x Prólogo x

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"Eu não tinha este rosto de hoje, assim calmo, assim triste, assim magro, nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo. Eu não tinha estas mãos sem força, tão paradas e frias e mortas; eu não tinha este coração que nem se mostra. Eu não dei por esta mudança, tão simples, tão certa, tão fácil: em que espelho ficou perdida a minha face? " 

É inverno e as coisas resolveram sair completamente e subtilmente fora do lugar. Quanto mais tento concerta-las, mais as coisas parecem continuarem dando errado em uma proporção que acaba saindo pelas minhas mãos e perdendo a linha. Ligo a lareira e preparo um café, que acaba fervendo demais e transbordando a cozinha... Meu pensamento está longe e tudo que consigo nesse momento é deixar minha mente ir de encontro com as incertezas que a vida anda me dando. Pego mais um casaco, o frio lá fora está congelando os meus dedos. Mas não se trata apenas do frio que está lá fora, se trata da nevasca que me paralisa por dentro. Da tempestade que me levou embora e de todas as coisas que restitui, ou bem, restituía como o meu ser. Tudo saiu bruscamente das minhas mãos, das minhas vistas, do meu alcance. Para falar a verdade, eu nunca consegui administrar minha vida e meu coração. Sempre deixei algum desses dois caminhos se perderem de mim... Mas dessa vez, acabei me perdendo dos dois. Sempre escolhi a solidão, sempre preferir viver nos livros do que viver lá fora. Mas está frio lá fora e estou fria por dentro também.

Encho um copo de whisky e sentada no chão da lareira penso na melhor forma de me apresentar a vocês. Poderia começar contando como me tornei assim: essa mulher fria e com olhos de ressaca. Mas antes de apresentar a vocês essa Sophia, voltarei alguns anos atrás, acreditem: um dia minha fonte de energia era o amor e ao invés de beber whisky, bebia utopias. 





Querido CharlieOnde histórias criam vida. Descubra agora