Três

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As palavras ditas por Mark ainda ecoavam na mente de Valentina. Não podia ser verdade, por mais que tudo indicasse que era. A cabeça da garota girava, talvez tivesse exagerado na bebida. Ela andava pela rua aos tropeços, sua sorte era que estava tarde demais para ter movimento na rua, senão provavelmente já teria sido atropelada.

– Valentina? – Chamou uma voz, a garota a reconheceu no mesmo instante. Ela parou, sem saber o que fazer. Lentamente, as lembranças a atingiram. A igreja em chamas queimava em sua mente. Seus gritos desesperados reverberavam. Nunca sentira desespero maior. Vira um vulto saindo do local  poucos instantes de o fogo se alastrar por toda a parte e correra atrás deste, floresta adentro. Poderia ser o culpado. Mark tentou impedí-la, mas não conseguiu.

Enquanto perseguia a figura até então desconhecida, notou alguns pontos. Pelo porte físico, podia-se dizer que era uma mulher e tinha cabelos curtos, pois se não fossem deveriam estar agitados. A garota percebeu que estava sendo seguida e virou a cabeça de relance, o que foi o bastante para  Valentina reconhecer seu rosto. Era Lídia, a única pessoa em que confiava em toda Paradise, com exceção de Mark. Valentina parou e se escondeu atrás de uma árvore por instinto, observando a garota procurar por quem a seguia. Sem nada encontrar, continuou a correr, Valentina deixou a garota ir. Pensou em voltar para a igreja, mas ouviu as sirenes.

– Ei, Valentina? É você mesmo? – Lídia quebrou o devaneio da garota, que se virou lentamente, abrindo um sorriso falso. 

– Olá Lídia, como vai? – as palavras não saíram do jeito que ela esperava, mas parecia ter soado amigável.

– Estou ótima, ao contrário de você... – Respondeu, olhando-a de cima abaixo – Venha, vamos para casa, a gente aproveita e coloca o papo em dia – Lídia  dizia com naturalidade. Valentina não tinha como recusar, já que, se não fosse por Lídia, teria caído no chão naquele momento.

A garota conduziu Valentina até sua caminhonete, uma Chevrolet D20. Na verdade o carro era do pai de Lídia, ela provavelmente o pegara enquanto o homem dormia. Lídia abriu a porta para a garota, que cambaleava e colocou-a sentada no banco. Valentina protestava, a fala arrastada. Lídia deu a volta no veículo e entrou pela porta do motorista.

– Me leve para casa – Valentina pediu, encostando-se no vidro.

– Claro Valentina, levo sim, para teu pai ver que você está totalmente bêbada e te colocar para fora de casa, vai ser o máximo – A garota ironizou – Amanhã te levo lá, ok? – A garota não recebeu resposta – Valentina? – Lídia a olhou, ela dormia profundamente.

 Valentina abriu os olhos. Uma sensação de déjà vu a invadiu. Aquilo definitivamente já acontecera. Olhou em volta. O lugar não mudara nada desde a última vez. Estava no sótão da casa de Lídia, deitada num colchão velho rasgado aqui e ali. Havia também alguns móveis inutilizados espalhados pelo local.

Valentina se sentou. Sua memória era imagens desconexas da noite passada. Precisava sair dali. O volume da voz de Lídia aumentava à medida que ela se aproximava pelas escadas. Ela falava no telefone.

– Ela está aqui – Lídia apareceu no topo da escada e parou, não esperava ver Valentina acordada. A pessoa do outro lado da linha respondeu – Claro, claro, eu levo ela aí – Valentina percebeu que Lídia falava dela – Tudo bem, até logo – Lídia se despediu.

– Que foi? – Valentina perguntou, calçando os sapatos. O rosto da garota ruiva adquiriu um tom sério.

–  Helen Casanova quer te ver – Valentina gelou ao ouvir o nome da mãe de William.

Paradise CityWhere stories live. Discover now