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| J a c k |

Esse lugar está cheio de alunos esfomeados e irritantee. Annika está ao meu lado, conversando com Jonny, um idiota que é meu amigo desde sempre.

— Repare bem em quem conseguiu arranjar um segundo amigo depois das curtas férias? Será a magia do natal? —  Annika ironiza, apontando para algum lugar.

Sigo meu olhar até onde seu dedo aponta. Vejo Emma James e o tal garoto novo, ambos rindo. Deprimente.

— Quem seria o primeiro? — Rio.

Como se a Emma fosse realmente ter algum amigo. Ela não deixa absolutamente ninguém chegar a um metro dela sem morder.

— Seu belo e gostoso parceiro. — Ela diz com sorriso. Reviro os olhos

Annika não é uma vadia, é longe disso. Ela só é extremamente chata e aquele tipo de garota que se finge de burra para conseguir algo, o que a torna ainda mais irritante quando não se é idiota para cair nessa. Ainda assim, ela é inteligente e, por vezes, suportável. É raro, pois geralmente está enchendo a porra do meu saco com coisas extremamente irritantes, como ela está fazendo bem agora, chamando minha atenção para Emma James do outro lado do salão. Annika namora o Ed, um cara ruivo e esqualido, que é bem menos filho da puta que ela.

— Não somos amigos e nunca seremos. — Respondo grosseiramente.

Óbvio que se eu fosse, algum dia, algo perto de um amigo para Emma James, eu seria mais motivo de piada que ela já é. Não penso muito sobre isso.

— Ela não é tão má, vamos lá. Você a fez parecer. — Ela diz sinceramente. Exato, ela está correta.

Quando entrei no colégio, apenas um ano antes dela, eu era solitário como ela. Quando ela entrou, passei o bastão. Foi fácil, considerando o contraste gritante entre ela e a irmã. Emma fica à margem de Anna. Sempre.

Quando uma pessoa sente pena e odeia a si mesmo, isso é o que passa para as outras pessoas, e é isso que ela transparece. Ela nem tenta disfarçar que se odeia e que sente pena do ser humano que se tornou, mas não consegue. Eu não precisei de muito esforço para as pessoas não gostarem dela ainda mais que não gostavam de mim e poder sair das sombras, porque ela mesma fez isso por si. Todos só aproveitam o que ela oferece.

— Não pedi a sua opinião. Por que não vira sua amiga, também? — Bufo — As duas são irritantes, de qualquer forma. — Direciono meu olhar à James novamente.

Ela se levanta ao lado do cara e parece estar procurando algo pelo salão. Provavelmente Anna, a única que está com ela o tempo inteiro.

— Talvez, quem sabe? — Ela sorri. — Mas não somos comparadas a você. Você é mais patético ainda, Jackson. —  Annika ri, se inclinando para o namorado ao seu lado.

— Por que você, ao invés encher a porra do meu saco e me dar uma lição de moral de merda, não se junta a ela e ao seu novo melhor amigo, que ainda não sabe nada sobre quem ela é para querer se aproximar, e fazem um trio, igual à Harry Potter, mas apenas um homem e duas mulheres. Olha, ele não ficaria tão feliz com duas garotas como vocês.

Os meus olhos permanecem em James. Ela veste a camisa de botões branca do uniforme e a saia xadrez que se aperta à sua cintura estreita. Fica bem acima dos joelhos, alongando suas pernas finas. As meias azul marinho, por outro lado, vão até um pouco antes dos joelhos ossudos. Os cabelos castanhos estão presos em um rabo de cavalo alinhado e seu rosto liso fica à mostra pelos raios solares adentrando pelas grandes janelas da cantina.
Seus olhos pousam nos meus. Eu sei o quão constrangida ela fica quando percebe alguém lhe encarando, o que só me faz ter mais vontade de encarar. Irritar Emma James é como um esporte, e a melhor parte desse esporte é a reciprocidade. Ela me odeia tanto quanto eu não a suporto.
Permaneço fitando seu rosto. Ela olha para mim com um olhar de quem está entediada das minhas palhaçadas. Passo a língua pelos lábios e cruzo os braços sobre o peito. Ela deixa a bandeja sobre a pilha e segue em direção à saída do refeitório juntamente ao aluno novo. Nossos olhos ainda estão um no outro, tensionados. Ela solta o ar pelo nariz com fúria e eu digo "não se estresse tanto, emminha", mesmo sabendo que ela não irá ouvir. Antes de sair completamente do refeitório, me dá o dedo do meio. Eu mereci, assumo.

— Você é tão fútil e babaca, que me dá pena. — Annika solta uma gargalhada singela. — Vou dar um "olá" para o garoto novo e para a "minha nova amiga". — Ela diz, revirando os olhos.

— Tediosa.— Jonny ri. — O que está havendo com essas garotas? — Ele balança a cabeça.

— Cala a boca, porra. — Digo ao me levantar.

Jonny também não está tão distante do nível de chatisse de Annika. As vezes ele consegue superá-la.

Ao sair pelas portas traseiras do prédio de aulas, retiro um cigarro do bolso e caminho até floresta depois do campo. As aulas acabaram por hoje, o que me dá um dia livre.

Caminho por dez minutos até chegar no lago do outro lado das árvores. Sento-me na grama à sua frente e fumo meu cigarro calmamente, pensando em tudo, ao mesmo que nada.

Devo admitir: As vezes, o fato de ser cruel ao extremo com as pessoas, até passa pela minha cabeça, mas eu logo ignoro. Durante toda a minha vida, as pessoas foram duras comigo e não é nada demais. Pessoas que sentem pena de si mesmas e não se dão nada de bom, escolhem serem tratadas assim. Não levo todo o crédito sozinho.

Aquela maldita época em que o Hayes era um babacão. Obrigada, tempo ❤.

The Hate Lessons | Livro IOnde histórias criam vida. Descubra agora