O Escolhido

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Sexta Era - Outono

I

  A primeira folha do outono cai. O vento vindo do norte fica mais forte.
  O silêncio toma conta do grupo de Gwen. O som dos cavalos bufando. Som de cascos batendo no chão.
  - Não devemos descansar um pouco? Estou morrendo de fome, e os cavalos devem estar cansados...assim como eu - disse o Gordo com uma voz baixa, mas alto o suficiente para todos ouvirem.
  - Gordo tem razão, estamos o dia inteiro andando...
  - Não devemos parar - Gwen interrompe Mirith, o mais novo do grupo. - Vocês viram oque aconteceu lá trás. Devemos fazer um relatório e entregar o quanto antes para o Rei.
  Todos concordam, porém não totalmente. A vontade de beber uma vodca, de transar com uma mulher fala mais alto. Ninguém do grupo tem uma mulher esperando em casa, cozinhando o jantar.     Todos são órfãos, sem nenhuma família. Somente a companhia deles mesmos. Quase nenhum deles possui fé para acreditar em algum Deus, exceto Mirith, que tinha uma aparência jovem e meio magricela, porém já manejava uma espada e conseguiu segurar um escudo, seus cabelos negros e curtos, e em seu queixo uma cicatriz pequena. Ele ainda acreditava que sua família estava viva.
  - Como você conseguiu esse nome, Caolho? - Pergunta Mirith.
  - Sim! Conte-nos, essa viagem está um tédio, sempre me divirto com essa história - exclama Gordo com um sorriso no rosto.
  O Caolho solta um suspiro.
  - Muito bem. Eu mal lembro quando foi que isto aconteceu...Eu estava com um amigo, estávamos caçando, perto de casa.
  "Vamos apostar uma corrida? Até o riacho!" Exclama o amigo de Caolho, na época não era chamado assim, mas é o único nome em que ele se lembra. A lembrança de seus pais são distintas, e até mesmo de sua infância "Não acho que isso seja uma boa ideia, papai disse para não irmos tão longe enquanto caçamos." "Não seja um maricas, não achamos nenhuma presa, e as armadilhas mal funcionam!" Caolho solta um suspiro, olha pra trás. Ninguém. "Muito bem, mas voltaremos mais rápido que uma lebre!" O amigo diz que sim com a cabeça "No três...um...dois!" O mesmo parte, e Caolho faz o mesmo "Parece que estou competindo com uma tartaruga!" Os dois soltam uma risada. O caminho até o rio é extenso, a floresta com árvores gigantes ofuscam a luz do sol, somente alguns raios penetram a copa das gigantescas árvores, conhecidas também como Árvores da Vida.   Finalmente chegam ao rio, que mais parece um lago gigante "Ganhei!" Exclama o amigo com um sorriso no rosto. "Você trapaceou!" "Esker, na vida todos trapaceiam. Os magos trapaceiam a própria vida!" "Isso não é justo..." Esker abaixa a cabeça e uma lagrima escorre e pinga no chão. "Ora! Não chore igual uma criança!" "Não estou chorando!" Esker limpa o rosto com a manga de sua camisa suja e cinza. Ouvem uma voz rouca vindo do mato, chegam mais perto. Esker da um pulo de susto ao perceber de quem era a voz estranha. Um troll. Um troll da floresta não tão grande, mas grande o suficiente para devorar duas crianças. Sentado em um tronco, soltando uns palavrões humanos por não ter conseguido seu jantar. "Devemos ir embora..." diz Esker com a voz baixa. "Claro que não, já viu algum troll em sua vida?" "Não vi, nem quero saber como ele fica zangado ao descobrir que duas crianças..." O amigo de Esker tampa a boca do próprio com as mãos e o joga no chão. "Alguém? Quem ser?" Pergunta o troll olhando para os lados procurando o som que as crianças fizeram ao abaixar. Um espirro. O troll anda em direção ao som estranho. O amigo de Esker corre e deixa o próprio para trás. "Quem. O que você é? " pergunta o troll em um tom confuso. "Por favor, não me coma...senhor troll" "Comer. Com fome estou." O troll o levanta pelo braço e o coloca de pé. "Anão?" Esker sem responder tenta fugir, mas tropeça no próprio pé. O troll solta uma risada fraca. "Anão ser engraçado" o troll novamente o levanta pelo braço. "Não gosto de anões" Esker continua mudo, pálido como a neve "Não sou anão! Meu nome é Esker!" "Esker. Animal estranho..."
  - Espera ai, seu nome é Esker? - pergunta Mirith confuso.

