Void Dylan

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Luke era uma galã, isso é um fato que para você descobri não precisa conviver com ele por muito tempo. Observo mais uma venda bem sucedida dele para ninguém menos do que uma garota. Depois dessa venda ele vem até mim.
-Como vão as suas vendas Valerie? - impossível não perceber o tom de sarcasmo.
-Ruins, acho que vou ter que usar mais maquiagem amanhã.
-O que você quer dizer com isso?- ele arqueia as sombrancelhas e eu dou um sorriso irônico.
-Que o motivo de você vender bem, não é sua lábia e sim sua aparência.
-Tá dizendo que eu sou bonito?
-Se eu disser que é feio vai ser mentira.
-Formariamos um belo casal, o gatão e a gatinha.
-Acho que não Hemmings. - digo e vou até algum cliente.

Quando encontro aquele par de olhos castanhos debaixo dos óculos de grau...enfim, melhor parar antes que saia uma frase clichê.
-Dylan! Que surpresa. - não ganho um sorriso. -Veio comprar um livro?
-Não gosto de ler. - ele diz em um tom amargo - vim comprar um box de série.
-Ah.. Posso ajudar então. Te levo lá.
-Eu sei o caminho.
-Posso ajudar você?- Luke surge das cinzas.
-Eu to atendendo ele Luke. - digo
-Mas parece que ele não quer ser atendido por você.- ignoro e sorrio pro Dylan.
-Série específica?- pergunto.
Dylan fica com os olhos escuros e muito sério.
-How I Met Your Mother. A terceira temporada.
-Vem, sei exatamente onde está. Luke tem várias garotas esperando pra serem atendidas por você, vai lá. - digo sorrindo e saindo, deixando o loiro com uma cara muito raivosa.
Qual o problema desses garotos?
-Me desculpa pelo novato, ele vive me atrapalhando.
-Ele foi seu imprevisto ontem?
-Am...foi, mas ele não é sempre assim, quando não ta sendo inconveniente ele é legal.
-Bom saber. - ele diz seco olhando pros filmes enfileirados.
-Aqui, How I Met Your Mother a terceira temporada. Esse seriado é legal?
-Bastante, é comédia.
-Ah... Dylan tá tudo bem? - não consigo deixar de perguntar.
-Claro! Por que acha que não estaria?
-Porque você ta sendo frio, como quando nós nos conhecemos. Não gosto disso.
-Eu já disse que não quero ser seu amigo.
-Bem, eu nunca disse que éramos.
-Você acha que eu sou burro? Eu sei que é exatamente o que você quer. Ou até mais. - ele diz com um sorriso muito maldoso.
Minhas bochechas queimam e fico com raiva de mim mesma por deixar isso acontecer.
-Quero entender por que você não quer amigos, eu...
Ele bate o DVD na mão com força e fala bem alto.
-EU NÃO! Eu..- ele começa normalizando o tom. Todos da loja nos observam, inclusive o Luke.
-Chega! Dane-se por que você não quer amigos, que se dane tudo Dylan! Eu cansei.. -sinto meus olhos arderem  e começarem a marejar. - Não se preocupe mais comigo, eu não vou mais ser um fardo que você tem que aguentar!
-Valerie..- ouço ele chamar, mas saio as pressas pro vestiário, que é pequeno, mas agora me parece seguro.
Acabo desabando escondida atrás de um armário. Choro bastante, eu sempre chorei por tudo.
Chorei quando encontrei um passarinho morto.
Chorei assistindo Up- Altas Aventuras.
Chorei quando um garoto arrancou o braço de uma das minhas bonecas.
E chorei quando o único garoto que me parecia bom o bastante disse que não queria amigos, aliás, quando ele disse que não me queria como amiga.

Vejo Luke entrando no vestiário, as brincadeiras dele são tudo que eu menos preciso agora.
-Luke eu não to pra piadinhas agora. -digo limpando as lágrimas que insistem em cair. Amiguinhas vocês saem do meu corpo! Me obedeçam!
-Não vim fazer piada, vim saber se você tá bem.
Dou um risada de deboche.
-Pareço bem?
-Parece alguém que levou um fora. - olho sério pra ele. - Seja lá quem for ele,  não sabe o que perdeu! Você é bonita, inteligente e tem um senso de humor ácido!
-Luke ele não era meu namorado e eu não tava flertando com ele.
-Não? Então...?
-Um conhecido.
-Nossa, que conhecido!- ele diz em desdém.
-Preciso ir. - Olho o relógio da parede 15:00 horas. Ótimo!
-Eu te levo!- Luke diz se levantando junto comigo.
-Luke eu já disse...- ele põe o indicador nos meu lábios me fazendo parar de falar, o encaro como se ele fosse um mostro de três olhos, seis pés e oito caldas.
-Isso você disse ontem. Hoje é um novo dia, de um novo tempo que começou. E se você rir significa sim.
Acabo rindo com a musiquinha da globo. Ele me puxa pra fora do vestiário.
-Minha roupa seu idiota!- digo, embora estivesse sorrindo.
-Vai pegar. Dãã!
É, talvez não seja uma má ideia pegar uma carona com o Luke.

