Capítulo 5

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Quarta-feira.

Um dia que eu considero ótimo se tornou péssimo pela primeira vez.

Claro que quarta-feira é um maravilhoso dia, pois logo será quinta e depois sexta e esse sentimento de estar próximo de sexta-feira nunca será igual à qualquer outra coisa. Porém, lá estava eu. Sozinha, no meu quarto esperando o alarme tocar para assim ir à escola.

Havia passado o resto do dia anterior preparando o meu novo artigo para o jornal e elaborando um plano para conseguir meu antigo artigo de volta.

Tinha que ir até a casa de Emilly, isso era fácil, mas ter que ir na casa de Isaac de novo, isso era demais para mim!

Decidi assim faltar na escola e não tinha motivo algum para explicar para minha mãe, ela já sabia de tudo, tornando minha vida ainda pior.

É claro que Jacques contou para Emilly, que contou para Jenn, que contou para minha mãe e que veio falar comigo logo depois. Só que, parar minha sorte, minha mãe sabe respeitar meu espaço assim como eu respeito o dela.

Vesti meu casaco com capuz vermelho e amarrei meu louro cabelo num coque. Estava pronta para tomar uma atitude importante para meu novo plano. Vesti meu velho tênis azul e saí de casa. Eram quatro horas da manhã e o pensamento de estar fazendo uma loucura sempre, mas sempre, me vinha a cabeça. Só que, o que mais eu poderia fazer?

Segui em direção a casa de Isaac, quase que sem perceber. A rua estava escura e úmida, a chuva já havia parado, porém era possível ouvir pingos caindo dos telhados.

Como a casa não era tão longe assim, e também eu estava com um pouco de medo por estar sozinha na madrugada, cheguei logo na casa dele. Procurei por uma pedra naquele jardim ridículo de sua mãe – não acredito que já elogiei esse lugar – e fui para os fundos da casa, pronta para arremessar aquela pedra em direção ao quarto de Isaac.

"Espero que acerte aquela cabeça cacheada e infeliz" pensei.

Aquilo era clichê demais, atacar uma pedra em uma janela. Estava pensando que era quase impossível ele acordar ou eu mesma acertar no lugar certo e por incrível que pareça, eu acertei!

Eu arremessei aquilo com tanta força e ódio que a pedra atravessou o vidro. Ele teria de acordar agora, talvez todos de sua casa acordariam com aquele barulho todo.

Estava prestes a atacar outra pedra ou a fugir dali, até que...

- O que é... – ele estava abrindo a janela, seu rosto mostrava espanto, mas logo se mostrou triste, curvando os cantos da boca – Você está louca? O que está fazendo?

Como ele poderia estar triste? Aquele rosto infantil se mostrava triste e isso de algum jeito mexia com meus sentimentos.

- Eu estou aqui para pegar uma coisa que me pertence!

- O seu livro? Claire, eu ia devolver, não precisava quebrar minha janela! – e então abriu um sorriso.

Como ele estava sendo infantil, como podia sorrir para mim naquela situação?

- Ei, não é isso – eu estava cansada de gritar – Você pode abrir a porta?

Nossa, eu sou mesmo a melhor pessoa desse mundo, sendo educada com o pior garoto dessa cidade. Segui para a porta da frente e esperei que ele a abrisse para mim e depois de alguns minutos, lá estava ele. Seu cabelo amassado pelo travesseiro e seu pijama roxo que parecia mais de uma criança. Subimos para seu quarto e eu estava com tanta raiva dele que me odiava por estar ali naquele momento.

Seu quarto estava do mesmo jeito de sempre, organizado, porém eu não conseguia parar de imaginar Jacques ali com ele. Se ele me trocou mesmo por Jacques só pode ter um motivo. Sexo.

Como Não Ser NotadoOnde histórias criam vida. Descubra agora