O vento gélido da noite contrastava com a bebida quente e amarga descendo por sua garganta mais uma vez, aos poucos o álcool se misturava com a nicotina sugada pelos lábios de Way. A cada passo dado com receio do que estava por vir havia a sensação de que a qualquer momento seus joelhos falhariam e ele desabaria. Com a caminhada lenta e coração descompassado o rapaz foi mais além do que esperava, faltavam apenas alguns metros para chegar ao seu pior pesadelo.
"-Eu nunca vou desistir de você, ouviu bem? Nunca.
-Eu amo você, Gee.
-Eu amo você, Frankie."As luzes da festa já eram visíveis, assim como o barulho da banda era perceptível, apesar de Gerard não conseguir identificar a música tocada. Pensamentos conturbados invadiam a mente do moreno, ele deveria mesmo estar ali? Talvez estivesse caminhando para a sua própria morte.
Flashbacks desconexos passavam pela sua mente, já tomada pelo álcool. "Como eu pude deixar isso acontecer?" era o seu mantra do momento.
"-Você precisa se cuidar, Gerard! -Gritou Frank. -Você está se matando, se afogando nessa porra de depressão, você precisa de ajuda. Me deixe te ajudar, Gee...
-Cala a boca Iero, você não sabe de nada! -Disse Gerard atropelando as palavras. -Eu não preciso de ajuda, eu não preciso de você! Sai daqui, Frank, some.
-Não me procure mais, Gerard. Nunca mais. -Disse Frank com lágrimas iradas nos olhos, andando rapidamente até a porta e deixando o maior para trás. A porta foi batida com força, como se Frank depositasse toda a sua mágoa ali, mas aquilo não era nem metade."Naquele dia Gerard não percebeu o que havia feito, estava comandado pelas drogas e não pela razão, mas é claro que uma hora o efeito passou. Ele foi lembrando aos poucos do ocorrido, ligou várias vezes para Frank que atendeu na décima sétima chamada só para proferir um "Vai se foder, Way." e desligar segundos depois. Gerard não tentou contactá-lo após isso, talvez Frank estivesse melhor sem ele, talvez encontrasse alguém melhor. Às vezes ligava para Bob ou Mikey para saber do menor, mas os amigos apenas respondiam "Ele está bem." geralmente acompanhado de um rigoroso "Deixe-o em paz, Gee.". Sua raiva de si mesmo era maior que tudo, Frank tentou ajudá-lo desde a morte de Helena Way, avó de Gerard, ele sempre esteve ali acompanhando os passos do maior, apesar da dificuldade. Suas noites de crise, choro compulsivo e pesadelos eram recorrentes, mas mesmo assim, Iero permanecia ali, cuidando de seu companheiro.
Agora lá estava Gerard, em frente a casa de Frank Iero, cinco anos depois. Ele havia se casado há poucas horas, numa igreja, por mais inacreditável que pareça por vir de alguém como ele. Casou-se com uma mulher, Jamia Nestor, agora Jamia Iero. Isso causava náuseas em Gerard, pensar em Frank compartilhando seu sobrenome com alguém senão ele.
O rapaz estava a uma distância segura de onde ocorria a comemoração, já podia enxergar Bob e Mikey, padrinhos de Jamia e Frank, bebendo animadamente e batucando na mesa com os dedos. Agora a idéia de estar ali era totalmente idiota aos olhos dele. O que ele pensava? Que iria chegar ali, ver Frank, trocar algumas palavras tolas e retomar o seu companheiro? Era exatamente isso, mas na cabeça dele o plano parecia mais palpável.
Ele acendeu mais um cigarro antes de caminhar firmemente até a porta de entrada da casa que estava aberta, enfeitada com balões brancos e dourados, indo em direção ao quintal. Havia gente desconhecida por toda a casa, Frank nunca deixaria isso acontecer e nem daria uma festa assim.
Quando chegou na porta dos fundos analisou o local rapidamente com o olhar procurando Frank e felizmente ou infelizmente o achou, de terno e gravata vermelha beijando a mulher morena com um vestido que parecia um bolo. Ele não aguentaria isso, não ver os lábios finos de Frank beijando aquela mulher, não o seu Frank. Gerard esperava ver algo assim, mas não estava pronto. Sentiu vontade de chorar, de correr, de gritar, de desabar. Seu coração acelerou e seu sangue pareceu ferver, ele realmente não deveria estar ali. Gerard correu para sair dali como Frank fez quando o deixou, sentou-se na gramado que enfeitava a frente da casa dos Iero, num canto mal iluminado onde as pessoas provavelmente não o veriam e finalmente deixou as lágrimas jorrarem.
