Toda moeda tem dois lados.

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* Lunna

Eu corri. Corri como se o amanhã nunca fosse existir. Correndo eu nunca chegaria a tempo... Abri minhas asas e pulei, ganhando impulso para voar. A ala particular do hospital estava cheia de fumaça. Astrid não estava certa... Alguém estava espionando.

- Astrid!? Astrid?!

Se meu coração estivesse batendo, estaria explodindo agora. Voei em direção á ala particular, a fumaça cobria minha visão. Astrid estava deitada num canto, coberta de sangue.

- Astrid... - Me ajoelhei ao seu lado.

- Lunna... Adolescentes... São tão...

Eu ri. Ela ficaria bem.

Entrei no quarto 522, a fumaça toda saia dali. Um caldeirão no centro do quarto soltava toda a fumaça. Abri a janela. O som de explosão e a fumaça foram só uma distração. Eu olhei para a maca de Marta, ainda precisava fazer a passagem.

A passagem. Um caldeirão. Eu não estava ali. Astrid estava ferida. Virei-me lentamente para porta, Astrid ainda esta ali.

- Astrid... Isso foi... Coisa de bruxa, certo...?

Ela balançou a cabeça afirmativamente. Não... Olhei de volta ao quarto. Marta estava sentada na maca. Os olhos abertos e a expressão vazia. Seu coração não batia. Sua respiração continuava lenta e irregular.

- Não... - Senti uma mão em meu ombro.

- Eu sinto muito Lu. Eu não aguentei a pressão sozinha.

Coloquei a mão sobre a de Astrid. Era quente. Encaramos a cena em silêncio. Eu tinha perdido minha primeira alma.

- Bem! Vamos limpar a bagunça. Não acho que conseguiriam uma explicação pra sangue de fênix no chão e uma zumbi no quarto. Vamos.

- Eu não posso deixar isso assim. É a Marta! A Marta, Astrid... Você precisa me ajudar!

- Como eu faria isso?! É impossível salvar ela agora! Mesmo que ainda seja a Marta!

- Só esconda o fato de ela ter se tornado um zumbi. Eu vou pensar em algo. Eu prometi, lembra?

Ela suspirou para mim. Eu sorri em resposta. Joguei o caldeirão pela janela e peguei a mala de Ikki. Tinha exatas 48 horas pra formar um plano, executa- lo e ceifar a alma de Marta.

Que dia ótimo.

* Ikki

Eu me coloquei a caminhar. Asas. Lunna tinha asas. Segui para casa, parando na porta de entrada. Eu não tinha a chave. Tentei abrir a porta, estava trancada. Me sentei na varanda olhando a rua, costumava fazer muito isso quando era criança, esperando meu pai todos os dias. Deixei que os minutos passassem vagarosamente, pensando no meu pai, o militar loiro e gentil, que minha mãe adorava falar sobre ele. Eu não lembrava muito bem dele, de alguma forma, minha mente expulsava pensamentos ruins, assim eu também era impedido de pensar sobre minha mãe, sobre o que faria da minha vida agora, sobre quem eu seria a partir de agora.

Me levantei, Lunna estava chegando.

- O que aconteceu lá?

- É melhor você entrar... Precisamos conversar.

Ela passou por mim e tocou na maçaneta. A porta abriu com um clique, revelando a grande quantidade de nada. Nada. O hall, a sala... Estava tudo vazio.

- Venha.

Ela passou pela porta, me forçando a entrar. Olhei em volta, nada havia mudado. Estava só... Vazio. Olhei a cozinha, cada centímetro dela estava com potes e livros enormes. Ela subiu, indo em direção ao antigo quarto dos meus pais. Ela abriu a porta, tudo que tinha ali era um grande colchão de casal e uma tv. O guarda- roupa embutido na parede estava abarrotado com uma massa preta, essas eram suas roupas.

- Quer jantar? Você deve estar com fome.

- Não... Eu quero... Que me fale o que aconteceu. E me diga que eu vi coisas... Que você não tem asas. E sobre aquele seu gato.

Ela respirou fundo.

- Ikki... Eu sou o gato. Sua mãe teve sua alma roubada... E... Isso foi culpa minha... Eu... Deixei de ceifar sua alma para salvar você. Eu fui contra o Destino. Então... Uma bruxa veio... E a roubou.

- Você o que?! O que diabos é você Lunna?! E por que eu sonho com você?! Lunna!

Eu soquei a parede frustrado. Isso tinha que ser mentira.

- Ikki... Eu sou... A morte.

A Morte Também SalvaOnde histórias criam vida. Descubra agora