Portal ao Submundo.

1 0 0
                                    

Não queria me virar e ver quem estava entrando. Não queria soltar Lunna dos meus braços.

- Filhos do homem não serão filhos de Deus enquanto não se desapegarem da carne! Vivem todos no pecado e não respeitam nem sua casa sagrada!

- É bom te ver também Leaf.

Lunna se soltou do meu abraço, indo cumprimentar uma velha baixinha, de cabelos bem brancos e de voz escandalosa. Ela estava vestida como freira, andava com passos largos e apressados, indo em direção ao altar.

- Oh! Pai! Seus filhos pecadores vêem a sua casa sagrada e nem ao menos mostram respeito aos mais velhos!

- Eu sou mais velha Leaf. Preciso de um favor seu.

- Que tipo de favor sua fedelha? Não tínhamos feito um acordo? Você não profanava esse lugar e eu mantinha minha boca fechada sobre suas atividades duvidosas no Submundo.

Eu arregalei os olhos, toda a cordialidade de Leaf tinha sumido.

- Precisamos ir ao Submundo Leaf. Assunto da Ordem.

- Com um humano vivo? - Leaf se deliciou em uma risada pesada e rouca. - Você acha que eu tenho quantos anos?

- Leaf, eu preciso ir. Não me faça ficar irritada.

- Irritada? Acha que eu tenho medo da sua espécie?

Leaf continuava a rir, Lunna respirou fundo várias vezes antes de tirar de seu dedo um anel de prata, entalhado com uma caveira vermelha. Ela girou o anel nos dedos antes de jogá-lo para cima, onde ainda no ar, ele se transformou em uma foice prateada, com o cabo avermelhado e com uma caveira entalhada na ponta. Lunna estava pronta para lutar.

- Temos dois jeitos de fazer isso Leaf. O jeito rápido, onde você abre o portal e eu não perco meu tempo e o jeito difícil, onde eu quebro todos os dentes da sua boca e você abre o portal.

Lunna girou a foice enquanto falava, deixando ela na diagonal ao seu lado.

- Cai dentro sua vagabunda velha. - Leaf se contorceu e gritou, ganhando asas negras de morcego e unhas enormes. Eu queria vomitar.

Leaf se jogou para frente, correndo em direção a Lunna, que saltou para o lado no último segundo, evitando a colisão. Com a mão que estava livre Lunna puxou da lateral da bolsa uma bolinha de vidro multi colorida, ela gritou para Leaf, que estava virando e se preparando para um novo salto. Ela chacoalhava a bolinha com força fazendo com que brilhasse.

- Isso pode parar. É só abrir o portal. Eu posso até te dar os insetos se quiser... Vamos Leaf. Abra.

Leaf se contorceu, gritando com as mãos nas orelhas. Ela foi para traz do altar, com Lunna a seguindo sem parar de balançar a bolinha. Leaf parecia agonizada, mas, eu não conseguia ouvir nada.

- Abra Leaf! Agora!

Leaf não conseguia mover- se direito. Ela gritava e tentava a todo custo tapar seus ouvidos. Ela jogou o que eu julguei como uma bíblia no chão, se ajoelhando ao seu lado enquanto gritava coisas que eu não entendi. Era uma língua estranha, que entoava dentro da minha cabeça.

Com uma luz muito forte, acima do livro começaram a aparecer letras estranhas. Elas giravam e formavam um círculo, que tremulava no ar. Lunna deu passos cautelosos em minha direção, sem tirar os olhos de Leaf que ainda gritava, de dor e as palavras do encantamento.

- Ikki. Me desculpe!

- Pelo o quê?!

Eu gritei em resposta enquanto ela me puxava pelo braço. Ela me jogou no meio do círculo brilhante enquanto empurrava seu corpo para que eu caísse.

Eu não cai em cima do livro. Eu o atravessei. Caindo por dentro do portal, que brilhava e girava para todos os lados. Era como escorregar por um tobogã de água fria e brilhante. Enquanto eu escorregava, girando em direções aleatórias (e gritando muito) Lunna estava silenciosa, com as coxas apoiadas nos meus ombros, olhando para o que eu achava que era o lado de cima. Ela parecia preocupada.

Quando finalmente parei de gritar, eu olhei para o que parecia ser o lado de baixo, e aos meus pés se formou uma linha de cor vermelha, aparecendo às mesmas letras estranhas do portal de Leaf.

- Estamos chegando.

Lunna sussurrou para mim, sem tirar os olhos do lado de cima. Eu sorri aliviado. Até parecer que levei um soco na barriga.

Estávamos ganhando velocidade, a luz brilhante e branca que me cegava foi substituída por uma luz vermelha, que cobria tudo. A fisgada no umbigo era mais intensa a cada segundo, parecendo que iria arrancar minhas tripas pra fora. Estávamos cada vez mais perto do portal, e cada vez mais rápidos também. Eu voltei a gritar. De dor, de medo, de desespero.

Eu mal conseguia abrir meus olhos quando senti o impacto. Era como cair de um precipício. Cair de um princípio em água gelada.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Jul 07, 2019 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

A Morte Também SalvaOnde histórias criam vida. Descubra agora