Prólogo

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Hope Belucci

Eu sabia o que fazer pela primeira vez na vida. Eu tinha essa certeza e estava confiante. Meu pai estava completamente apaixonado pela tal Rachel. Seis anos atrás eu estava enfurnada em um quarto chorando por descobrir que minha mãe traía meu pai, quando ela foi embora e não pensou duas vezes antes de deixar eu e minha irmã de um ano para trás.

Eu não estava chorando pelo fato de Alexa nos deixar. Eu estava decepcionada demais para pensar em viver minha vida sem minha mãe. Ela se foi com aquele estupido do Richard, sequer pensou em mim ou em Lindsay, simplesmente partiu.

Meu pai ficou arrasado, ele não comia, não trabalhava, não saía de casa, e eu tinha que cuidar de Lindsay enquanto ele se afogava no álcool e passava as noites em claro. Quando as coisas se apertaram, meu pai finalmente viu a necessidade bater e voltou - aos poucos - a trabalhar e se dedicar ao nosso sustento,

Foi numa ida e vinda da vida que meu pai conheceu Rachel. Uma bela morena de olhar profundo esverdeado e sorriso encantador. Ela era divorciada, meiga, tinha um filho um pouco mais velho que eu e trabalhava como advogada criminal. Meu pai se apaixonou em algumas semanas. Ele ainda estava hesitante pois tinha acabado de ser abandonado com duas filhas, mas o charme impecável de Rachel conquistou até mesmo Lindsay e eu.

Meu pai era juiz em um caso onde Rachel estava defendendo. Ele a via todos os dias da semana em seu trabalho, e quando meu pai começou a se arrumar mais para ir trabalhar, foi um alívio para meu peito.

Eu tinha sofrido, é claro que tinha, mas eu precisava cuidar da minha irmã caçula, e a necessidade de ser forte por Lindsay não me deixou brechas para sofrer. Eu estudava, cuidava de Lind e ainda mantinha a casa em ordem, sem contar que eu era responsável pelo almoço e jantar de lá.

Quando meu pai chegou em casa alegre, sentou para jantar à mesa e entre garfadas soltou um: "meninas, eu preciso conversar com vocês" foi uma tensão total. Lindsay já tinha cinco anos e ela já compreendia algumas situações, era uma criança muito esperta, por isso meu pai teve que explicar a nós duas o que estava havendo.

"Eu estou saindo com uma moça" ele disse.

Então ele explicou que realmente estava gostando dela havia quase um ano e estava pretendendo pedi-la em namoro para concretizar o compromisso. E então dois anos mais tarde ele estava sentado na mesma mesa, com suas filhas de sete e dezoito anos com um discurso muito parecido.

"Eu vou pedir Rachel em casamento" ele avisou.

Eu olhei de lado para observar Lindsay, mas ela não se manifestou. Nós já conhecíamos Rachel de alguns encontros, ela era simpática e muito encantadora, eu realmente gostava dela. Ela sempre estava vestida impecável, com seus cabelos lisos e escorridos, olhar enigmático e sorriso esbranquiçado.

Passamos um Natal juntos. Não toda a família. O filho dela eu nunca conheci. Ele estava estudando na França quando ela veio passar o Natal conosco, foi o primeiro ano dela longe do filho e ela precisou de distração. Rachel disse que de qualquer jeito viria passar o natal com meu pai, mas a ausência do filho a motivou mais ainda. Ela passou meia hora ao celular conversando com ele, desejando-lhes feliz natal e dizendo o quanto amava-o. Meu pai também conversou com ele e depois fomos abrir os presentes.

O problema é que nenhuma dessas notícias nos deixou tão tensas como aquela última. Eu estava estudando para a minha prova de física quando meu pai chegou, logo Lindsay passou pela sala correndo com sua boneca na mão e pulou no colo dele, que fez festa com ela. Rapidamente eu beijei seu rosto e fui servir o jantar que já estava pronto.

Era sempre assim. Ele comia, nos observava receoso, e então criava coragem para contar. Eu não estava preparada para aquela notícia, mesmo sabendo que era uma coisa natural e uma hora aconteceria.

"Meninas, nós vamos nos mudar" foi isso o que saiu de sua boca.

Tudo bem que nossa casa era humilde para um juiz como meu pai, ela era sofisticada, mas ele a tinha desde o início de sua carreira. Eu entendia a necessidade de ampliar nosso lar, afinal, outras duas pessoas estariam com a gente, mas a situação era muito mais dolorosa na pratica. Era abandonar o lugar onde eu nasci.

Lindsay estava animada com a mudança, meu pai tinha comprado uma casa enorme, de dois andares e piscina... Isso mesmo, piscina! Nem quando minha mãe... Digo, Alexia pediu para ele alugar uma casa nova ele quis. Foi por isso que eu não arrumei confusão, fui de bom grado, afinal, meu pai realmente estava gostando dela.

— Você tem certeza de que pegou tudo? — Perguntou meu pai pela milésima vez.

— Já disse que sim, pai. Eu conferi duas vezes minha bolsa, estou com minha identidade e com a certidão de nascimento da Lind. Tá tudo okay por aqui. — Falei puxando minha mala e da Lindsay com uma mão enquanto a segurava com a outra.

— Nós vamos ganhar um cachorrinho? — Perguntou Lindsay balançando a famosa boneca Momo pelo ar. Sim, Momo. Era uma boneca de pano que eu tinha comprado para ela quando ela completou três anos, e como ela embolava algumas palavras, acabava chamando a boneca de Momo, e isso ficou até os dias atuais.

— Vamos comprar um cachorrinho, meu amor, lá vamos ter espaço suficiente para criá-lo. — Meu pai garantiu enquanto mexia no celular conferindo o portão de embarque. Ele olhou em volta ainda puxando sua grande mala preta e mudou de direção. — Por aqui, nosso portão é o dez.

Fazer o embarque foi rápido, até porque pelos protestos de Lindsay sobre ficarmos na fila, fomos passados para a fila preferencial. Logo nos acomodávamos na parte dianteira da aeronave. Lindsay deu birra para ir na janelinha, e eu tive que ficar no corredor, o que eu odiava.

Quase meia hora depois o avião decolou rumo à Seattle, era isso, minha vida estava mudando. Eu havia acabado de concluir o ensino médio, estava em um avião prestes a conhecer minha nova família... Céus.

O casamento estava marcado para dali a cinco meses, e Lindsay mal podia conter a euforia em ser a dama de honra. Eu queria a felicidade do meu pai acima de tudo, entendia que aquela vaca da Alexia tinha maltratado o coração dele, quando tudo o que ele fez foi amá-la incondicionalmente, e eu torcia para que as coisas fossem diferentes com Rachel. Por isso eu fazia tudo aquilo com a mais boa vontade do mundo. Pela felicidade dele.

Mesmo que isso significasse deixar meus amigos, minha cidade, minha casa para trás.

A Filha do meu PadrastoOnde histórias criam vida. Descubra agora