2 Abele

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 A menina ouviu o barulho da porta fechando atrás de si e respirou aliviada. Finalmente se sentiu sozinha. A porta fechada em conjunto com o som da chuva fariam um ótimo serviço ocultando quase que completamente o barulho das pessoas de sua casa.


Ajoelhem perante sua rainha.


 Essa foi a primeira frase que surgiu no papiro diante de si. Ela não sabia o que aquilo queria dizer mas usaria como ponto de partida e, como um raio repentino, a ideia veio. Decidiu que essa primeira frase seria o título.


O império de reis e rainhas são fundados na extensão de suas terras e na magnitude de seus bens. O reinado de Siobhan não respeitou esse princípio.


 A animação tomou conta de Abele. Ela já conseguia imaginar toda a história. Era uma pena suas mãos não conseguirem acompanhar a velocidade de sua imaginação.

 Pegou um segundo papiro e anotou algumas palavras avulsas. Essa era sua forma de se lembrar de ideias para usar no decorrer de seu texto.


Contos acerca dos talentos extraordinários de Siobhan espalharam-se e em pouco tempo ela se tornou uma lenda.

Dizia-se que Siobhan possuía um dom inacreditável, um poder absurdo, e isso acabou contribuindo para que a verdade por trás dela mergulhasse em cepticismo.

Mas mesmo com a descrença de que tal ser pudesse ser real, boatos circulavam dando a credibilidade necessária para que sua existência fosse temida.

Boatos como o de pessoas que foram em busca de Siobhan e nunca mais voltaram.


 Abele tinha o costume de inovar em suas escritas, sempre deixando sua mão conduzir o texto. Por muitas vezes ela descobria a história enquanto escrevia, sendo tanto a autora quanto a leitora, mas essa história despertou seu interesse como nunca antes. A jovem escrevia com vigor, queria descobrir logo quem era essa personagem.


Rónán havia acabado de perder seu irmão.

Naquela noite, viajantes bêbados estavam à procura de confusão e encontraram.

Infelizmente aquela estrada não era muito movimenta e Rónán, sozinho, foi incapaz de proteger seu irmão dos dois vagabundos.

Além de bêbados, os dois eram também covardes e fugiram assim que perceberam que um dos rapazes não respirava mais. Eles deixaram Rónán desolado junto ao falecido.

O pobre rapaz levantou o corpo imóvel de seu irmão e o carregou nos ombros. Ele não estava preparado para perder seu melhor amigo.

Ia descobrir se Siobhan realmente existia. E se existisse, iria exigir a prova de que seus poderes eram realmente reais.


 A filha dos Basilios sorria enquanto lia e escrevia ao mesmo tempo, mas um trovão a despertou de sua história. Foi quando notou sua ama abrindo a porta de seu quarto.


— Perdão, jovem Abele, mas não respondeste ao meu chamado — disse segurando a porta em uma mão e o castiçal na outro, com seu corpo ainda do lado de fora do quarto.

— Tudo bem. O que aconteceu?

— Viste vossa mãe?

— Hoje não.

— Vossa mãe foi à biblioteca buscar um livro e desapareceu. Ninguém a encontra.

— Deve ter se afastado justamente para ficar em silêncio — disse com certa impaciência.

— Perdão, jovem Abele — respondeu fechando a porta.

— Tudo bem, Consolata — disse e respirou profundamente. — A propósito, vais gostar da história.

— Tenho certeza que sim, jovem Abele — respondeu e fechou a porta.






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