Louis

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Gemma deveria ser amaldiçoada por sua existência, definitivamente. Ela estava cansada de saber que eu não sabia andar por Londres direito, mesmo vivendo ali há certo tempo, e tinha essa necessidade absurda de me ver sofrendo pelas ruas, sem rumo e tendo que pedir informações para pessoas bastante esquisitas, homens que mais pareciam estupradores em potencial ou assaltantes de algum filme de ação bizarro dos anos oitenta.

Havia me encontrado com Gemz, há algumas horas, para que me desse a chave extra do apartamento do irmão e pudesse me ajudar a levar minhas coisas para o meu mais novo "lar". Gemma havia me buscado na casa de Timothy, o primo bastardo, e fomos de mala e cuia até aquela parte mais enriquecida da cidade, completamente cercada de prédios monstruosos, riquinhos e socialites metidas a besta. Era completamente estranho me imaginar morando naquele lugar, mas era o que "tinha para hoje", então não iria bancar o falso insatisfeito. Aquilo era demais sim!

Gemma estava toda pomposa, trajando aquele vestido azul e sapatos de marca, e que me faziam sentir que eu era um mendigo ao seu lado, cabelo bem arrumado e parecendo gente, quando eu entrei no carro e desatei a rir. Foi uma das coisas mais bizarras que eu já tinha visto na vida, desde que Gemma era conhecida por viver com a suas camisas de banda ou xadrez, jeans justas (ou ás vezes até mini-saias para mostrar suas pernas branquelas) e cabelo sempre escondido por uma touca ou sempre com alguma mecha colorida, ou sobrevivente de uma de suas aventuras capilares bizarras. E lá estava ela: parecendo uma patricinha de primeira, provavelmente para o orgulho dos pais e do irmão.

Ela estava atrasada, o irmão casaria em poucas horas e Gemma precisava despachar o amiguinho aqui em um ponto muito distante do apartamento de seu irmão, por ter reparado que uma das ruas estava fechada para manutenção do asfalto, ou o que quer que seja, e pegar um retorno faria com que ela chegasse ainda mais tarde do que o esperado na igreja. E eu, perdido naquela cidade que parecia dar nós em minha cabeça, havia demorado precisamente quarenta e seis minutos para achar o enorme prédio de arquitetura moderna e bem localizado em uma das ruas com maior concentração de riquinhos esnobes da região.

É claro que eu não precisava nem mencionar que quase todas as pessoas na rua olhavam para o garoto estranho aqui, mal conseguindo carregar três malas enormes e as cases de seu violão e de sua guitarra (além de uma mochila gigantesca nas costas), vestindo jeans rasgados e camisa surrada dos Rolling Stones, tênis mais sujos do que as ruas de Londres e cabelo completamente despenteado, como se eu houvesse recém saído do olho de um furacão. Eu era um desastre ambulante e até que gostava daquilo.

Era meio óbvio que, assim que eu entrasse no prédio bem arrumado, metade dos moradores e o porteiro iriam me olhar como um extraterrestre e foi o que aconteceu. O homem que guardava a entrada do prédio, bem vestido em seu terno e gravata, demorou longos minutos para me deixar entrar e seguir até o elevador, me fazendo responder um questionário desnecessário, até que eu tive que fazê-lo ligar para Gemma, a fim de confirmar que eu estaria passando uma temporada ali. Depois de deixar minha melhor amiga extremamente irritada com sua má vontade em me deixar entrar naquele antro de riqueza, o homem me deixou rumar até o elevador, sem nem ao menos me ajudar a colocar as malas e minhas mil coisas dentro daquela merda.

Indignado, segui até o décimo terceiro andar, pacientemente, já me conformando que aquele tipo de vida cheia de frescuras não era para mim, Louis não era o cara mais paciente do mundo com gente daquele tipo. Eu não sabia lidar com aquele preconceito ridículo, com aquele homem esnobe e mal educado, eu nem ao menos sabia mexer no elevador direito e ainda demorei uma eternidade para conseguir abrir a porta de um dos apartamentos daquele andar (o décimo terceiro aparentemente era o mais renomado de todos, já que só possuía dois apartamentos), largar minhas coisas no interior de tal, fechá-la e ligar o interruptor em um soco não muito delicado, a fim de dar uma olhada no que seria o meu teto provisório.

Burn Bright || L.S. VersionOnde histórias criam vida. Descubra agora