Constantine/Hellblazer - Despedidas em vermelho

Epílogo

    De volta para a cinza Londres, a cidade grita ao céu escuro, bebe de uma velha magia e engasga, as pessoas comentam sobre atrocidades que ocorreram dias anteriores, um mendigo foi encontrado desossado e marcado com pentagramas em um beco na madrugada passada, um homem tomado por uma ira diabólica matou toda sua família no fim de semana e mesmo após prenderem o maior suspeito, crianças continuam desaparecendo e sendo encontradas mortas com marcas de rituais pagãos. A população borbulha seu medo, o inferno está inquieto, prestes a explodir, o céu é vermelho, há sangue inocente no asfalto, volto a ouvir pessoas gritando meu nome, mas dessa vez eu sei que não é nenhum amigo do passado, respiro fundo, ascendo mais um cigarro e dou um longo trago – Estou de volta ao lar!

    O velho apartamento me trás uma nostalgia em forma de mofo e goteiras, deixo meu casaco na entrada e vou a cozinha preparar um café, tento recordar de como andava minha vida antes de Sheffield. Enquanto coloco a água no fogo sinto um frio na espinha, fico ser ar por um instante, a porta do quarto se abre com o vento, caminho me agarrando as paredes, o tempo para, tudo fica em silêncio, vejo Lucille sentada na minha cama, está radiante como um anjo, sua luz ilumina aquele apartamento imundo, está vestida como da primeira vez que nos vimos, ela era a criança sonhadora novamente, eu não tinha mais perguntas a fazer, tudo estava claro agora, com sua voz suave ela fala – Bem vindo de volta John! – Engulo as lágrimas e respondo com um sorriso, ela sorri de volta e então desaparece me deixando para trás, eu despenco em silêncio e tristeza.

    Bem vindo de volta John!

Amadeus A. Macedo

24 de Janeiro de 2016

    'They sat together in the park/ as the evening sky grew dark/ She looked at him and he felt a spark/ Tingle to his bones/ It was then he felt alone/ And wished that he'd gone straight/ And watched out for a simple twist of fate'

[Bod Dylan – Simple twist of fate]

[Sentaram-se os dois no parque um dia / Enquanto o céu da tarde escurecia, / Ela o olhou, e ele sentiu que o consumia / Uma chama - até os ossos. / Sentiu-se então só e com remorsos/ Por ter cometido tanto desatino / E esperou por uma simples guinada do destino.]