Capítulo Dois - Parte Cinco

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CONTINUAÇÃO DO FLASHBACK

Ele levou a mão aos cabelos, bagunçando-os, com sentimentos ambíguos o perturbando-o de uma maneira desesperante.

― Acredite, não foi fácil. ― olhou-a, com uma expressão de quem pôs tudo a perder, o que divertiu a morena. ― Uma parte de mim ― apontou para suas áreas íntimas, fazendo-a gargalhar mais que anteriormente. ― queria que ela ficasse. E eu estava a ponto de segui-la. Mas pra que desperdiçar uma noite com a minha amiga Bertha se eu posso ter Lúcia todos os dias? Disse pra ela que eu estava com enxaqueca e não poderia me divertir essa noite. Ficou magoada, principalmente depois que eu disse que era melhor ela me deixar sozinho e aparecer amanhã, pra me fazer companhia. ― enganchou o braço no ombro de Bertha, ambos úmidos por causa da chuva.

― Você é um vagabundo, sabia?

― Sim. ― sorriu.

― Bom, agradeço novamente o convite, mas eu estou toda molhada e preciso tomar um banho. Nos falamos amanhã.

― Eu tenho um banheiro, sabia? Você pode tomar lá.

― Thomas, você é um pervertido, o que faz com que eu não queira me arriscar a ficar um segundo em um chuveiro com você por perto. E, além do mais, tenho uma banheira na minha casa. Por que trocaria uma Ferrari por um Fusca, hein?

― Hm, banheira. ― sorriu, malicioso.

― Boa noite, Thomas. ― tirou o braço dele de si e abanou, dando passos para trás.

― Agora que eu dispensei Lúcia você resolve me deixar pra escanteio também?

― Vai ter que ser assim, gato. ― ironizou, utilizando a palavra que ele falava com tanta frequência.

― Mulheres. ― grunhiu, saindo do quintal de Bertha e batendo o portão.

Bertha. então, conseguiu dirigir-se ao banho; um quente e relaxante banho. Depois, foi até seu quarto, preparada para uma noite regada a filmes, acalentada pelo calor emanando do seu cobertor e com a chuva sendo sua fiel escudeira. O programa perfeito. Porém, além da chuva, quem lhe fazia companhia era Thomas.

Da janela da sala de Thomas, rente ao quarto da garota, no térreo, ele a observava, apenas de bermuda, mostrando o peitoril com ênfase em seus inúmeros músculos. A vontade de fechar a cortina era descomunal, principalmente ao vê-lo deitar no sofá, obviamente para espiá-la durante a noite. Mas não conseguia.

― Droga, Bertha, o que você está fazendo? ― resmungou, fechando a cortina. Depois, colocou os chinelos de dedo e saiu porta afora, em plena chuva.

Thomas, transtornado pelas cortinas fechadas na casa ao lado, acabando com seu plano de provocação, preparava-se para subir as escadas e ir ao seu quarto, quando escutou batidas insistentes na porta. Abriu-a e viu a morena, encharcada do lado de fora, mesmo que fossem poucos passos de um quintal para o outro.

― Achei que não viria. ― disse ele, presunçoso.

― Cala a boca. ― falou ela, entrando. Antes que ele pudesse continuar a se gabar, Bertha puxou-o contra si e envolveu seus lábios no dele, sendo retribuída por fatal estímulo vindo de Thomas.

Em passos trôpegos, envoltos na flama que ardia entre os beijos, perambularam entre os cômodos da casa, sem um rumo distinto. Os corpos enlaçados realizavam gestos simétricos que não pareciam ter fim, como uma dança, elaborada com objetivos contrastantes; enquanto ele a deliciava com o deleite da vitória, ela contentava-se em afogar a paixão proibida a que fora sucumbida ― se é que aquele súbito interesse pudesse ser chamado de paixão. Assenhorava-se do físico, mas, felizmente, estava longe do psicológico.

Ao se estabelecerem no sofá, um olhou ao outro, de cima a baixo. Ela castigando-se mentalmente, questionando a si mesma como chegara ao ponto de se expor àquele homem ignorante, cujas ações se baseavam em utilizar mulheres como objetos, beber como se estivesse no deserto e sua única opção fosse engolir os destilados à sua frente, e fumar, como se os males que adentravam seu pulmão substituíssem o oxigênio. Não importava, naquele momento. Estava lá, com ele, agora. Deixara sua cama confortável sabendo o que viria a acontecer quando cruzasse o gramado vizinho.

Thomas, sem a capacidade de reflexão que a morena possuía, apenas pensava no que viria abaixo daquele pijama, tão recatado e ao mesmo tempo tão provocativo. Misterioso, escondia todas suas sinuosidades, deixando um imenso espaço para a mais fértil imaginação. Fixou as mãos na cintura da moça, colocando delicadamente ― raro para um homem como ele, apressado e sem a mínima vontade de fazer rodeios ― seus dedos abaixo da blusa azul marinho de Bertha. Passou-a sobre as costas da jovem, causando arrepios inexplicáveis na espinha. Com a outra mão, acariciava a barriga, feita de uma tez macia e branca como a sua pintura de parede. Bertha arquejava, os olhos fechados. As unhas deixavam marcas levemente avermelhadas pelo peitoril que antes admirava pela janela de sua casa, dois finos vidros os separando. E as questões, que antes lhe perseguiam, sumiram. Droga, difícil admitir, mas não se arrependia de ter perdido sua boa noite de sono para entrar na toca do diabo. Assim como ele se alegrava cada vez mais de ter enganado Lúcia uma última vez para gozar do fruto proibido. Eram uma versão desregrada de Adão e Eva. Sem Eva. Apenas o fruto e Adão.

Pretério ImperfeitoOnde histórias criam vida. Descubra agora