O estranho

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-Oh, desculpa-me!- Exclamou o estranho, mergulhando os meus livros no chão.

Murmurei palavrões enquanto o meu pé crepitava. Não era o meu dia de sorte. Definitivamente não.
Poderia ser pior mas, porquê começar uma segunda-feira com o pé esquerdo? Espero que a força suprema lá em cima possa me responder essa questão.

-Hoje estou mesmo desastrado, desculpa.- Gaguejou o estranho, arrumando os livros.

Os cachos dourados deles balançavam enquanto arrumava os meus pertences. Não vi o rosto dele ainda, portanto não podia examiná-lo e estabelecer estereótipos. Nós fazemos isso não?

-Tem mal nenhum, só que precisas de ter mais cuidado. Nem toda gente tem os seus dias unicornizados.- Sorri para ele.

-Pelos vistos o teu dia começou mal.- Disse levantando o rosto.- Desculpa se piorei o teu dia. O meu também não está grandes coisas.

É estranho conhecer uma pessoa assim. Parecia aquelas cenas do filme bastante clichés, que quase ninguém gosta.

As aulas terminaram com um projecto dado pelo professor, sobre alguns museus antigos e algumas esculturas. Não podia ser pior! Uma das coisas que não gostava era fazer projectos. A minha cabeça não funciona até as tantas da madrugada, embora eu possa fazer o trabalho de dia, mas o cérebro funciona melhor quando se está cansada.

Receava voltar para casa e ficar mais cansada do que já estava. Talvez o meu cérebro estourasse de tanta pressão e acontecimentos repentinos. Se eu soubesse, eu hesitaria e não abriria a porta, e continuava procrestinando no sofá, enfarinhado de tostas caseiras. Eu não preciso do meu pai agora. Preciso de tudo, mas não do meu pai. Não queria encarar a nostalgia que me amendrotava, e muito menos enfrentar o sailorzinho. Não agora.

Dobrei a esquina e descobri que já estava perto de casa. Estava tão distraída com os meus botões.

Rodei a chave na fechadura e ouve-se um estalo, enquanto a porta chia, por falta de oléo.
Estava com os olhos fechados por causa dos meus bocejos e logo quando os abro, vejo o meu pai, cozinhando. A minha casa não era tão pequena, mas a minha cozinha situava-se basicamente na sala, o que me facilitava quando queria ver televisão.

-Pai... Que está a fazer? -Encontro-me surprendida com a cena diante dos meus olhos.

-Estou a cozinhar.- Constatou ele, o óbvio.

-Oh.

Deambulei até o meu quarto e saltei para a minha cama maravilhosa. O meu corpo já não aguentava tanto stresse e pedia-me descanço. Ao invés disso, levantei-me e troquei de roupa. Tantas perguntas passeavam pela minha cabeça e esperava que o meu pai as respondesse o mais rápido possivel.
O meu quarto estava todo desarrumado. Fodasse. Limpo depois.
Saí do quarto e por algum motivo estava nervosa. Nervosa de mais.

O clima entre nós estava para além de estranho, especialmente quando eu sentei-me na mesa e o meu pai servi-me um prato de macarrão. Comemos em silêncio e antes que eu dê conta já estava a encher o meu pai de perguntas.

-Olha Natasha, sei que tudo é estranho para ti, mas ainda temos tempo, podemos reconstruir as coisas. Só tu e eu. Podemos viver felizes e deixar o passado para trás. Eu quero realmente falar contigo sobre tudo o que aconteceu e explicar as coisas.- Ele pausa o seu discurso para retomar folêgo.- Poderia ficar aqui contigo, 'tás a ver? Não tens que guardar rancor do passado e viver presa nele.

Coitado, mal ele sabe que temos um passado no presento do futuro.

-Falas como se nunca me abandonaste, como se nunca me magoaste. Eu nem sei se deveria te chamar de pai. Não depois de tudo. Vens parar aqui na minha casa e cozinhas e tudo o mais. Achas que é fácil?.- Berrei, levantando-me da mesa.

-Ah vá la Natasha, não sejas durona como a tua mãe...

-Não te atrevas!- gritei o mais alto possível.- Sabes, eu não quero ouvir as tuas histórias malditas nem o que aconteceu, vais embora agora e não voltes mais.-Soluçei.

-Cuidado com as tuas palavras Natasha, vais arrepender-te disto depois.-Ameaçou o meu próprio pai.

Sem pensar, dirigo-me a porta e saio de casa a fumegar.
Não sei o que acabou de acontecer, mas havia algo de assustador com as palavras do meu pai.


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⏰ Última atualização: Mar 19, 2016 ⏰

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