Havia chegado do plantão de 24 horas totalmente esgotado, mas precisava ver Analu. Pensei em convidá-la quando ainda estava bem acordado e cheio de vida, coisa que já não existia pela manhã. Meu cansaço era tão grande que não sei dizer como consegui chegar ali naquele banco. Dessa vez era eu quem estava de ressaca, mas a minha era de sono e não de noitada.
Como meu sono era enorme e ela já estava atrasada uns 30 minutos resolvi enviar uma mensagem.
Bernardo: Estou te esperando no mesmo banco em que te entreguei a rosa.
Achei que ela não apareceria e minhas esperanças haviam morrido, por sorte poderia ir direto para a minha cama. Mas ai ela respondeu instantaneamente.
Ana Lucas: Estou a caminho, me perdoe o atraso. Grandes novidades em momentos inoportunos... mas me espere!
Confesso que fiquei nervoso pela confirmação de que a veria.
Quando a vi dobrar aquela esquina não consegui parar de pensar em como aquele curativo no pulso me deixava apreensivo. E então me lembrei de como a conheci.
Ela estava chorando muito e me fez sentir tanta dor dentro de mim que foi impossível me calar. Me lembrei de quando estava noivo de Eduarda... e como foi doloroso perdê-la para uma morte tão inesperada. Me entreguei para a bebida e não quis continuar a faculdade de medicina. Minha mãe precisou me trancar em nossa antiga casa com todas as janelas fechadas com cadeados e correntes.
Me lembrei de como Analu não conseguia me ver e sua feição era de sede, mas sede de morte, talvez. E me lembrava de como era aquela sensação. Por isso falei sobre orgulho, sofrimento e felicidade. Sabia como aquilo que passei por Eduarda havia sido de grande importância para mim e como amadureci depois de aceitar sua morte.
Quando Lu se aproximou não consegui falar muito por ainda estar preocupado com o que ela sentia, mas percebi que haveria um grande desconforto se aquele fosse meu comportamento pela manhã e então resolvi ser bem humorado, embora meu sono fosse exacerbado.
A ofereci meu braço para que ela se apoiasse, mas esperava que ela me segurasse caso o sono me dominasse. Aquele café da manhã precisava ser rápido ou eu iria apagar em cima da mesa. O que não seria nada legal já que aquele atendente iria querer me ajudar de forma exagerada e dar em cima de mim mais uma vez. E confesso não estar com paciência para, como sempre faço, ignorá-lo sem grosseria.
Analu
Um encontro inesperado e aceitado de última hora me deixou receosa sobre o que eu deveria falar ou não e como não havia uma intimidade, amizade nem nada do tipo o clima naquela mesa era no mínimo estranho.
Para não me sentir tão desconfortável foquei na música que tocava... reconheci a voz do Noah Enton e comecei a cantarolar aquela música sem nem ao menos saber a letra correta, mas mesmo assim era uma música que eu conhecia.
Quando nossos pedidos chegaram consegui relaxar. Só precisava comer e então ir embora.
Bernardo
Quando olhava para Analu era impossível não lembrar de Eduarda. Sei que eu disse nunca ter me apaixonado, mas Eduarda foi quem me mostrou que era possível gostar de alguém e eu a perdi quando tentava entender o que era estar apaixonado de fato. Desde então só me envolvia com mulheres para me satisfazer e nada mais.
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Balckout - quando tudo começou
RomantizmAnalu estava só pelas ruas de Brasília, suas lágrimas a cegavam e sua dor já era cruel o bastante para a vida não ter mais graça. Então esta mesma vida resolveu lhe pregar peças para provar que sabe o que faz ao mesmo tempo em que inicia-se uma revo...