Lu sempre foi uma irmã pra mim e vir morar com ela era um sonho de infância nosso. Não costumamos brigar e dificilmente discutimos, e se isso ocorrer é por preocupação. Como hoje mais cedo. Minha prima tem um defeito/qualidade muito grande: é sentimental.
Não aquele tipo de sentimental irritante, ela sabe dosar, mas espera tanto que as coisas sejam da forma que ela acha que se decepciona gradativamente e isso me dá medo as vezes. Tenho medo dela chegar no seu limite e cometer alguma loucura. E isso ela também é: louca. É espevitada, decidida, porém segue o coração. Faz pose de durona e imbatível, mas chora sozinha quando se sente mal.
Depois do café da manhã liguei para a avó dela que era um amor de pessoa e disse que Lu estava bem, só com ressaca e que deveria ligar mais tarde. Ela se acalmou.
Nunca entendi muito bem a relação dela com o avô, que não é nada boa. Ele sempre a tratou muito mal e ultimamente isso estava afetando a relação dela com a avó, porque sempre foram muito unidas e de repente estavam se afastando.
Cheguei a faculdade com uma certa pressa. Não tinha conseguido estudar direito e a prova parecia a mais difícil de todas. Não consegui resolver nenhum cálculo e nem lembrava metade do que estava sendo cobrado.
Ainda não sabia como estava tentando um curso de exatas, embora nunca tenha sido uma péssima aluna. Talvez minha paixão pela construção seja maior que meus problemas com números, o que sempre me motivou a nunca desistir e não dormir enquanto não acertar todas as listas de exercícios.
- O que você respondeu na primeira questão? – Rodrigo me perguntou.
Pela primeira vez ele falava comigo.
"Você sabe que eu existo?"
Só lembrava que a questão era sobre aço e concreto.
- Olha, eu chutei a letra A. – disse meio sem graça tentando parecer o mais meiga possível.
- E ainda acertou! Caramba, me passa essa sorte? – ele disse rindo.
Eu sei que são poucas mulheres nos cursos de exatas e muitas delas são ignoradas, mas ainda não estava acostumada com essa facilidade em conversar com outros homens. Ainda mais um como ele, que a maioria das mulheres que cursam qualquer uma das engenharias parava de conversar para admirá-lo em qualquer lugar do campus. Ok, juvenil de mais, mas o cara era realmente um gato.
Liguei pra Lu para saber o que iríamos almoçar ou se ela gostaria de me encontrar em algum restaurante. Mas ela não atendia, o que me deixou bem nervosa. Ela dificilmente deixava de atender o telefone. Com pressa de chegar logo e estar longe optei por chamar um Uber.
Ao chegar em casa em um tempo recorde de trinta minutos percebi a porta trancada e o maior silêncio. Ao conseguir entrar em casa notei que a luz do quarto de Lu estava acesa e fiquei apreensiva. Tentei abrir a porta, mas estava trancada por dentro. Bati e chamei o nome dela, mas nada de respostas. Bati com mais força e nada ainda. Gritei soquei a porta com toda força que eu tinha dentro de mim e nada.
Sem perder tempo liguei para os bombeiros.
Conhecendo minha prima sabia que poderia ser algo sério e se não fosse pelo menos ela aprenderia a não trancar nenhuma porta. As vezes ela só aprende depois de pagar algum mico muito grande. Mesmo que algo já me dissesse que havia acontecido algo muito grave.
Dez minutos depois os bombeiros chegaram. Arrombaram a porta e então o choque.
Lu estava desmaiada e com os braços cheios de sangue.
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Balckout - quando tudo começou
RomanceAnalu estava só pelas ruas de Brasília, suas lágrimas a cegavam e sua dor já era cruel o bastante para a vida não ter mais graça. Então esta mesma vida resolveu lhe pregar peças para provar que sabe o que faz ao mesmo tempo em que inicia-se uma revo...