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Ainda estamos no inverno, no início de janeiro, e eu não fui para casa no natal e nem ano novo, assim como todos os outros alunos do internato Melbourn Hill, onde estudo, fizeram. Eu nunca vou para casa em nenhuma ocasião, seja ela banal ou de extrema importância.

É trivial que o conceito natalino é de família junta para o celebração do nascimento do amado Jesus Cristo. Mas e se não for assim com a minha familia? E se todo o ano, eu terminar sozinha e bêbada? Seja no natal ou no ano novo.
Talvez, apenas haja dez alunos neste enorme colégio que não foram para casa para o natal ou ano novo. Todos têm algum motivo para o mesmo. E, sem dúvidas, nenhum se compara ao meu. Mas sei que eles têm motivos entre: ou não "tem" uma família, querem distância da família, ou simplesmente não quiseram viajar milhas para vê-la, visto que este colégio fica no meio do nada. Logicamente, não haveria espaço para um lugar como este na cidade. Isso aqui é absurdamente imenso, e fácil de se perder. Tem duas quadras de esportes, quatro prédios gigantes, sendo dois de dormitórios e dois dos prédios das salas de aulas (laboratório, salas comuns, teatro, sala de dança, refeitório). Tem duas piscinas, um campo enorme e uma biblioteca descomunal. É no meio do verde, de uma vasta floresta. Eu até gosto, porque tem um gigante jardim ao redor de tudo isso e o espaço livre é a melhor parte de tudo isso, de verdade. E como dito há uma floresta que nos afasta de tudo. É como um muro, que nos impede de sair daqui. Eu nunca tentei escapar por lá, porque não há necessidade. Eu tenho permissão para sair daqui a hora que quiser... só não tenho um porquê para sair e nem para onde ir.

Passei o meu natal deitada, assistindo à programas de tv de natal e alguns filmes durante a tarde. Foi bem melhor do que ouvir meu pai e minha madrasta, Sofia? elogiarem Anna, minha irmã gêmea, por ser a filha perfeita com mais notas A+ no boletim que qualquer outro aluno que já ousou entrar neste colégio. Ou então, ouvir minha madrasta dizer coisas ruins sobre mim quando ninguém está por perto, mostrando-me o quão inútil sou, apenas dizendo que sou uma jovem doente e solitária. Sofia sendo boa na frente do meu pai e de Anna e sendo má quando não estão ali para ver, é uma coisa que eu evito.

Não quero vê-los dedicando 110% de atenção e elogios à Anna, mesmo que eu a ame mais que tudo, enquanto sou excluída da minha própria família, e enquanto me mostram que nem eles se importam comigo. Eu iria, e queria ir, apenas para ver o filho de Sofia, que considero meu irmão. Ele é um doce garotinho de cinco anos chamado Henry. Ele tem olhos azuis e um cabelo castanho claro. Seu sorriso é branco e as bochechas avermelhadas são cheias de sardas fofas. Sua pele é pálida e ele possui aquela alma de criança que nunca deveria ser tirada. Ele é tão inocente e gentil. Espero que seja sempre assim e gostaria de fazer mais parte da sua vida.
Passei o ano novo bebendo e lendo. Consigo fazer os dois ao mesmo tempo, por incrível que pareça.

Os alunos voltam amanhã, segunda, para o fim das férias de final de ano. Toda essa decoração natalina idiota será retirada e eu só penso em como isso dará trabalho pela imensidão disso tudo.

Calço minhas pantufas cinza sobre minhas meias brancas e quentes e o visto um roupão amarelo juntamenta sobre minhas calças de moletom preta e minha blusa branca curta. Ponho dois cigarros e meu isqueiro no bolso do roupão e saio pelo corredor, ansiando por encontrar a cantina. Estou, definitivamente, morta de fome. Eu não como há um dia, visto que não saio do meu quarto há um dia. Ninguém me procurou ou se preocupou. Tirando as mensagens de Anna, que diziam:

"Feliz natal, maninha.
Eu queria muito que você estivesse aqui. Sinto sua falta e mal posso esperar para te ver de novo.
Henry e papai mandaram um beijo.

Eu te amo, Emma.
xoxo."

e um tempo depois, já no ano novo, mandou outra:

"Feliz ano novo, meu amor.
Espero que esse ano seja mil vezes melhor que o último. Sei que tudo vai dar certo, irmã.

The Hate Lessons | Livro IOnde histórias criam vida. Descubra agora