A província de Messina foi tomada por uma tempestade que se prolongava por mais de um mês. As mudanças nos primeiros dias de temporal foram mínimas, com a maior parte da população ainda executando suas tarefas diárias. Alguns reclamavam da quantidade de água tombando dos céus, mas continuavam exercendo suas funções.
Alguns patrões passaram a liberar parte de seu efetivo a partir da segunda semana de chuvas. A diminuição da oferta não era prejudicial, uma vez que a demanda também havia sido reduzida devido à situação.
Com um mês de chuva, as silhuetas dos transeuntes tornaram-se raras. A queda d'água ininterrupta transformou-se em um incomodo notável quando os sujeitos passaram a sair de casa apenas em última ocasião.
Os Basilios eram uma rica família, dona do castelo localizado no limite da província de Messina. A moradia situava-se ao norte, nos remotos penhascos de Nevila.
Já acostumados ao isolamento devido à distância da sociedade, os Basilios não haviam sido muito afetados por todo esse caos, uma vez que partilhavam sua morada com empregados encarregados de diversas tarefas.
Abele Basilio foi acostumada com sua moradia sempre cheia, mas toda aquela inquietação sempre a incomodou. Percebendo que o temporal não terminaria tão cedo, decidiu usar a chuva como inspiração. A tempestade abafaria a agitação de sua casa, permitindo-a escrever sem ser distraída pelo barulho.
Consolata, a ama, além de ser a única leitora dos textos de Abele, conhecia a jovem como ninguém, e como sempre fazia, levou até o quarto da jovem escritora uma nova pena de ave, tinta para escrever e papiro.
Em um dos cantos do quarto de Abele, encontrava-se a mesa de madeira onde ela escrevia suas histórias. A mesa era bem simples e organizada, contendo apenas papiros, tinta, pena e um candelabro com velas que se esforçavam para iluminar a escuridão do local. Abele gostava daquela posição pois tinha acesso à janela da qual contemplava o horizonte enquanto apurava o rumo que a narrativa iria tomar.
Consolata deixou os pertences em cima da mesa e foi em direção à saída, carregando consigo um castiçal aceso.
Abele sentou-se.
- O que gostarias de ler, Consolata?
A menina interrompeu a saída da ama.
- O que quiseres escrever, jovem Abele.
- Escolha um estilo.
- Algo amedronta...
Consolata foi interrompida por um relâmpago que iluminou todo o quarto. Abele olhou para sua ama e sorriu.
A tempestade seria uma ótima inspiração.
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Taciturno
Bí ẩn / Giật gânUm temporal sem fim toma conta da província de Messina. A jovem Abele, uma escritora aspirante, decide aproveitar-se da chuva como fonte de inspiração para escrever sem ser distraída por sua agitada família. O que parecia ser mais uma habitual noi...