iv

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luke

michael esticou um pouco mais o mapa que estava em cima do painel do carro. depois que acordei, falei para ele ir descansar um pouco também. ele disse que não estava cansado. falei para ele parar de ser tão teimoso. ele disse para eu ir pro inferno.

"se eu dormir você vai atropelar alguém."

resolvi então aproveitar o momento de distração do outro para analisar seu rosto. o jeito que ele deixava os lábios entreabertos quando estava concentrado, os cílios longos e escuros que tocavam as maçãs do rosto. sua cabeça tombou para a esquerda enquanto tentava entender o mapa.

"o que foi?" michael perguntou, sem me olhar.

"hum?"

"por que você está com esse sorriso idiota?"

"estou?" pisquei.

"está. o que foi?"

"nada." corei. "onde estamos?"

"humm," virou o mapa de cabeça para baixo. "não sei ao certo."

"como assim não sabe?"

estávamos atravessando uma ponte. alguns barcos flutuavam sobre a água escura. em um lado, restaurantes na beira da praia, todos entupidos de turistas. do outro lado, apenas estrelas.

"não consigo entender isso." reclamou, frustrado.

"e você resolveu falar isso agora?"

avancei com o carro e virei em uma curva fechada. entramos em uma pequena estrada de terra.

"nós estamos..."

"não termine essa maldita frase." interrompi michael.

"...perdidos." completou.

ele olhou para fora e depois para mim, parecendo esperar por algo.

"o que foi?" perguntei, irritado.

"o que a gente vai fazer?"

"oras, eu não sei!"

de repente, avistei um hotel na rodovia. parecia estar abandonado, na verdade.

"vamos parar aqui." decidi, estacionando o carro.

"sabe com o que isso parece?" michael apontou para o hotel.

"com o que?"

"com o lugar da nossa morte."

revirei os olhos.

"qual é, loiro, você nunca viu filmes de terror?"

comtinuei andando. será que se eu ignorasse por um tempo, ele desapareceria?

"sempre acaba com um cadáver."

"se eu não for o cadáver, tudo bem." dei de ombros.

ouvi um ruído entre as árvores.

"o que foi isso?" michael arregalou os olhos, assustado.

"um serial killer."

"cala a boca." murmurou.

ofereci minha mão a ele. o garoto passou direto por mim com passos rápidos. soltei uma risada.

na recepção do hotel, tinha um balcão encostado na parede, poeira e dois sófas verdes.

"luke, não tem ninguém aqui." michael agarrou a manga do meu casaco. "por favor, vamos embora."

suspirei.

"ok."

"ei, esperem!"

nós dois nos viramos para o balção de novo, vendo um homem parado atrás dele. ele tinha um bigode preto, assim como o cabelo. usava um terno antiquado junto com um monóculo.

"em que ano esse cara parou?" michael susurrou.

"olá, garotos! procurando por um quarto? aposto que precisam de uma cama de casal, estou certo?"

"nós somos amigos." falei, rápido.

"por que todo mundo acha que a gente é um casal?" o garoto colorido disse.

"também podemos conseguir camas separadas. me chamo luigi." sorriu.

eu e michael trocamos um olhar.

dei de ombros e tirei o dinheiro da mochila.

"vamos querer um quarto."

"com camas separadas." o outro reforçou.

"ótimo!" luigi bateu palmas, animado. "ah, teremos um evento esta noite, primeiro andar, sala de reuniões."

"não temos..."

"é gratuito. não se preocupem." ele nos entregou a chave do quarto. "algo me diz que vocês deveriam ir."

"vamos pensar sobre o assunto." michael respondeu. "ei, cara, onde que tá o mario?"

"o que?"

"o mario. sabe?"

"receio que não." luigi disse, confuso.

"mas..."

"michael." segurei seu braço. "você não acha que tá na hora da gente ir?"

"hum, claro."

"até amanhã, luigi!" arrastei o garoto para longe.

"que cara estranho." o outro comentou assim que nós nos afastamos.

"bem, é. mas, acho que não tem como piorar."

"não fala isso, loiro. sempre tem como piorar."




runaway 🚗 [lrh + mgc] Onde histórias criam vida. Descubra agora