Analu

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O tempo não passava e meu desejo de aniquila-lo era enorme. Meus pensamentos sobre o sumiço de Guilherme só me deixavam mais louca. É difícil tentar me entender, quem dirá essa situação.

Ele era o meu porto seguro, minha vida estava desmoronando aos poucos quando o conheci e ele me ajudou. Foi o cara que eu precisava que ele fosse e em nenhum momento se mostrou indiferente a mim. Tanto que confiei o bastante para me entregar de corpo e alma... meu erro! Mas pessoas apaixonadas se entregam e não me arrependo. 

Eu ainda não sabia como fazer para seguir a vida sem meu guia. Ele estava presente na minha mudança de vida dependente dos meus avós para uma vida totalmente independente. Me ajudou a lidar com as despesas da minha casa até que as meninas vieram morar comigo. Estava ao meu lado, também, quando perdi meus pais. 

Mas eu precisava me reerguer. Porque minha relação com meu avô estava cada vez pior.

O auxilio que eu recebia do governo era até razoável, mas eu sentia falta de um emprego para ter algo com o que ocupar a mente, só estudar não estava mais fazendo efeito. Pelo contrário, me formar em pouco tempo pelo excesso de matérias que pegava por semestre me cansaram física e psicologicamente: eu precisava de férias da universidade.

Foi quando Laura chegou em casa com a ideia de abrir um negócio. Um desses em que eu sempre quid participar, mas nunca tive coragem.

- Lu, eu estava pensando em abrir uma lojinha aqui perto.

Não contive o susto já que Laura, sempre indecisa, trocava de cursos da faculdade como quem troca de roupa.

- Que tipo de loja? - perguntei sentando na poltrona e me envolvendo com a manta de crochê que minha avó tinha feito.

- Olha, pensa comigo! Nós quatro temos personalidades totalmente diferentes e conseguimos conviver em paz e harmonia.

- Onde você está querendo chegar? - franzi o cenho.

- Eu gostaria muito de entrar numa lojinha, tipo butique sabe, em que eu pudesse encontrar coisas distintas porém com uma harmonia. 

- Entendi, mas não sei se do jeito que você quer.

Ela respirou fundo e sentou no chão ficando a minha frente e abriu sua mochila colocando coisas na mesinha de centro da nossa minúscula sala.

- Olha esse espelho de bolsa feminino. É meio vintage com cara de velho mesmo, sem ser meio que melhorado. Ele tem mais a sua cara porque você tem essa paixão pelo século XVIII e tudo o mais. Mas é muito difícil encontrar algo assim barato e em locais como aqui em Taguatinga. Talvez se andar muito e tiver procurando exatamente por algo você chute que em duas ou três lojinhas possa encontrar. Mas eu quero uma butique que você encontre o que não está procurando, mas que seja tão a sua cara que queira levar tudo.

- Ok. Vou relevar a parte do "uma coisa velha que tem a minha cara" e partir para o ponto do "que tipo de coisas quer vender?" ou ainda "qual o público que está pensando em atingir?" - perguntei pegando aquele espelho que realmente eu compraria sem necessidades.

- As pessoas consomem aquilo que gostam de ver ou degustar. Eu pensei primeiro numa butique de decoração e utilitários, mas acho que da pra fazer uma união com diversas coisas. Desde roupas e calçados à acessórios e objetos decorativos. Meio que um brechó, porém de bom gosto e não somente uma casa cheia de roupas usadas.

- Quer que comprem coisas novas que parecem velhas?

- Só pessoas como você, que tem esse gosto arcaico. - ela caiu na risada.

A risada de Laura era muito gostosa de ouvir e por mais que suas piadas me tirassem do sério sempre acabava rindo por estar contagiada.

- Sabe esses blogs de moda que normalmente vem cheios de dicas de decoração e indicações de lojas? Nunca vi uma loja brasileira com preços acessíveis a quem tem bom gosto, mas não tem tantas condições. Porque, por exemplo eu, fui ter cartão de crédito esse ano. Minha família teve tantos problemas com dívidas de cartões que pararam de usar. Agora uma mulher de vinte e um anos nunca ter tido um cartão de crédito me ensinou a administrar todo o meu dinheiro em cédulas. - ela reiniciou seu discurso com facilidade e me deixou convencida.

Balckout - quando tudo começouOnde histórias criam vida. Descubra agora