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michael

a batida forte na porta ressoou pelo cômodo. aquela porta era invencível. nunca achei que alguém conseguiria invadir a minha casa tentando derrubar a porta. e para a minha própria segurança, esperava que estivesse certo.

com um grunhido de irritação, arrastei meu corpo para fora da cama e coloquei os pés no chão frio. se tinha uma coisa que eu odiava profundamente, era ser retirado de um bom sono. e seja lá quem estivesse lá embaixo, ia levar uma surra.

esfreguei os olhos com as costas das mãos e desci as escadas de forma lenta.

"espero que você tenha um ótimo motivo pra ter me acordado." disse com a voz rouca. luke estava estacado na frente da minha casa, de cortunos e camiseta preta, a corda que segurava a case do violão pendurada no ombro. suas orbes azuis emaneavam empolgação, as mãos agarrando as alças da mochila gasta.

"você sabia que a gente ia viajar hoje, michael." o garoto falou, revirando os olhos e passando por debaixo do meu braço, se dirigindo para a sala de estar. suspirei, fechei a porta e passei a mão pelo rosto, tentando acordar.

"que tipo de ser humano acorda antes das onze?" resmunguei.

"não me diga que você não fez a droga da mala." luke percorreu os olhos pelo ambiente vazio, sem indícios dos meus preparativos para a viagem. ele se virou para mim com as mãos na cintura e bateu o pé no chão, como uma criança mimada. "michael clifford!"

"relaxa, loiro. deus. está tudo lá em cima." deixei meu corpo cair no sofá com um sorriso despreocupado no rosto.

"levante!" deu um tapa na minha nuca. "temos muito o que fazer." disse e subiu as escadas para o segundo andar.

[...]

nós estávamos sentados nos bancos do carro do luke, encarando a rua principal. luke agarrava o volante com tanta força que os seus nós dos dedos estavam brancos. apoiei a bochecha na mão, impaciente.

"isso é tão emocionante." luke comentou bem baixinho. 

"emocionante? você ainda nem tirou o carro da garagem!"

e era verdade. o garoto me lançou um olhar de puro ódio e raiva. ele balançou a cabeça de um lado para o outro e girou a chave, começando a dirigir de uma vez por todas.

"graças a deus."

"você não entende. esse vai ser o momento mais incrível de nossas vidas."

"acho que você está depositando muita fé nisso, loiro." coloquei os pés no painel. "cuidado pra não se decepcionar. ei, por que trouxe o violão junto?"

luke tirou meus pés do painel.

"jacob gosta de viagens de carro."

olhei para ele de lado.

"quem diabos é jacob?"  

luke deu alguns tapas no violão que estava no seu colo.

"você é idiota." constatei.

"olha só quem fala." ele sorriu. "o dono da maior coleção de globos de neve da cidade. aposto que cada um deles tem um nome."

"cala a boca." murmurei, afundando no banco. "babaca."

cruzei os braços enquanto tentava pensar em uma resposta inteligente, mas tudo o que vinha a minha cabeça era uma longa sequência de xingamentos.

observei o mais novo se inclinar para frente e ligar o rádio, depois suas mãos entraram no porta-luvas a procura de algo.

"hum. estamos sem doces." comentou. 

"devemos voltar?" indaguei, preocupado. 

"não."

"então, vamos parar em alguma loja de estrada."

"tudo bem."

a questão era que luke tinha hipoglicemia e se não ingerisse açúcar de tempos em tempos provavelmente morreria. e eu não estava afim de encarar um enterro.

"tem certeza?"

"tenho. tá ok." garantiu.

runaway 🚗 [lrh + mgc] Onde histórias criam vida. Descubra agora