  - Cala a boca Mirith! Deixe-me ouvir o resto! - exclama o Gordo.

  - Page-me uma vodca e contarei o resto!

  - Asneiras! Você nem contou como conseguiu o olho ruim. - Mirith afirma com um tom triste e zangado ao mesmo tempo.
  -Chegamos! - grita Gwen.
  Chegam em Midhelm, o centro do país Humano.
  - Finalmente! - exclama o Gordo.

II

  - Então quer dizer que a loucura já tomou conta daquele lugar. Gwen, o que mais aconteceu? - pergunta o Rei Irlwon a Gwen.
  - Demônios, saíram da terra quando uma mulher se suicidou. Ela estava segurando essa criança.
  A mulher com seu filho chega perto do Rei. Ao ver a criança o Rei se espanta. Uma marca no braço da criança, a Marca do Destino.
  - Gwen, isso é estranho, levaremos essa criança ao Oráculo, talvez ela saberá o que nos responder.
  A mulher sem questionar segue o Rei até a casa da Oráculo. Uma velha cega.
  - Esta ser a criança Escolhida, a criança sagrada.
  - Criança sagrada? Não entendo... - se questiona a mulher chorando - ele é meu filho, o pai dele morreu por aquele, por aquele porco!
  Silêncio.
  - Os Deuses nunca mentem - diz a Oráculo com um tom frio.
  - O que vocês querem que eu faça então? Mate meu próprio filho? - a mulher diz cada palavra em um tom desesperado.
  - A criança não pode viver...
  Ao dizer isso, a criança começa a chorar, o chão tremer. Um barulho ensurdecedor ecoa no local. A   Oráculo pronuncia algumas palavras, e logo a tremedeira para.
  - Que merda acabo de acontecer!? - Pergunta Gwen desesperado.
  - A criança agora dorme - diz a velha -, se livrem dela o quanto antes, sinto uma força estranha saindo dela.
  - Isso é realmente necessário? Digo, é apenas uma criança! - se exalta Gwen.
  - Gwen, não discute com a Oráculo, sua palavras sempre são verdadeiras - interveio Irlwon.
  - Não digam isso na minha frente. Pra ser sincera, meu filho sempre nos trouxe problema, mas nunca tive coragem de deixa-lo sozinho... - diz a mulher no canto.
  - Não basta deixa-la, ela deve ser morta. Se ela cair nas mãos de Pha... - interveio Irlwon - se ela cair em mãos erradas, estaremos fudido!
  - Tem razão, sei oque quer dizer com "mãos erradas", eu mesmo a matarei... - diz a mulher com um tom frio, ela olha pra criança. observa.
  Dois dias se passam e a mulher esta preparada. Não é estranho esse tipo de ação, sacrificar uma criança era normal pra todos, principalmente para uma mãe.
  O local do sacrifício é no patio, onde todos podem ver, o choro de desespero da criança ecoa em toda Midhelm.
  De repente um rugido, o chão treme. O céu negro, uma sombra no sol. O tirano mostra sua aparência para todos. Os gritos desesperados das pessoas fugindo. O som da corneta de aviso sendo tocado. Outro rugido ensurdecedor. O dragão sem se preocupar voa em direção ao patio numa velocidade extrema, seu alvo, a criança. De sua boca, o fogo, casas sendo queimada, pessoas queimando. Flechas indo na direção de sua pele, porém inúteis, nenhuma penetra a pele escamosa e negra do tirano. Enfim chega no patio, com a boca aberta, abocanha a criança e parte, rumo a um lugar um desconhecido. Midhelm queima, pessoas mortas por todo lado, o choro de pessoas aterrorizadas. Irlwon, morto no chão, queimado vivo pelo tirano.

III

  - Gwen de Astória, eu, Rodrik Imperador de toda Midhelm, te nomeio Conde! Os seus atos em sua vida como comandante foram bem vistas, e agora como Conde, deve ser bem visto, e continuar assim. O futuro nos responderá.
  A cerimônia aconteceu no castelo real, cinco dias após o incidente na cidade. Gwen por sua bravura, mostrou lealdade ao Imperador Rodrik e Rei Irlwon, e agora como Conde de Midhelm, devera comandar as tropas reais contra o tirano. Um casamente devera ser feito em breve, unir forças com outros reinos é a melhor coisa a se fazer.
  O fim está próximo.

Oblivion - A Divisão dos MundosOnde histórias criam vida. Descubra agora