Nível 03 da Obsessão‏

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Saí sem destino.

Tudo o que quero é poder esquecer esses três últimos dias, achava que essas seriam as férias mais memoráveis e felizes da minha vida, no entanto, acho que vão ficar mesmo só para memoráveis de um jeito depressivo e apavorante.

Já são dez da noite aqui, passei a tarde toda num táxi, me esquivando da ideia de ter que "ver" Jack Carsson de novo. Andei pelo centro, fui numa biblioteca, comprei livros num shopping, e agora estou aqui, de frente para uma lojinha de artigos bregas, analisando as pessoas entrarem e saírem com sacolas.

Isso é tão eu.

Duda, a deslocada, Duda, a isolada, Duda, a sem amigos para se divertir, a garota que prefere livros, ficar deitada numa cama sozinha... e blá, blá, blá!

Mamãe vive falando isso para mim, que devo sair mais, me divertir mais, bem, de que serviram os conselhos dela? Segui eles... droga, e olha no que deu?

Posso estar grávida de um maníaco agora, ou doente, como poderia acreditar nele? Eu não!

Quero apenas esquecer tudo, Sah já me ligou doze vezes—sim, ela é outra desequilibrada—atrás de mim, não atendi, ignorei as mensagens, e ainda bem que eu não trouxe o Iphone, me recuso a ficar olhando para ele, na realidade, eu me recuso a qualquer coisa que lembre Jack. Estou tentando esquecer ele, e sei que todo esse processo vai demorar.

Eu sou assim com as pessoas, se elas me decepcionam, eu apenas me afasto e tento apagar elas da minha vida, não deixo de ser educada, mas eu as ignoro completamente. Mamãe me chama de extremista e Sah de ignorante, mas no fundo, sei que não sei lidar com decepção ou coisas do tipo.

Afasto o medo da minha consciência, meu bom senso mandei para casa do caralho mesmo. Suspiro, acho que já está na hora de voltar para o hotel, mas eu não quero voltar, não se isso significar ter que lidar com tudo. Eu nunca fujo de nenhuma situação, mas essa... essa me pôs para correr.

Me ergo, pegando as sacolas da livraria, talvez ainda tenha uns dois mil dólares na minha conta, juntei cada centavo para gastar nesses dias, e é incrível como agora não tenho um pingo de prazer em gastá-los.

Eu mal abaixo para pegar as minhas sacolas—com uns vinte romances que estavam na promoção—quando vejo sapatos reluzentes, suspiro, mais triste que irritada, estou tão cansada disso, ele poderia me dar um tempo?

— Senhorita!

Olaf, como eu te odeio, vai a merda!

Ele está com o rosto sério, parece irritado, mas se tratando de um robô sem emoções, eu também não julgo, porém, algo dentro de mim queima quando ele estende o Iphone dele, o mesmo de hoje cedo, me sinto tensa, não quero pegar. Os olhos de Olaf faíscam, ele está mais sério, sinto medo.

—Pegue!

É UMA ORDEM?

—Eu não...

— Senhorita, por favor!

Entendo o que ele fala, ele segue ordens do demônio, sinto vontade de jogar as sacolas nele e sair correndo, mas eu nunca faria isso, faria? Ele tem culpa? Me sinto mal, talvez o homem perca seu emprego, deixo as sacolas no chão e pego o celular.

—Onde você está?—soa a voz furiosa do outro lado da linha.

—Eu sai para dar uma volta.

—Por que não levou o celular?

Poderosa Obsessão (livro I) - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora