Segundo

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Todos ficaram se perguntando quem era aquele homem e o que ele queria comigo. Na verdade, eu também me perguntava. Eu nunca tinha visto aquele homem na minha vida. Inclusive, ele me dava arrepios. Quando ele terminou de me fitar com os olhos, deu um passo pra frente e começou a falar.

- Antes de qualquer coisa, quero que saibam que eu não venho com más intenções, quero apenas o bem de Margot - disse o velho, olhando para minha mãe. - Sua filha precisa fazer um teste, para o próprio bem dela, caso contrário, poderá sofrer consequências conforme o tempo.

Minha mãe ainda não entendia o por quê do homem estar ali, buscar por sua filha e vir com um diálogo totalmente anormal. Já eu, tinha um palpite do que se tratava. Ela, então, vá até a frente de Johnson e o encara furiosamente.

- Pode nos dizer de uma vez por todas o que o senhor veio fazer aqui? Está nos matando de curiosidade, o que você tem a ver com a minha filha? Não está acontecendo nada de errado com ela!

- Margot, você sabe porque eu estou aqui, eu sei que sabe, fale para sua mãe se acalmar, que eu irei explicar tudo calmamente.

Enquanto mandava minha mãe se acalmar, Johnson torna a ficar com a expressão de mistério em sua face. Nos encara, e por fim começa a falar.

- Sua filha vem mostrando comportamentos estranhos desde o dia de hoje, o dia em que completou dezesseis anos. E foi um caso estranho, na verdade, seus sintomas se desenvolveram muito rápido. Ainda não foram todos os sintomas, ainda falta o Fogo, igualzinho com o caso de Luna - ele cochicha. - Margot, essas sensações estranhas e esses sintomas, baseiam-se nos quatro elementos. Você é uma portadora deles. Seja bem-vinda a sociedade PP.4E, Pessoas que Possuem os Quatro Elementos!

A casa inteira se quedou paralisada. Todos ficaram chocados ao ouvir o que Johnson dissera. Minha mãe estava tão vermelha que parecia que ia explodir, Gina segurava fortemente a mão de Chris, e eu...Eu apenas sentia que isso era um alívio. Claro, eu ainda não tinha terminado de processar a informação, mas foi um alívio saber o que eu tinha.

- Enfim...Margot, você precisa fazer um teste para ter certeza que domina bem os poderes dos quatro elementos. Por isso, quero que venha comigo se estiver preparada, caso contrário, posso voltar outra hora. Mas, terá que vir de qualquer jeito, os sintomas podem piorar, e poderá se tornar uma catástrofe para sua família.

Olhei a todos ao meu redor, ainda estavam paralisados. Estava tudo acontecendo tão rápido, nem parecia que era o dia do meu aniversário. Então, por pressão do tempo, eu disse por impulso:

- Eu...Eu não estou preparada, desculpe.

Então, subitamente, Johnson desaparece.

- Oh...Meu...Deus! - exclamou Gina, quebrando o silêncio. - Eu apenas não acredito no que acabou de acontecer...Chris me belisca, eu tinha certeza de que estou num sonho! Não estou?

- Infelizmente não - disse minha mãe, cabisbaixa, sentando-se na cadeira da cozinha. - Como isso pode acontecer? Éramos uma família normal até o dia de hoje, isso foi tão... de repente! Está sendo difícil processar tudo isso! E agora, minha filha, o que vai fazer?

Essa. Essa era a pergunta em que me assombrava no momento. ''O que eu iria fazer?'' Deveria ir para aquele teste com o homem misterioso? Ou seguia minha vida a diante, mas sabendo que esses tais sintomas poderiam piorar?

- Eu acho que...Não sei. - sento-me junto a ela na cozinha. - Como você disse, foi tudo de repente! Eu...Acho que vou fazer o teste quando estiver preparada, os sintomas são horríveis.

- Tudo bem, Margot, quero apenas tiver bem. - disse minha mãe.

- Nós também. - disse Gina e Chris em uníssono.

***

No dia seguinte, acordei abismada por conta de ontem, aos poucos ia caindo a ficha do que tinha acontecido no dia anterior. Gina e Chris tinham dormindo em casa, também estavam um pouco assustados. Enquanto eu e Gina nos arrumávamos, Chris nos esperava do lado de fora com o carro.

- Amiga, tá tudo bem? Você realmente quer ir para a escola hoje?

- Tudo bem, Gina, aliás eu estou mais aliviada por saber o que estava acontecendo comigo, obrigada pela preocupação. Agora, vamos!

Entramos no carro com o som já no último volume. Chris sempre colocara sua música favorita antes de ir a escola, segundo ele, as músicas o motivam nos estudos (na verdade, também servia de desculpas para usar o fone na sala de aula). Até concluirmos todo o percurso da escola, Chris cantarolava Ironic até chegarmos.

Quando chegamos, todos me olhavam com caras estranhas, como se eu fosse perigosa ou coisa do tipo - talvez eu seja. A enfermeira Dolores me cumprimentara e perguntara se eu me recuperei, eu respondi que sim. Seguimos o caminho até a sala de aula, onde teria a primeira aula de Biologia, com a professora Regina, da última vez em que nos vimos não deu muito certo.

- Vocês viram a menina ruiva da outra sala? Ela deve ser a menina mais bonita que eu já vi. Mano, vocês repararam nela? Ela é uma obra-prima! - diz Chris.

- Ela é bonitinha até. Mas vocês viram o irmão dela? Que-coisa-mais-linda! Eu fiquei sabendo que o nome dele é Jason, depois vou dar uma stalkeada pra ver o que eu acho. E você, Margot? Gostou de alguém?

- Bom, não estou muito no clima, mas esse Jason é muito bonitinho mesmo.

- Olha, ele já é meu, pode procurando um pra você! - reclama Gina, fazendo a gente cair na gargalhada.

***

Quando saímos da escola, Gina ofereceu carona para Chris, e como nossas casas não eram caminho, então optei por ir a pé, não era tão longe assim. Enquanto caminhava, relembrava da noite anterior. Lembrava de cada palavra em que Johnson dissera, sobre o elementos, sobre os sintomas, sobre o PP.4E, sobre o teste, e também...Sobre o sintoma que eu ainda não tive. O Fogo. Chegando em casa, percebi que minha mãe ainda não tinha voltado do trabalho. Minha mãe era uma grande advogada e tinha muito orgulho de seu trabalho, todos na cidade a conheciam, não tenha um que não dê um ''Bom dia, Tina!'' para minha mãe.

Fui a cozinha para pegar o resto da torta de amora que Chris fizera para mim, quando subitamente, me peguei olhando fixamente para o fósforo que estava sob o fogão. Estava tendo aquilo de novo. Estava ficando fora de mim. Eu ficava paralisada, não conseguia me mover, apenas conseguia me concentrar naquele...Elemento. E então, a caixa de fósforo começa a pegar fogo, e sem querer liga todas as bocas do fogão. As chamas subiram tão alto, que o fogo encostou no meu casaco e ficou. Tirei o casaco rapidamente antes que me queimasse, desliguei o fogão e apaguei o fósforo com água. Foi um grande sufoco.

Me sentei na cadeira da cozinha, com uma sensação enorme de cansaço. A sensação, os sintomas, TUDO era horrível, eu precisava sair daquilo tudo, eu precisava melhorar, eu precisava fazer o teste.



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