Berros e gritos

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Minutos passaram e eu permaneci ali, parada, apoplética.
Os meus olhos refletiam imagens de um velho casaco familiar sujo e molhado, onde cujos braços se estenderam para receber um suposto abraço meu.
O meu pai trazia consigo um sorriso esbranquiçado, o que me deixara um pouco nervosa. Andava sempre com aquele casaco, que arrastava recordações de quando eu era pequena. Vivíamos num campo não muito longe de Nathville, e poderia dizer que, vivíamos felizes. Desde que a minha mãe faleceu, a vida no campo passou a ser insignificante. O meu pai afogava as suas lágrimas nos copos de whiskey e acredito que para ele, foi mais difícil, e receava que ele nunca voltaria a ser o mesmo.
O quê que eu não sabia, era que o meu pai partira para o sul, e eu nunca mais o veria. Ouvi dizer que virou marinheiro e que apaixonou-se pelas águas cristalinas. Estas eram as recordações que tinha da minha familía.

-Então, não vais me dar um abraço? -Sorriu o meu pai.

-Mas o quê que fazes aqui? -Perguntei ainda apoplética.

-Vim te ver Natasha. -Informou-me, invadindo o meu apartamento.

-Tu desapareceste...-lágrimas escoaram do meu rosto.

-É muito mais complicado do que pensas. Não perceberias nunca. Senti a necessidade de abandonar tudo, sabes? -Sacou do bolso um isqueiro, e limitou-se a brincar com ele.

-Eu..

-Olha, sei que deves ter muito remorso neste teu coraçãozinho, mas filha, a vida é uma equação inexplicável, nem os melhores matemáticos conseguem resolver tamanha complexidade, sabes? -Disse, tirando um trago do cigarro.

Fechei a porta, pasmada. A raiva me comia viva, sentia um inferno dentro de mim. Pequenos diabinhos brincavam com fogo la dentro e eu, acabaria por expelir fumos da minha residência infernal.
O meu braço esticara-se, sentia o sangue pulsar, nervosamente. Viajou pelo ar e deparou-se com uma das buchechas do meu pai. Senti uma onda de vibrações dolorosas por todo o meu corpo.

-Tu! Cabrão! Como podes? Como podes vir até aqui, e fingir como se nada aconteceu? -Berrei, esbanjando lágrimas de infelicidade. -Eu sofri nas tuas custas, fui parar num orfanato nas tuas custas, eu...

Chutava, berrava, gritava com ele. Este me acolheu e acabou por me abraçar. Por longos momentos tensos e intermináveis.

Amanhã SeráOnde histórias criam vida. Descubra agora