Seus cabelos louros se esvoaçavam por conta do vento. Seus tornozelos doíam pela velocidade que ela alcançara. Tentava pensar em outra saída, não sabia o que poderia fazer, se não encarar o rosto de Isaac por mais uma vez. Ela não poderia ter deixado aquelas cópias com outra pessoa?
O jornal da escola, pela primeira vez, não estava mais sendo monótono e chato, as pessoas agora estavam o lendo, correndo para que fossem os primeiros. Ninguém mais precisava implorar para que o lessem, os professores não precisavam mais pedir trabalhos relacionados ao jornal, tendo a esperança de que alguém um dia enviasse um texto surpreendente que incentivaria a leitura de todos naquela escola. Tudo isso graças a Claire e sua incrível coluna, que enchia a boca de todos que gostavam de uma boa fofoca.
Mas tudo isso estava prestes a acabar. Claire conseguia ver os rostos em sua direção nos corredores, as mãos erguidas, apontando em sua direção. Os rostos tristes de suas melhores amigas. Esse pensamento fazia com que ela corresse ainda mais rápido em direção a casa de Isaac.
Lá estava eu, as férias do meio do ano haviam passado e a única coisa que eu conseguia pensar era em como eu não queria voltar para escola.
- Vamos lá, filha! – meu pai bebia seu café enquanto colocava alguns pratos na mesa – você já vai se formar, só mais alguns meses e já vai estar pronta para faculdade.
Muito animador, não foi? Acho que não. Meu pai, Billy Tea, com seu grosso bigode e olhos azuis, conseguia ter desculpas para tudo. Principalmente para mim, quando me sentia demasiadamente sem vontade para qualquer coisa. "Ah, mas a faculdade..." ou "A escola já vai acabar...", suas frases favoritas.
- Eu sei, é mesmo muito divertido – resmunguei para ele de cara feia. Já estava pronta para sair de casa, não aguentava ver aquele sorriso no rosto do meu pai que demonstrava o quanto ele achava legal eu estar na quase fase faculdade.
- Boa aula, querida. Te vejo amanhã, tenho que buscar sua mãe no aeroporto. Vamos ficar em um hotel essa noite – me abraçou e eu segui desanimada em direção da porta.
A primeira pessoa que encontrei na escola, em frente do portão como se estivesse me esperando foi Isaac, meu namorado. Tínhamos começado a namorar no começo desse ano, quando ele parecia mais surpreendente do que agora. Durante as férias não tivemos quase nenhum contato um com o outro, ele havia viajado para a casa de seus tios no litoral do estado. Como eu não esperava, ele mal havia me ligado ou mandando qualquer tipo de recado para meu celular ou redes sociais. Me disse estar muito ocupado fazendo coisas ao ar livre e ajudando os tios com seus animais domésticos, segundo ele, que eram muitos.
Porém, minha melhor amiga Jacques Kydd, sempre me vinha com alguma novidade sobre como estava sendo o verão do meu namorado.
Há alguns dias atrás...
- Ele me disse que os tios deles são mesmo péssimos, não deixam ele completar qualquer ligação, apenas quando não está fazendo algum serviço – Jacques me dizia tudo isso como se eu já soubesse – Sério, que ele não te contou nada? – soltou em meio de uma risada abafada.
- Mais ou menos, ele me disse que não podia ligar na vez que conseguiu falar comigo – estava sentindo um pouco de ciúmes, mas achei que fosse besteira, talvez ele tivesse ligado para ela no mesmo dia que ligou para mim, só teve mais sorte com o tempo da ligação – Quando foi que ele te ligou? – me arrependi de ter feito essa pergunta, apenas pelo medo de sua resposta.
- Hoje mesmo. Um pouco antes de eu resolver vir aqui na sua casa – um sorriso se abriu, parecia que ela esperava por isso.
De qualquer jeito, acho que isso não importa muito, não? Eu não deveria encher minha cabeça com essas histórias da Jacques. Continuei o caminho de dentro para a escola ao lado de Isaac, que vestia um moletom azul e uma touca, não deixando nenhum fio de seus cabelos cacheados a mostra. Estávamos de mãos dadas atravessando o portão principal. Parecia ter chego cedo demais, nenhuma das minhas amigas estava à frente de seus respectivos armários no corredor depois da portão.
