Capítulo Dois - Parte Três

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CONTINUAÇÃO DE FLASHBACK

― Você é uma mentirosa. ― falou, emburrado, demonstrando o quanto estava bêbado.

― É? ― Bertha rolou os olhos, segurando a risada. ― Por quê?

― Você não foi na minha mesa.   

― Já te disse que a Bertha não estava lá, não disse? Quem estava lá era uma mera personagem. E, bem, não ir à sua mesa foi uma vingança pessoal pela tortura psicológica que você me fez passar no dia em que viu que era eu a dançarina. Mas nem adianta lhe explicar porque amanhã você não vai se lembrar de mais nada mesmo, então é melhor deixar pra lá.

― Preciso vomitar. ― falou ele, caindo de quatro no chão.

― Longe de mim. ― Bertha deu passos rápidos, afastando-se dos jorros que saíam da boca de Thomas.

― Obrigado pela ajuda, queridinha. ― bravo, continuou a vomitar.

― Não a de quê. 

Batucando o pé no chão, enquanto Thomas continuava acocorado, Bertha fitou impaciente seu relógio de pulso.

― Pretende vomitar a noite inteira?

― Isso não é algo que se planej... ― interrompeu a palavra para mais uma golfada sair de sua boca. Já um pouco reestabelecido, levantou-se paulatinamente, ainda cambaleando. ― Sem falar, ― continuou, erguendo o dedo indicador e tentando coloca-lo rente à minha face ― que você não tem obrigação nenhuma de ficar aqui comigo. Está por que quer.

― Claro, irei ir pra casa e deixarei você entrar em coma alcoólico ou ser atropelado. Aí só ficarei culpada pelo resto da vida. Só isso. ― agarrou o braço de Thomas e arrastou-o para a calçada.

― Eu não preciso de babá. ― resmungou ele, como uma criança deprimida.

― Vamos, Thomas, não reclame. Não sei se você viu, mas vai chover. Então apure, porque se não, além de ressaca amanhã terá gripe. E eu também, por ter uma alma tão bondosa.

― Nossa! ― exclamou ele, boquiaberto. ― Alma bondosa. Claro, Bertha.

Ignorando-o, Bertha continuou o trajeto, carregando o dobro do seu peso sobre os braços até alcançarem a porta da casa de Thomas. Largando-o, suspirou de alívio, movimentando os ombros para frente e para trás, tentando ignorar a dor.

― A partir daqui você consegue se virar sozinho. Boa noite. ― começou a caminhar rumo ao seu próprio lar, mas mais uma vez, seus planos foram interrompidos por aquele homem beberrão.

― Não vá! ― implorou ele, com um beiço gigantesco. ― Eu não vou conseguir dormir, preciso de alguém pra conversar.

― Claro que não! ― falou ela, concisa. ― Tchau, Thomas.

― Por favor. ― prolongou a última palavra. ― Prometo me comportar. Vamos, Bertha. Por favor, por favor, por favor.

Absorta, pensou por alguns momentos, depois suspirou e murmurou:

― Eu vou para o céu, ô se vou.

― Isso é um sim? ― sorriu ele.

― Com uma condição.

― Qual? ― perguntou.

― Eu ficarei com a sua cama e você vai ficar com o sofá.

― Mas o sofá é duro. ― mais uma vez, agiu como uma criança.

― Não me interessa. Você quer alguém pra conversar ou não, seu bêbado?

― Tudo bem. ― grunhiu, tentando acertar a chave no buraco da fechadura.

― Só uma pergunta. ― disse Bertha. ― Onde está a sua namorada?

Ele deu de ombros.

― Não sei. Aqui é que não está.

― Você não presta. ― falou a moça, tão baixo, que Thomas não foi capaz de escutar.

O negror abocanhava a casa, enquanto Bertha tateava à procura do receptor de luz, já que o dono do local, envolto em nuvens alcoólicas, não conseguia lembrar a própria localização de seus pertences. Após poucos minutos de busca, Bertha conseguiu ligar as luzes, fazendo os olhos de ambos arderem com a súbita claridade.

Subiu as escadas e seguiu pelo pequeno corredor, abrindo cada uma das três portas, de modo a descobrir qual delas revelaria o quarto de Thomas.

A primeira mostrou pertencer ao banheiro, a segunda um quarto repleto de tralhas (agora ela sabia o porquê da casa ser tão limpa), assim como uma cama e um pequeno armário. Pelo estado do quarto, há algum tempo inabitado, sabia que este era do pai de Thomas. Fechou a porta, tentando não fazer barulho, e entrou no último quarto.

― Oi, bebezinho. ― uma voz melosa enunciou, ao mesmo tempo em que Bertha ligou a luz.

Encontrou, sob a cama, uma mulher, beirando os vinte anos como ela, vestida em uma lingerie vermelha, os cabelos ruivos presos em um coque. A mulher, ao ver que não fora o “bebezinho” que aparecera no quarto, levantou a face demonstrando um misto de indignação com raiva.

― Quem é você e o que faz aqui? ― berrou, exaltada.

Pretério ImperfeitoOnde histórias criam vida. Descubra agora