pequena viajem de dois dias. Eu vou dar uma festa aqui em casa, só para os veteranos. Não conte nada, não atrapalhe ou se meta no que não é chamada e eu te deixarei em paz. - alertou com um certo tom ameaçador, que claramente não surtiu efeito em mim.

- Não esquenta, não pretendo nem sair do meu quarto. - respondi, revirando os olhos e depois voltando-os novamente para o livro.

- Perfeito. Agora que já está avisada, vou te deixar sozinha. - declarou, levantando-se da minha cama.

- Agora, eu vou te falar uma coisa e você vai ouvir. - disse, colocando meu livro do lado e levantando da cama também, me posicionando bem em frente a ele.

- Vá em frente. - soltou um riso irônico.

- Se você acha que eu estou "obedecendo" você, sinto muito, mas está ridiculamente enganado. Simplesmente aconteceu de seus interesses baterem com os meus. Agora eu acho bom você não vir me ameaçar novamente, porque se eu ouvir um tom intimidador sequer, eu não vou ter dó de um garoto de dezoito anos de idade, que precisa que a mamãezinha saia da cidade para poder beber um pouco de cerveja e agir como se fosse o garoto mais louco do pedaço só para poder se achar para os amiguinhos melequentos e comer alguma vadiazinha. Isso é brincadeira de criança pra mim, bobão. Quando tiver algo de verdade que me interesse, não vou ficar no meu quarto. Mas pelo jeito vai demorar, porque só tomando um porre para aguentar essa cidadezinha miserável e seus adolescentes ridículos que se acham muito fodas por tomar energético misturado com uma dose de vodka. E não entra de novo sem bater na porta! - metralhei sem pausa, gesticulando e apontado na sua cara sem parar. Seus olhos pareciam surpresos e receosos. Ele apenas assentiu com a cabeça e saiu do quarto.

O inferno acabara de começar. E eu que achei que estava dentro dele há muito tempo. Besteira! Eu estava caindo em um poço que abre caminho para essa merda toda. Não sei se vou conseguir aguentar um ano sequer nesse lugar.

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queria dizer que o nosso Hazza vai aparecer no próximo capítulo. Este foi um mais explicativo para vocês entenderem melhor as coisas.

Beijos da autora!



Broken Girl   I H.S IOnde histórias criam vida. Descubra agora