20 de Novembro 19h01

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"A cama está ficando fria e você não está aqui
O futuro que temos é tão incerto
Mas eu não vivo enquanto você não me ligar
E vou apostar contra tudo que dará certo"

Selena Gomez, The Heart Wants What It Wants

xxx

Morgana

As lembranças da noite anterior vinham e voltavam na cabeça de Morgana. Não se orgulhava do feitio, sinceramente, e todas os dias posteriores eram tão conturbados quanto tsunami em copo d'água. Sentia-se profundamente suja e usada; martirizava-se pensando que aquele era o preço a se pagar pelo prazer. Ou "quase-prazer" ou esquecimento temporário. O apartamento luxuosamente mobiliado significava nada diante dos conflitos travados entre Morg e sua mente. E essas duas fortes guerreiras apenas concordavam em uma coisa: tinham que achar uma saída imediatamente.

E a saída tinha nome, sobrenome, endereço e principalmente celular.

Levantou-se num pulo do confortável sofá, impulsionando o corpo com um movimento de pernas sincronizado. Morgana alcançou o iPhone, que estava sobre a mesa, com tamanha rapidez que qualquer lebre sentiria inveja. A mulher não pensou em nenhum segundo, apenas o desbloqueou e seguiu para as mensagens. Aliás, não tinha o quê pensar; a necessidade falava mais alto do que qualquer outro ego de sua mente. Ela quase poderia ver a reação do homem ao ler aquela mensagem infantil e desesperada, ele, com toda certeza, arquearia uma sobrancelha e, logo após, sorriria com o canto direito da boca. Nos próximos segundos, a morena receberia uma mensagem que a faria gargalhar alto e só então poderia descansar, pois sabia que ele estava a caminho e todos os males evaporariam.

Hesitou, porém, antes de enviá-la. Leu e releu pelo menos umas trinta vezes, ensaiando o tom de voz como se ele pudesse ouvir sua voz ao sobrepor os olhos sobre as letras maquinalmente grafadas. Enfim, enviou, releu outra vez, no entanto, buscando um pouco de tranquilidade ali.

Preciso de uma sessão de vinho e "Jane, the Virgin". A pipoca é por minha conta.

Fora em vão, ainda mais porque o cara não demorou os acostumados dez segundos para responder. Ele não respondeu. A série acabou. A pipoca virou um amontoado de pedaços de borracha fria.

Sentiu-se infinitamente vazia. Ele não viria. Não era costume do homem recusar qualquer entretenimento ao seu lado e muito menos não responder uma mensagem sua. E o que aquele silêncio todo poderia significar? A verdade é que Morgana estava desacostumada a lidar com a solidão e/ou qualquer outro tipo de dor psíquica, e o homem estava acostumadíssimo a livrá-la das malditas. Não naquele dia, entretanto. Já passavam das 21h30. E nada do homem.

Enfiou o celular debaixo das almofadas e esparramou o corpo pelo sofá. Suas pernas definidas estavam cruzadas sobre o braço do móvel e um dos antebraços tampava estrategicamente os olhos negros da mulher. O vestido amarrotado delineava a cintura fina com curvas precisas e sensuais, as quais chamavam atenção excessiva, e finalizava-se em um decote "v" com duas alças finíssimas. Encarava o teto sem emoções ou pensamentos, estava, verdadeiramente, vazia e... Sozinha. Teria que lidar com a dor cara a cara e não poderia ceder nem ao choro nem a solidão. Grande garota! Grande garota! Grande Merda de Garota! Grandes Merdas de garotas não choram!

Morgana ajeitou a postura no sofá de couro preto e sentiu o peso da solidão tomando-a novamente. O cheiro do perfume francês caríssimo havia sumido como mágica, a sua pele queimava e ardia com o passar dos segundos. Tentava sem sucesso respirar fundo e não entregar ao choro seu último fio de orgulho quando um cheiro conhecido perturbou suas narinas e o vento a fez correr para a janela mais próxima. Chuva.

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