A menina ouviu o barulho da porta fechando atrás de si e respirou aliviada. Finalmente se sentiu sozinha. A porta fechada em conjunto com o som da chuva fariam um ótimo serviço ocultando quase que completamente o barulho das pessoas de sua casa.
Ajoelhem perante sua rainha.
Essa foi a primeira frase que surgiu no papiro diante de si. Ela não sabia o que aquilo queria dizer mas usaria como ponto de partida e, como um raio repentino, a ideia veio. Decidiu que essa primeira frase seria o título.
O império de reis e rainhas são fundados na extensão de suas terras e na magnitude de seus bens. O reinado de Siobhan não respeitou esse princípio.
A animação tomou conta de Abele. Ela já conseguia imaginar toda a história. Era uma pena suas mãos não conseguirem acompanhar a velocidade de sua imaginação.
Pegou um segundo papiro e anotou algumas palavras avulsas. Essa era sua forma de se lembrar de ideias para usar no decorrer de seu texto.
Contos acerca dos talentos extraordinários de Siobhan espalharam-se e em pouco tempo ela se tornou uma lenda.
Dizia-se que Siobhan possuía um dom inacreditável, um poder absurdo, e isso acabou contribuindo para que a verdade por trás dela mergulhasse em cepticismo.
Mas mesmo com a descrença de que tal ser pudesse ser real, boatos circulavam dando a credibilidade necessária para que sua existência fosse temida.
Boatos como o de pessoas que foram em busca de Siobhan e nunca mais voltaram.
Abele tinha o costume de inovar em suas escritas, sempre deixando sua mão conduzir o texto. Por muitas vezes ela descobria a história enquanto escrevia, sendo tanto a autora quanto a leitora, mas essa história despertou seu interesse como nunca antes. A jovem escrevia com vigor, queria descobrir logo quem era essa personagem.
Rónán havia acabado de perder seu irmão.
Naquela noite, viajantes bêbados estavam à procura de confusão e encontraram.
Infelizmente aquela estrada não era muito movimenta e Rónán, sozinho, foi incapaz de proteger seu irmão dos dois vagabundos.
Além de bêbados, os dois eram também covardes e fugiram assim que perceberam que um dos rapazes não respirava mais. Eles deixaram Rónán desolado junto ao falecido.
O pobre rapaz levantou o corpo imóvel de seu irmão e o carregou nos ombros. Ele não estava preparado para perder seu melhor amigo.
Ia descobrir se Siobhan realmente existia. E se existisse, iria exigir a prova de que seus poderes eram realmente reais.
A filha dos Basilios sorria enquanto lia e escrevia ao mesmo tempo, mas um trovão a despertou de sua história. Foi quando notou sua ama abrindo a porta de seu quarto.
— Perdão, jovem Abele, mas não respondeste ao meu chamado — disse segurando a porta em uma mão e o castiçal na outro, com seu corpo ainda do lado de fora do quarto.
— Tudo bem. O que aconteceu?
— Viste vossa mãe?
— Hoje não.
— Vossa mãe foi à biblioteca buscar um livro e desapareceu. Ninguém a encontra.
— Deve ter se afastado justamente para ficar em silêncio — disse com certa impaciência.
— Perdão, jovem Abele — respondeu fechando a porta.
— Tudo bem, Consolata — disse e respirou profundamente. — A propósito, vais gostar da história.
— Tenho certeza que sim, jovem Abele — respondeu e fechou a porta.
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Taciturno
Misterio / SuspensoUm temporal sem fim toma conta da província de Messina. A jovem Abele, uma escritora aspirante, decide aproveitar-se da chuva como fonte de inspiração para escrever sem ser distraída por sua agitada família. O que parecia ser mais uma habitual noi...