Ter-me-ias avisado

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Descolara do abraço do meu pai, e ele, elevando o meu queixo, disse:

-Olha, Natasha, sei que é tudo muito complicado para ti, mas posso explicar. Deixa-me explicar. -Acalmou-me.

-Não entendo.. Porque que me abandonaste? -Perguntei, levando a um pequeno suspense no ar.

-Fizeram-me uma proposta de trabalho querida. Não pude deixar de aceitar. Olha filha, era o meu sonho, 'tás a ver? Sempre projetei o meu futuro navegando nas ondas do mar, percebes?

O meu pai expelia cada fumo do seu cigarro, como se fosse para espantar a nostalgia. Tinha um carisma forte e radiava atitude. Irritava-me. Trazia consigo um chápeu branco, cujas bordas azuis me lembravam exatamente as águas cristalinas do sul. O casaco cheirava a terra molhada, e diria que, a junção de cigarro e terra molhada, não faziam um par perfeito. Tinha umas botas castanhas que pareciam ter andado muito sobre os pedaços de madeira de um velho barco, que navegara sobre um dos mares do sul.

-Ter-me-ias avisado, não? -Perguntei fixando-o.

Um silêncio profundo penetrou-se na sala, onde o ambiente pesado balançava sobre os nossos suspiros.

-Preciso de um lugar para ficar 'tás a ver? Entendo se não quiseres me deixar ficar, mas está a chover e não acho que deixarias o teu velho dormir na rua. -Proclamou ele, divertido.

Levantei-me do chão e sacudi a farinha das torradas caseiras do sofá onde estava procrestinando.

-Dormes no sofá.

Amanhã SeráOnde histórias criam vida. Descubra agora