- Por que não me ligou nas férias? – comecei perguntando um pouco envergonhada, estava com medo do nome Jacques aparecer e começarmos uma briga, pois eu sabia que ele havia ligado bem mais para ela do que para mim.
- Como? – Isaac estava prestes a rir, até que viu meu rosto, de quem não estava achando nada engraçado – Eu te liguei sim...
- Você não me deu nenhuma notícia. Não me ligou mais do que umas três vezes – já demonstrava estar com ciúmes, mas que droga, não quero parecer uma maluca.
Ele se explicou muito bem, como eu já esperava. Tentei não pensar mais nesse assunto, pois é chato demais parecer ciumenta e possessiva. Segui em direção ao meu armário, pensando que já estava na hora de Jenn ou Emilly aparecerem. E foi o que exatamente aconteceu. Emilly estava lá.
- Onde você estava? – ela me abraçou forte, mal parecia que tínhamos nos visto um dia antes, devia ser o ambiente escolar. Seu cabelo ruivo estava preso num rabo de cavalo, fazendo com que suas sardas se destacassem ainda mais em seu rosto.
Emilly é minha melhor amiga desde a quinta série. Costumávamos emprestar nossas canetas com glitter uma para a outra e também passar todo o intervalo juntas desenhando em nossos cadernos. Emilly é uma ótima pessoa para se ter como amiga, ela é ótima com conselhos e muito boa nas matérias difíceis na escola. Muito boa em passar as respostas.
O dia voou, mal pude sentir falta da presença de Jenn, pois os professores estavam animados com nosso último trimestre escolar, então não paravam de falar sobre novos projetos que a escola estava nos oferecendo. Não me interessei em nada. Nem mesmo no projeto de receber novos alunos no jornal da escola. Eu adoro escrever, mas no jornal... Não tem nada desinteressante lá.
- Nova edição do jornal da escola – alguns alunos gritavam estendendo os exemplares diante de outros que olhavam em direções opostas.
- Precisamos ver isso – Emilly e eu adorávamos tirar sarro daquelas matérias bobas.
Emilly aceitou um exemplar de um dos garotos nerds de nossa turma que de imediato abriu um largo sorriso, agradecendo.
"Cores mais vivas em nossos corredores", "Os professores estão mesmo cansados das bagunças!", "Melhores alunos do ano" ou "Como vai ser o baile de formatura?".
- Quanta bobagem! – eu e Emilly soltávamos risinhos entre alguns alunos que também estavam ali para tirar sarro – Quem realmente se importa com isso?
Até que li algo como "Concurso de escritores, faça parte do nosso jornal!", eles devem estar mesmo desesperados.
- Nossa, você devia tentar! – Jacques apareceu citando a frase que eu acabara de ler – Você não quer ser escritora, afinal? – e então começou – Eu e Isaac estávamos lendo isso aqui e pensamos que seria bom pra você. Vive falando que quer ser escritora, mas eu nunca a vejo escrevendo nada.
Deve ser porque eu faço isso sozinha e não o tempo todo. Ou porque eu não faço isso toda hora como você vive dando em cima do meu namorado...
- Bem, eu escrevo sim, só... – mal pude terminar quando percebi que Jacques estava acompanhada de Isaac.
- Você devia tentar, nunca escreve nada mesmo – ele realmente pensa que me conhece. Isaac disse isso como se eu nem soubesse escrever!
Por fim, só pensei nessa proposta quando Emilly disse a mesma coisa, que eu deveria pensar, pois seria legal alguma coisa divertida naquele jornal. E pensando bem, acho que ele precisa ser mais animado mesmo.
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Como Não Ser Notado
Ficțiune adolescenți"Como eu pude me meter nessa confusão? Escrever nesse jornal, sinceramente, foi a pior decisão que tomei!" Claire Tea é uma jovem escritora que pela insistência de alguns amigos acaba começando a escrever algumas bobagens no jornal da escola. Ne...