Capítulo 2

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Mas que droga!

Não sei o que escrever para essa droga de jornal. Não é como se eu estivesse escrevendo num blog ou postando aquele textão argumentativo em uma rede social. Isso vai para o jornal da minha escola. Estou muito arrependida.

Depois de ter escrito meu nome no formulário que estava no quadro perto da secretaria da escola, eu até que consegui sentir um pouco de entusiasmo. Talvez tenho sido muito entusiasmo, mas foi só porque eu queria provar para aqueles dois. Isaac e Jacques. Que escrever é algo muito fácil para mim, não exatamente porque eles duvidavam... Tudo bem que as vezes eu mesma duvido disso, como agora.

- Emilly, eu não deveria ter feito isso... Foi a maior bobagem – ainda dava tempo de rasgar aquele formulário ou apenas ignorar aquele nome lá, fingir que não havia sido eu e também ninguém notaria se não aparecesse mais, é claro.

- Ah... – Emilly deu um breve suspiro e soltou uma risadinha – Eu já li alguns de seus textos. Sabe? Daquele blog que você tentou. Você é boa, para com isso!

O blog, aquilo sim foi uma péssima tentativa de mostrar meu talento. Pude pensar que viraria uma estrela da internet com ele. Quanta bobagem. Eu não consigo nem escrever um texto para conseguir ter a chance de entrar para o jornal. Como se esse jornal fosse tão importante para alguém, ninguém lê!

O sinal bateu indicando termino das aulas. Foi como um peso saindo de minhas costas. Eu estava tão entediada e cansada de ouvir Isaac e Jacques tagarelando sem parar sobre alguma coisa que não fazia ideia do que era. Eles conversavam como se eu nem estivesse presente. Qual será o problema desses dois, afinal?

Emilly também parecia não estar tão interessada assim em só conversar comigo. No intervalo estava sentada com um garoto chamado Steve Roberts que parecia ter passado pela puberdade, ou se arrumado bastante, desde a última vez que o vi. Estavam conversando sobre alguma matéria nova e eu não estava interessada em me juntar a eles.

Desde quando os meus amigos ficaram tão distantes de mim? Ou eu que estou chata por só pensar em Isaac, em como eu estou tentando ficar perto dele e de Jacques, mas também tentando fugir da companhia deles? E onde Jenn se meteu, o que tinha na cabeça para faltar no primeiro dia de aula!?

Então, depois desse pensamento crítico, sobre meu primeiro dia de aula ter sido totalmente estranho. Sobre minha melhor amiga Jacques ser mais amiga do meu namorado que eu e sobre Jenn não ter ido para o primeiro dia de aula, resolvi ir eu mesma atrás dela, pois com certeza ela devia estar triste por algo e esperando uma de nós irmos atrás dela para puxar o saco.

Jennifer mora na rua de trás da minha casa, então não demorou muito para chegar lá. Jenn morava sozinha com sua mãe, seu pai havia morrido há muitos anos e ela era filha única, assim como eu e acho que nossa amizade se formou exatamente por isso... A gente se conhece desde que éramos muito pequenas, talvez seja uma de minhas primeiras amigas de verdade, e por sermos filhas únicas agíamos uma com a outra como irmãs, sempre a fazer companhia uma para a outra, trocando segredos e por vezes até brigando.

Depois da pequena caminhada, entre alguns outros alunos da escola, finalmente cheguei ao meu destino. Preferi não pedir a companhia de ninguém para visita na casa de Jennifer, mesmo que Emilly também tivesse notado sua falta na escola, preferi ir até lá sozinha. Queria saber o motivo de sua falta, mas também desabafar sobre a estranheza de Jacques e Isaac. Ando pensando tanto no nome deles juntos que poderia chamá-los de uma coisa só. Ah, quanta bobagem!

Sabia que Jenn iria entender isso, mesmo sendo totalmente drama e ciúmes, ela entenderia, pois é muito mais dramática e ciumenta que eu. Emilly me diria que é bobagem, que eu deveria ficar feliz de minha melhor amiga e meu namorado se darem bem e não sentirem ciúmes por eu acabar não passando tanto tempo com um ou com o outro.

De qualquer jeito Jennifer Campbell iria me ajudar.

Incrível como era estar ali, na frente daquela casa, onde minha infância, assim como a da Jenn, se passou. No meio daquele jardim que sua mãe, Margareth, cuidava com tanta cautela. Que orgulho de ter feito parte das mudanças drásticas que esse jardim sofreu, assim como a cor da parede da casa, a tonalidade da grama, por fazer parte também daquela família.

Duas batidas na porta foram suficientes para que Margareth me atendesse. Seu rosto tinha uma expressão desesperadora, porém ainda gentil. Seu cabelos castanhos estavam soltos, emoldurando seu rosto e caindo levemente sobre seus ombros. Uma mulher muito bonita ela sempre havia sido, desde que éramos pequenas.

- Que bom que você está aqui, Claire! – me puxou para um forte abraço e me deu um beijo na bochecha – Eu e Jennifer sentimos sua falta no verão... – disse enquanto me puxava para dentro do lar.

Jenn e sua mãe também haviam viajado nas férias, tinham me convidado para ir com elas, mas eu por algum motivo infeliz, não aceitei. O que de certa forma foi bom, pois assim eu não atrapalharia Jennifer. Ela estava feliz demais por ter conhecido um rapaz chamado Bernard e me disse também que eles estavam tipo namorando. Não entendo o que é estar tipo namorando. Deve ser o meu tipo namoro com Isaac e minha tipo amiga Jacques, quanto exagero...

- Também sentimos sua falta, – me referia a minha família também – até me arrependi por ter recusado o convite de vocês para viajar junto. Meu verão não foi tão divertido quanto o seu e da Jenn, aposto.

- Ah... – seu rosto se contorceu de preocupação – Jennifer.

- Por que ela não foi para escola hoje?

- Oh, Claire. Você precisa conversar com ela. Ela não me diz qual é o problema... – sempre achei incrível o modo como Margareth conseguia dizer qualquer frase/palavra com cautela. Mesmo estando triste ou aborrecida, sempre se referia as pessoas de forma delicada e educada.

E assim ela começou a contar a longa história de como a viagem estava sendo maravilhosa, mas que quando voltaram para casa, Jennifer começou a se tornar distante e depois triste, mal saia do quarto e sempre estava com o rosto inchando por chorar.

Agora Jennifer era quem precisava de minha ajuda.

- Não quero conversar, EU JÁ DISSE ISSO! – berrou Jenn quando tentei abrir a porta de seu quarto que estava trancada.

- Sou eu... Vamos conversar.

E depois de alguns instantes Jennifer apareceu e me puxou para dentro do quarto, fechando a porta na cara de sua mãe que ficou do lado de fora.

- Que alívio. Mas meu Deus! Por que não apareceu antes? Eu estava desesperada, só precisava de você. Que você viesse falar comigo – e assim se debulhou em lágrimas, me abraçando logo depois.

Só pude retribuir seu abraço e ouvir a história que viria em seguida.

Como Não Ser NotadoOnde histórias criam vida. Descubra agora