Constantine/Hellblazer - Despedidas em vermelho

Capítulo I

Sheffield, Inglaterra

2 dias antes

    Marc acordou naquela fria manhã de Novembro com sede, sua garganta estava seca o bastante para sentir dor ao engolir o pouco de saliva que ainda tinha, há alguns dias ele não dormia bem, suas noites eram repletas de pesadelos e alucinações provenientes de suas vidas secretas, sentia o peso de seus segredos em suas costas, sempre soube lidar com tudo aquilo, mas de uns tempos para cá seu relacionamento com a nova namorada e seus planos de construir uma família o fazia querer largar tudo, mas no fundo sabia que tais coisas eram irremediáveis, ele jamais iria se livrar de seu passado, havia cavado uma cova tão profunda que não conseguia nem ao menos enxergar sua borda, mesmo destinado a mudar de vida seus fantasmas tinham sede ao acordar. 

    O cheiro de comida azeda na geladeira se misturava com o óleo dos carros que passavam na avenida, o apartamento bagunçado o fazia tropeçar diversas vezes ao simples ato de caminhar até a cozinha e encher um copo d'agua. A cada gole seu corpo gritava, ele sentia o liquido gelado atravessar sua garganta e saciar sua ânsia aos poucos, apesar do frio Marc sentia seu corpo ferver, o mal estar de acordar o sufocava mais a cada dia.

    Sua namorada estava prestes a chegar de viagem, ele não recordava bem o dia, o papel em que anotou as informações da chegada acabara servindo de material para apertar maconha com seus amigos na noite anterior, ele se sentia péssimo, por algum momento lembrou-se do parceiro de crime Bob, como ele era engraçado, um pouco acima do peso, usava óculos fundo de garrafa e tinha calvície de modo que lhe restaram somente os cabelos atrás da orelha e na nuca, era difícil olhar para o sujeito e achar que na verdade era um dos maiores mafiosos da cidade; havia sido preso na semana passada, tudo porque um maldito hacker invadiu seu computador e vazou todas suas informações para o FBI, Bob não contou nada a respeito de Marc para a policia, Bob amava Marc mais do que somente um amigo, imaginou seu rosto enquanto era currado na cadeia por todos que estavam na cela e antes que um tijolo esmagasse sua cabeça ele se arrependeu por nunca antes ter dito a verdade para o amor de sua vida, agora era tarde demais, o sangue escorria pelo chão e a noticia da barbárie não chegou nem aos ouvidos do diretor, para Marc seu parceiro ainda estava vivo e esperava ansiosamente a visita de sua mulher que estava grávida do segundo filho.

    Quando estamos afogados em nossos próprios erros se torna difícil enxergar a superfície, pois nem sempre sabemos o que está errado e quando sabemos o sentido de se estar errado é deturpado, aprendemos a conviver com isso, talvez só atingindo a superfície que conseguimos enxergar o mar por completo, porém ao decorrer que afundamos chegamos ao ponto de não sabermos mais para que direção se nada e assim morremos no esforço para superfície.

    Marc estava sentado na frente de seu computador, naquele momento tudo havia congelado, o telefone não tocava, os carros pararam de buzinar, o cachorro do vizinho parara de latir, ele ouvia somente sua respiração e o barulho da saliva passando pela garganta como uma rocha. A tela do aparelho estava preta e em verde estava escrito.

 COELHO BRANCO – EU ACHEI VOCÊ

    O mundo de Marc havia desmoronado naquele dia, naquele momento ele queria novamente seus pesadelos, pois agora estar acordado era sua pior sentença, aquela mensagem havia sido a sentença do pobre Bob e de todos seus parceiros, só havia uma última peça a ser derrubada, era a vez de Marc, naquele momento toda sua vida estava nas mãos daquele maldito hacker, não havia vazado somente as provas do envolvimento dele com Bob, mas as evidências fotográficas de seu envolvimento com pornografia infantil, tudo estava perdido, na mensagem eletrônica sua namorada anunciava que o teste de gravidez havia dado positivo e estava viajando para casa naquela noite.

    Marc sentia sede.