Capítulo 14

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Olhei à minha volta, mas a ausência de luz era demasiada para eu conseguir ver onde estava. Procurei por um interruptor ao longo das paredes, no entanto não encontrei nada.

Do nada uma luz ligou-se, era um pequeno candeeiro branco que estava encostado a um dos quatro cantos deste espaço. Aproximei-me dele e observei-o de perto, nada disto faz sentido. Um barulho atrás de mim fez-se ouvir, e, quando me virei, uma rapariga olhava-me fixamente, começando a rir -se na minha cara. A ela juntaram-se muitos mais adolescentes e quando me apercebi estavam todos a rirem-se de mim. Agarrei a minha cabeça com as duas mãos e tapei os ouvidos tentando abafar ao máximo todos aqueles risos.

"Isto não é real. É apenas um pesadelo." Comecei a repetir muitas vezes e, do meio da multidão um rapaz de caracóis aproximou-se de mim abraçando-me.

"Por favor acorda, estás a assustar-me"

Abri os olhos e a minha respiração estava descontrolada, sentia-me demasiado quente embora confortável com os braços dele à minha volta. Olhei nos seus olhos e vi que ele próprio conseguia ver o terror no meu olhar.

"O que é que aconteceu?" Perguntei apesar da secura que eu sentia na minha garganta, tornando a minha voz extremamente rouca.

"De repente começas-te a tremer e a dizer coisas que eu não percebi, estavas mesmo a assustar-me."

"Foi só um pesadelo" Respondi tentando acalmar a dor no meu peito.

Ele apertou-me mais ainda e deixou um beijo na minha testa.

"Onde vais?" Perguntei calmamente

"Fazer o nosso pequeno almoço" Ele sorriu e saiu do quarto. Peguei no meu telemóvel e já são quase 10 a.m. o que significa que dormi imenso.

Naveguei pelas minhas redes sociais e tentei passar o tempo ocupada para não me lembrar da fome que sentia.

Harry entrou no quarto cerca de 30 minutos depois com um tabuleiro que continha um sumo de laranja natural, um café e torradas.

"Hum, pequeno almoço na cama" Disse divertida.

"Não te habitues" Ele disse enquanto se sentava à minha beira.

O pequeno almoço correu bem, ele estava sempre a roubar-me rápidos beijos e bocados da minha torrada.

O meu telemóvel começou a tocar e atendi enquanto o Harry arrumava as coisas dele.

"Charlotte preciso que venhas aqui" Steve falou num tom irónico.

"Hoje é sábado, tenho a certeza de que esse assunto pode esperar 24 horas." Respondi da mesma maneira.

"Se não queres perder o teu lugar é bom que chegues aqui dentro de uma hora"

Dito isto ele desligou-me a chamada deixando-me furiosa. Despi a t-shirt preta do Harry e deixei-a na cama enquanto corri até à casa de banho para tomar um banho rápido.

Enquanto tomava banho, o Harry abriu a porta lentamente e ficou a olhar para mim.

"Onde vais?" Perguntou suavemente.

"Tenho de ir ao club"

"Eu vou contigo" Dito isto, ele tirou a roupa e entrou na banheira.

"Harry, eu tenho uma hora para lá estar"

Ele assentiu e ambos tomamos um banho juntos o mais rápido que conseguimos. Vestimo-nos e ele conduziu-me até ao carro dele.

A viagem foi feita em silêncio, não um silêncio constrangedor, mas um silêncio confortável.

Um arrepio percorreu o meu corpo. Amaldiçoei-me mentalmente por me ter esquecido do casaco.

Entrei rapidamente deixando o Harry para trás. Os olhares voltaram se para mim e eu tive a confirmação de que alguma coisa de errado se andava a passar. Steve encontrava-se no seu escritório sentando na sua grande cadeira de couro preto.

"Eu sabia que vinhas" Ele afirmou convencido de que era dono da razão, mas na realidade que hipóteses é que eu tinha.

"Diz de uma vez por todas o que queres porque eu tenho mais que fazer na minha folga"

"A senhora manda. Eu quero que tu comeces a trabalhar na zona vip"

"Não" A minha resposta foi curta e seca demonstrando que o que ele estava a dizer não era sequer uma hipótese.

"Mas tu já o fizeste, achas que eu não vi na sala no outro dia" Fodasse, eu esqueci-me que tinha feito uma lap no clube ao Harry.

"Eu não vou para a zona vip" Ele aproximou-se lentamente de mim e raiva começava a fervilhar no meu interior. Fechei os olhos para me tentar acalmar e foi a pior decisão que eu alguma vez tomei. As mãos dele estavam a prender as minhas com uma corda áspera que me magoava imenso os pulsos.

"Eu avisei-te que não ia ser à tua maneira, vai ser à minha." Eu não me consigo mexer e não consigo defender com as mãos amarradas nas minhas costas. Preciso de parar e pensar. Provavelmente ele trancou as portas do escritório e atrás das mesmas deve estar no mínimo dois seguranças. Olhei à minha volta enquanto ele mordia o meu pescoço e começava a ser difícil de me concentrar com um homem de meia-idade a tentar violar-me.

Conseguia sentir a ereção dele perto do meu corpo e estava com um certo medo de vomitar. Uma tesoura em cima da secretária fez com que a minha esperança aumentasse. Gemi forçadamente tentando demonstrar que estava a gostar. Engoli cada grama de orgulho que ainda resta no meu corpo e virei-me de frente, atacando os lábios do homem mais nojento que eu conheço. O meu casaco voou para o chão e eu caminhei lentamente em direção à secretária. Quando lá cheguei uma batida fez com que o meu pesadelo acabasse temporariamente.

"Eu volto já" Ele avisou com um sorriso amarelo e saiu deixando-me sozinha. Agarrei na tesoura e arranjei uma maneira de cortar a maldita corda. Mal acabei de o fazer a porta abre novamente.

"O teu namorado causou-me alguns problemas."

"Ele que se foda" Eu disse enquanto Steve se voltava a aproximar. Quando ele se encontrava próximo o suficiente espetei a tesoura no peito dele enquanto lágrimas escorriam furiosamente pelo meu rosto. Corri o mais que pude deixando um ser humano a sangrar no chão. Encontrei o Harry que começou a correr atrás de mim, senti que ele me estava a chamar, mas eu não parei de correr, estava assustada com aquilo que eu tinha feito e não sentia uma única gota de arrependimento no meu corpo. Quando saí daquele armazém corri para o carro do Harry que conduziu sem dizer nada. Ele foi obrigado a parar num semáforo e eu saí e comecei a correr até ao meio de umas árvores. Sentei-me no chão e vomitei tudo o que tinha no meu estomago. Umas mãos grandes agarraram suavemente no meu cabelo enquanto eu esvaziava o meu organismo.

"O que é que ele te fez?" Harry perguntou e eu só sabia chorar, como se isso fosse mudar alguma coisa, como se isso fosse apagar o facto de eu ter sido tocada e beijada pelo ser mais repugnante à face da terra, como se isso mudasse o facto de eu ter sangue no meu corpo, sangue de outra pessoa.


Nyctophilia (H.S.) [Reescrever]Onde histórias criam vida. Descubra agora