Capítulo II

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Desde a chegada dos cavalheiros, as damas da casa puderam experimentar de conversas mais variadas, leituras noturnas de poesias, peças musicais tocadas ora pela baronesa e ora pela senhorita Holbrook. Louisa sentia o gostinho de uma quase vida em sociedade com sentimentos ambíguos: a felicidade por sua família permitir que desfrutasse dos eventos dentro da casa e a angustia ao ser deixada sozinha em casa quando os tios e o irmão atendiam eventos externos como bailes, óperas e idas ao teatro. Não era uma clausura, pois era convidada desta ou daquela família para eventos mais privados com uma variedade menor de convidados. Apesar destas condições adversas decorrentes da cor da sua pele, Louisa não perdia o fogo que carregava nos olhos amendoados e nem o brio que os pais a ensinaram ter. Não se deixava abater com os olhares excludentes, nem esmorecia com os comentários indiscretos, mantinha seu caminhar altivo, suas maneiras nobres e cordiais, seu impecável vestir e seu eterno riso discreto sempre dançando no cantinho dos lábios.

Naquela noite, enquanto se perdia em pensamentos, Louisa esperava na sala de estar os cavalheiros terminarem de beber o vinho do Porto. Ela estava ansiosa, pois o irmão dissera que precisava falar com ela em particular. Durante a espera, tentou medir as nuances do tom de voz usado por Alexander para ter uma prévia do tema abordado na conversa. Alex usara aquele tom descontraído e confidencial que sempre tinha com a irmã quando recebia notícias dos pais, que viviam na Jamaica, ou quando estava enamorado por uma nova moça. Como nenhum nome fora citado nas cartas, ela concluiu que ele, certamente, falaria algo sobre o senhor e a senhora Holbrook.

O coração dela deu um pequeno salto quando as portas da sala de jantar se abriram e os cavalheiros saíram do recinto. O último deles era Alexander que, ao contrário dos demais, não se sentou, mas fez um pequeno movimento com a cabeça para a irmã.

- Louisa, será que podemos conversar agora? – perguntou Alexander à irmã atraindo os olhares dos demais.

- Ah, claro, claro – respondeu a jovem irmã levantando-se e indo ter com o irmão, que se dirigiu ao escritório do barão. Durante a curta trajetória até gabinete do tio, ela pode perceber que lord Lochfergus guardava um sorrisinho nos lábios dirigido a si e aquele pequeno sinal lhe atiçou ainda mais a curiosidade. – Agora vamos, Alex, diga logo o motivo de tanto segredo? – questionou assim que entrou no recinto – Algo aconteceu com mamãe e papai?

- Não...não...nada aconteceu com eles. Eles estão bem, diga-se de passagem – tranquilizou o irmão com voz macia indicando que ela se sentasse. Alexander aguardou que a irmã se acomodasse e se sentou ao lado dela – O assunto não tem a ver com eles. Bem... – ele fez uma pausa enquanto procurava algo no bolso interno do paletó. – Ah, aqui está! – exclamou retirando um papel, aparentemente uma carta, de dentro do paletó. – Recebi isto. Leia, por favor.

Ela lançou um olhar desconfiado para Alexander que depositara a carta no colo da irmã. Com delicadeza, ela abriu o papel e leu o conteúdo em silêncio, expressando pasmo e surpresa a cada palavra que lia. Por fim, Louisa entregou a carta ao irmão sem encará-lo.

- Você vai aceitar? – perguntou olhando um quadro pendurado acima da ladeira onde o tio e a tia estavam ricamente retratados em trajes escoceses. – Vai aceitar o mesmo posto que foi do papai no Brasil?

- É uma boa oportunidade... – Alexander respondeu com um suspiro inseguro – Mas queria saber o que você acha, Louisa?

- Eu? – ela se voltou para o irmão com uma das sobrancelhas arqueadas sem entender porque um homem perguntaria a uma jovem o que fazer. – Bem, Alex...a decisão é sua. Irei apoiá-lo se quiser partir para lá... – uma nota triste poderia ser percebida na voz de Louisa ao dizer essas últimas palavras.

Sob o signo do café (PRÉ-VENDA NA AMAZON A PARTIR DE 29/4)Onde histórias criam vida. Descubra agora