-Uma moto?! Você tá brincando, né?- pergunto incrédula! Morro de medo disso.
-Não, vai me dizer que tá com medo?
-Claro que tô! Sabe quantos acidentes acontecem com moto todos os anos?
-E sabe quantos acidentes acontecem com carros? Ônibus?
-Am...Luke não dá! Vou andando. - ele me puxa de volta. - Aff! Quando você vai parar de ficar me puxando?
-Quando você parar de fugir ou esquivar! Sobe ai! - ele diz colocando o capassete e me dando um.
Acabo subindo, to tão na fossa que andar de moto nem me parece tão ruim assim. Ouço um barulho assustador.
-O que foi isso?
-O motor da moto.
É ruim sim! É ruim! Muito ruim! Eu quero descer!!!!
Abraço ele super forte. Questão de segurança.

Finalmente solo. Saio da moto tremendo.
-E ai? Gostou? - Luke pergunta tirando o capassete.
-Ah eu amei, vamos de novo?- Digo com o máximo tom de sarcasmo possível.
-Combinaremos. - olho pro outro lado da rua. Que saco! - Quem mora lá?- ele pergunta seguindo meu olhar.
-Dylan...- ao encarar o olhar confuso dele digo: ele mora ai!
-Ah, ei! Olha pra mim. - ele diz virando meu rosto pra ele. - Esse cara é um mané! Amanhã a noite minha banda vai fazer um show no porão da casa do meu amigo. Vai ser legal, quer ir?
-Você tem uma banda? E o porão do seu amigo é tão grande assim pra um show?
-Sim e sim, você nem faz ideia.
-Vou pensar, pretendo ficar na fossa hoje. -digo fazendo uma careta.  - Qualquer coisa eu te ligo.
-Sabe meu número?
-Não, tava esperando você perguntar o meu, mas como eu vou ligar me diz ai.
Pego um papel e uma caneta.
-Espero que você ligue! Mesmo!
-Desesperado hein?
-Quanto antes você esquecer o otário do outro lado da rua, antes eu vou ter chance.
Dou uma risada mucho loca! -Qiçu?-
-Você é demais! Até amanhã no trabalho.
-Até morena. - ele diz e me dá um beijo na bochecha. Nem fiquei surpresa como antes, por isso ruborizei.
Hum hum. Chega de usar o coração.

Why don't you love me?
Touch me! Tell me I'm Your everything
The air you breath
Why don't you love me?
Baby open up Your heart tonight
'Cause I could be all that you need

A campainha toca. Ô coisa, hein! Ninguém em casa, ninguém pra atender a porta. Não se pode nem curtir uma fossa em paz!
Ao abrir a porta tive certeza de três coisas:
1°: Dylan estava na porta.
2°: Eu ia me desequilibrar de nervoso
3°: E de raiva!
- O que você ta fazendo aqui?
-Vim conversar.
-Pena que eu não quero.
-Então apenas me escuta!- cruzo os braços e penas encaro ele. -Sei que eu fui rude com você, mas eu.. Eu estava estressado, pelo o que aconteceu ontem. Ou pelo o que quase aconteceu, eu to com medo.
-De quê?!- pergunto meio..desesperada.
-De...eu querer ser seu amigo.
-Por que não quer amigos?!
-Não importa!
-É claro que importa!- vejo que ele ia falar mas gesticulo pra ele não dizer nada. - Minha vez de falar! Eu to cansada disso! De não saber por que você não quer amigos, de ficar que nem uma ridícula sendo legal e vendo todo o meu esforço ser em vão! Eu preciso saber, porque se não, vou acabar achando que é problema é comigo. - digo tudo isso com um bando de lágrimas saindo. Droga.
-O problema não é você! É o meu...trauma.
-Que trauma Dylan?!
-Eu...não quero falar sobre isso. - ele tira os óculos e vejo o quanto ele parece exausto. -Eu sinto muito... - ele diz saindo.
Me sento no sofá e consigo ouvir a próxima música.
Ooh but these three words I have to say to you
My baby blue you Know it's true
I love you..

O que quê eu to fazendo da minha vida?!

Meu vizinho geekOnde histórias criam vida. Descubra agora