A ponte Wilder. Aquela era a única ponte dessa cidadezinha do meio do nada. O rio Creek dividia a cidade ao meio, deixando para um lado o distrito comercial e ao outro o residencial. Alguém há muito tempo atrás deve ter inventado de não deixar nenhuma loja do lado das casas, afinal tudo era do lado oposto do rio. Todas as pessoas da cidade passavam sem parar naquela ponte. Mas, por algum motivo ver o rio me acalmava. Por que eu não fico nas margens? O rio não tem uma. Nem mesmo uma pequeninha. É um monte de barranco e terra com água no meio. É o nada do meio do nada. Mas foi ali, no meio do nada que minha mãe conheceu meu pai. O militar loiro, proprietário da única casa que existia no distrito comercial. Ele era contra as regras, assim como eu sou. Por que não moramos nessa casa? Fomos obrigados a vendê-la. Precisávamos de dinheiro rápido e essa foi a única solução. Vendemos para uma imobiliária de outra cidade, mas ela jamais foi alugada.
Me sentei no muro baixo que acompanhava a ponte, olhando o rio abaixo de mim. As águas turvas e barulhentas desligavam a minha mente aos poucos. Me fazia relaxar. Eu pensava sobre o dia em que meu pai conheceu minha mãe, nesse mesmo lugar, tantos anos antes.
- Você vai pular?
Me virei para olhar quem tinha falado comigo e me deparei com a garota mais linda do universo. Ela era alta e magra, tinha a pele mais branca que a neve e os lábios mais vermelhos que eu poderia imaginar, seus cabelos longos e negros pareciam flutuar a sua volta... Como se ela estivesse debaixo d'água, seus olhos eram como um feitiço, um cinza profundo. Era como olhar o céu antes de uma tempestade.
Ela virou um pouco seu rosto, tentando ler minha expressão.
- O-o que uma garota tão linda faz p-por aqui? A ha .. ha - Engasguei ao falar.
Ela sorriu. A garota mais linda do universo sorriu. Pra mim.
- Eu fiz a pergunta primeiro. Você vai pular?
Ela se apoiou no muro ao meu lado, olhando o rio lá embaixo, esperando uma resposta.
- Não... Não vou. Agora pode responder a minha pergunta?
Ela deu uma risadinha baixa. Não iria dizer mais nada.
- Bem, foi um prazer. Até mais!
Ela se virou, começando a caminhar em direção à área comercial da cidade. Seu vestido preto flutuava a sua volta, da mesma cor que seu cabelo.
Eu queria correr atrás dela, perguntar seu nome e a chamar pra sair. Mas eu seria um babaca. Eu sou um babaca.
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A Morte Também Salva
Misterio / Suspenso" O sol batia no meu rosto. - Você tem que trocar! Troque comigo agora Ikki! Era o mesmo sonho. Dessa vez estava tudo claro mas, eu não podia ver seu rosto. Ela se debatia cada vez mais, gritando meu nome. Eu não conseguia ver o que a prendia no l...