Prólogo

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PRÓLOGO


Passado...


Um punho atinge a minha mandíbula.

A força do impacto faz com que eu tropece e esbarre em uma mesa. Imediatamente ele está em cima de mim, tentando acerta-me outra vez, no mesmo lugar. Ele sabe que eu odeio quando ele acerta o meu rosto. Estou acostumado a apanhar, e a bater, bater muito. Mas o meu rosto é um limite que eu não gosto que ele ultrapasse, aliás, que ninguém ultrapasse. É pessoal, uma escolha. Marcas no meu rosto fazem com que eu me sinta fraco, impotente.

Minha mãe me fez prometer que eu seria forte, que eu nunca deixaria nada nem ninguém me atingir. Quando ela se foi, fez questão de me lembrar de que eu deveria cumprir essa promessa. E eu jurei a ela, segundos antes que partisse que eu nunca seria fraco, nunca. É por isso que estou com raiva, crescente, agonizante. Estou tremendo, meu corpo todo vibrando enquanto o ódio emana do meu corpo de uma maneira tão forte que eu posso senti-lo. Ele também pode. Eu gosto que ele saiba que eu estou ficando bravo. Por que é quando ele tem medo de mim.

Ele vem pra cima outra vez e tenta o mesmo golpe. Desta vez, não deixo que me atinja. Esquivo-me e consigo me virar rápido o suficiente para acerta-lo nas costelas. Ele grunhe, mas se recupera rapidamente e consegue me bater outra vez. No rosto, minha bochecha direita. Trinco os meus dentes com tanta força que eu posso escuta-los raspando um contra o outro. Cuspo no chão, minha saliva é vermelha manchada com o meu sangue. Cansei de brincar.

— Seu moleque desgraçado... — Ele investe na minha direção, esquivo-me outra vez. — Quero você na rua hoje. Na rua, está me entendendo?

— Foda-se. — resmungo. Não tenho nada a dizer. Estou cansado de viver com ele, estou cansado da fazenda. A única coisa que me prendia aquele lugar era a minha mãe. Agora ela se foi, e eu também posso ir.

— Eu devia ter acabado com você quando tive a chance, moleque filho da puta. — Ele levanta o punho outra vez. Eu não vou deixa-lo me bater. Não importa que ele seja o meu padrasto. Não importa que ele seja o pai do meu meio-irmão. Ou que ele vive na fazenda que deveria ser minha. Recuso-me a continuar sendo seu saco de pancadas. Apanhei a minha vida toda por ela, pela minha mãe. Ela nunca pode me defender, então eu a defendia. Mas isso acaba aqui, por que agora eu sou sozinho.

— Isso tudo acaba hoje. — rosnei, e então cai em cima dele. Depositando soco após soco, sem piedade. Aproveitando meu único momento para fazê-lo pagar por tudo o que fez contra mim, e contra a minha mãe. Tomado por um acesso de raiva tão intenso que eu simplesmente não sinto a carne dos nós dos meus dedos se rasgando enquanto eu bato nele repetidas vezes. No rosto, em todo o seu rosto. Quero deixar marcas, como as que ele deixou em mim. Quero que ele tenha cicatrizes, como as que fez em mim. Quero que ele se lembre em cada maldito dia da sua vida que fui eu que causei essa dor nele.

— Shawn! — Mãos firmes agarram os meus ombros e me puxam com força. Caio para trás, e meus punhos são afastados do meu alvo. Meu irmão me empurra para longe do homem praticamente inconsciente no chão. O homem que é seu pai, mas que nunca foi nada para mim. Nada. — Mas que porra... Shawn o que você pensa que está fazendo?

— Ele começou. — cuspo.

— É claro que ele começou. — Stanley olha para o seu pai, no chão, praticamente apagado e suspira. Ele gosta do pai, ele ama o pai. Eu entendo e não o culpo, por que ele é o seu pai verdadeiro e nunca fez nada contra ele. Quanto a mim, eu nunca fui considerado seu filho, sou um bastardo. Fui seu saco de pancadas por dez anos, apenas isso. — Ele está bêbado, você sabe que ele só faz isso quando está bêbado.

Sr.Thorne \ Sociedade Escarlate - Vol. I (DEGUSTAÇÃO!)Onde histórias criam vida. Descubra agora