Capítulo 12:

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Como combinado, saíram no horário marcado. No ônibus, a tensão estava pairando no local.

"Que isso, gente? É um dia tão feliz, a estréia da nossa peça e vocês estão assim tão nervosos? Cadê a alegria? A animação? Vai dar tudo certo, galera! Vocês são todos muito bem qualificados, é só colocar em prática tudo o que a gente ensaiou!"

E se seguiu um "Uhuuuuuuuuuuulll" da galera do elenco. Martha e Yuri estavam sentados no primeiro par de bancos, passando mais uma vez o discurso. Chegaram no teatro, Martha e Yuri continuaram com o uniforme da Compania. Ás 18:50 já tinha pelo menos umas 40 pessoas no teatro, então eles acharam melhor irem introduzindo o discurso para distraírem as pessoas enquanto o verdadeiro espetáculo não começa.

"Olá, sejam todos muito bem vindos! Sou o Rodrigo, produtor da Compania 'Artes&Viver', que realiza o espetáculo. Antes de dermos início a apresentação, teremos uma introdução com um discurso de dois verdadeiros exemplos pra todos nós. Ela, ícone da mídia, que sofreu e sofre por ser negra e diferente dos padrões da sociedade, mas não aguentou e foi se defender por direito em um vídeo que colocou na internet e repercutiu muito bem! Ele, que também sofre muito por ser negro e se destacar em meio a outros rapazes, também está cansado disso! Então, eles estão aqui hoje, em primeira mão, para uma conversa dinâmica com vocês. Aplausos para Martha e Yuri!"

E eles entraram juntos, de mãos dadas, e tiveram muitos aplausos. Quando a conversa e o barulho cessou, eles se apresentaram melhor. Nome, idade, e coeçaram enfim com o discurso. Martha deu as palavras iniciais:

"Acho que a maioria de vocês me conhece por meio daquele vídeo que tanto foi compartilhado nas Redes Sociais de vocês. Eu agradeço muito por vocês que me apoiam e me motivam, mas eu tive que aprender a lidar com os haters, que criticam e me humilham. Foi por isso que eu tomei a iniciativa de gravar esse tal vídeo, e estar aqui hoje... Erm, quando a gente é menor, vê as meninas da escola, loirinhas de olhos azuis, branquinhas, que tinham todos os meninos a volta, dava até uma certa inveja. Só que ai você aprende a se amar do jeito que é, que cada um tem um jeito, um corpo, um cabelo, e mesmo com as ofensas, você aprende a lidar com isso... Nós negros, sentimos falta de uma concientização geral, plestras nas escolas, campanhas, justiça, qualquer coisa para nos tratarem como iguais!"

Seguiu-se alguns segundos de aplausos, para Yuri se pronunciar:

"Pra nós, rapazes o sofrimento também é dificil. Você chega pra uma entrevista de emprego, e parece que as pessoas tem medo de se aproximar de você, como se tivesse saindo algum material radioativo da sua pele, ou coisa assim. Mas é só uma cor diferente das de outras pessoas. Somos alvos de crimes que não cometemos, alvos de olhares incriminadores, e não podemos discutir. Não é por que sou negro que eu roubo, faço parte de tráfico de drogas ou sou um criminoso. Criminosos são esses que estão na liderança de nosso país, roubando e sendo corruptos mas ninguém faz nada, só se importam em matar e prender gente inocente!"

Mais uma enchurrada de aplausos foi destinada ao Yuri. Então falaram por mais cinco minutos até que o tempo se esgotou, e foi preciso que eles se retirassem e fossem se aprontar para a peça. Sairam, mas acompanhados de mais aplausos. No camarim, Rodrigo os prestigiou muito, deu os parabéns e agradeceu. Então deu-se inicio a apresentação.



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