-Eu falhei.. Falhei miseravelmente. Sou eu quem deveria fazê-lo feliz. Eu nunca deveria ter agido daquela forma, nunca deveria ter me deixado cair. Eu não queria que fosse assim. Eu só precisava afastá-lo para não o machucar... eu o decepcionei. Perdi ele por medo de perdê-lo. -Disse Way em meio aos soluços. -Me perdoa Frankie, me perdoa amor.
-E-eu não acredito que você está aqui. -Falou Frank, como se dissesse para si mesmo, tentando processar o que estava acontecendo.
-Desculpa, desculpa, eu já estou indo. -Disse Gerard assustado com a presença do rapaz, levantou-se rapidamente e andou em direção a rua.
-Espera, fica! -Gritou o baixinho sem muita certeza. Gerard virou a cabeça se perguntando se aquilo era mesmo real, se era mesmo Frank ali em pé pedindo para ele ficar. Ele pensou que Frank ainda estaria puto da vida e que o mandaria embora, não esperou o contrário. -O que você está fazendo aqui?
-Eu vim ver você, saber se era verdade. Foi uma idéia idiota, eu sei. Eu estou na festa de casamento do cara que eu amo, é patético. -Iero o encarava com uma expressão surpresa, ele não esperava ouvir isso assim como Gerard não esperava ter proferido.
-Droga Way! Por que você apareceu agora? Justo agora que eu estava finalmente te esquecendo? Você é impossível, cara.
-Me perdoa Frank... por tudo. Eu só quero que você seja feliz. -Articulou o maior com toda a sinceridade possível. -Eu não deveria estar aqui, foi um erro, mas eu precisava cair na real, perceber que você realmente está feliz e que seguiu em frente.
-Você é realmente muito babaca, Way. Você vem até aqui na porra da minha festa de casamento, me faz estremecer só de te ver ali na soleira da minha porta com um cigarro entre os lábios, desenterra do inferno tudo o que eu sentia por você em menos de 2 minutos como se eu fosse a porra de uma garotinha de um livro do John Green e agora você diz que foi a droga de um erro. -Disse Frank sem pensar, colocando a mão na cabeça e tentando se convencer do quão estúpido era aquilo.
-Só me diz... Me diz se você está minimamente feliz e que eu devo te deixar partir.
-Não, eu não estou feliz, Gerard. Mas eu vou aprender a ficar, estou aprendendo a lidar com tudo isso, apesar do tempo. E você não pode me deixar partir agora, você já fez isso há muito tempo atrás. -Proferiu Frank, sentindo a dor do peso de cada palavra que para Gerard era esmagadora. -Mas mesmo assim, mesmo ainda te tendo dentro de mim, eu não vou deixar você voltar para a minha vida, Way. Não depois de tudo que eu passei por você.
-Eu sabia que você seria forte. Eu entendo o seu lado e não vou mais atrapalhar você, dessa vez definitivamente. -Disse Gerard firmemente, mas com a garganta apertada. -Mas eu sempre amarei você, Frankie. Você é a minha ruína. -Essa frase foi dita com dor, foi dita como um pacto selado. Aquele era o fardo de Gerard Way, a sua destruição que ele mesmo causou.Frank ainda tentou falar algo mais, porém Gerard já estava decidido, ele nunca mais incomodaria Frank, o menor deveria ter a chance de ser feliz. Ele caminhou lentamente, não pensando em absolutamente nada, somente sentindo a sua dor.
Frank ficou ali, parado, vendo Gerard partir. Ele sentiu que havia feito o que deveria, não deixaria mais Way tomar conta dos seu pensamentos e atos, apesar de saber que Gerard sempre faria parte dele, como um fragmento de sua alma quebrada.
Gerard caminhou por horas sem contar e quando chegou em casa, ou no buraco que chamava de casa, apenas entrou, pegou uma garrafa de bebidas, dando um grande gole e sentou-se na sua poltrona cheia de papéis rasgados, letras de músicas escritas para Frank. Tateou o fundo da gaveta do criado mudo e finalmente achou o que queria. Seu escape. Sua última saída. Gerard pegou sua arma, apontou para sua cabeça e disse:
-Se Frank é a minha ruína, que isso termine aqui. Seja feliz, meu amor.
Um som de tiro ecoou pela casa e a morte chegou, tão rápida quanto um tornado. E para Frank, tão cruel quanto a devastação do mesmo.
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