O Lobo do Homem

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Fogo. Ar. Água. Terra.
  Só o Avatar pode dominar os quatro elementos e trazer o equilíbrio para os dois mundos.
  Na calada da noite, enquanto uma boa parte da cidade dormia, um grupo de garotos piromaníacos vestidos com roupas que claramente denotavam ser da nação do fogo saíram, num surto de loucura.
  Riam e gargalhavam por cada coisa que queimavam com sua dominação.
  Atearam rajadas de fogo à baldes de lixo, à monumentos, casas, prédios, e tudo o que viam pela frente.
  Podiam-se ouvir explosões por todo o quarteirão, por onde eles passavam.
  A polícia surgiu numa nave, exigindo que eles se mostrassem. Vários policiais desceram e correram atrás dos garotos, mas não conseguiram sequer achá-los, como se tivessem desaparecido no vento.

[...]
No dia seguinte, cavalguei em Ferris até à frente da lanchonete aonde Boden trabalhava, que estava em cinzas, com bombeiros dominadores de água tentando apagar o que restou do fogo e salvar as vítimas.
  Boden estava ali, observando o seu ganha-pão totalmente destruído com uma expressão desolada. Hayden, Kim e um bicho gordo estavam ali, consolando-o.
- Fiquei sabendo do incêndio pelo meu pai - desci de Ferris, surpreso com o que vi. - Eu sinto muito, Boden.
  Ele suspirou com pesar.
- Pelo menos quase ninguém se feriu. Tirando o senhor Myiagi que sofreu queimaduras de segundo grau.
- Pobre senhor Myiagi - lamentou Hayden. - Eu adorava as coxinhas que ele fazia.
  Nós três a olhamos, confusos.
- Que é? - ela perguntou. - Modelos também podem comer coxinhas, não podem?
  Kim bufou.
- O que importa é que os responsáveis ainda estão à solta - o bicho gordo nos braços dela cruzou os braços numa careta, transparecendo as emoções da dona. - Dizem que foram eles que queimaram as indústrias Khan.
  Engoli em seco e senti uma gota de suor descer. Sabia que não foram eles, até porque foi eu.
  Pensei em seguir o conselho da voz ranzinza que havia falado comigo no dia anterior e contar, encarar de frente mas aí...
- É - respondeu Boden, irado. - Aqueles desgraçados fizeram tudo aquilo, como libertar o Natsu, queimar as indústrias do Khan, e agora isso. Acabou que o Rohan ficou como culpado da primeira coisa.
  Arregalei os olhos.
- Como é que é? - eu sabia quem era Rohan, mesmo sem ter ajudado na manifestação. Ele era irmão da Jinora e eu tinha o visto pela TV.
- Acreditam que nós invadimos a Laogai para libertá-lo - respondeu Kim.
  Hayden suspirou.
- Eu fui vê-lo esses dias. Ele parece estar mais louco que nunca.
  Ferris rosnou para o bicho gordo, que ficou com medo.
- Depois desses atentados, me pergunto o que vem a seguir - comentou Boden. - Parece que alguém quer dar mais má fama à nação do fogo.
- Como eu sempre digo - disse Kim quando Ferris rosnou para o bicho -, o Ferris é o lobo do Moshu, e o homem é o lobo do homem.
  Boden fez uma expressão de "como assim?".
- Como assim? Você nunca disse isso.
- Eu disse agora, ué.
- Então o nome disso aí... é Moshu? - perguntei.
  Ferris tentou agarrar Moshu e ele pulou do colo de Kim. Ele correu em círculos enquanto fugia de Ferris, que fazia o mesmo.
- AAAAAAAAAAAAAHHHHH!!! - ele gritou.
  Franzi a testa.
- Isso parece um grito humano.
- É verdade - concordou Boden.
- De fato - respondeu Kim.
  Ficamos ali, por cerca de três minutos só observando Moshu correr de Ferris até se cansar e cair de barriga no chão. Na verdade não demorou nem um minuto para ele se cansar.
  Ferris agarrou-o pela boca de uma forma que não machucasse e o jogou para cima de sua cabeça, aonde ele ficou.
- Eu preciso urgentemente comprar uma rodinha pra ele - concluiu Kim.

[...]
Logo várias pessoas chegaram na área. A polícia teve que impedi-los com fitas de cena de crime. Um repórter chegou na área e começou a entrevistar as pessoas.
- O que você acha desses recentes atentados na cidade?
- Eu acho uma pura falta de bom senso! - exclamou um idoso. - A nação do fogo já fez coisas ruins demais para meus antepassados.
- Acho "mó" idiotice os cara fazer isso - disse um garoto skatista da tribo da água. - A nação do fogo já ferrou demais o mundo.
- Eu já não me sinto mais segura - disse uma mulher dona de casa nativa da terra. - Primeiro aquele terrorista atacou o centro de convenções e se não fosse a ação rápida do Avatar e da polícia, eu teria morrido!
- Muito difícil ir trabalhar sem saber se sua casa ou estabelecimento vai ser queimado.
- Eu perdi meu negócio por causa desses malditos nativos do fogo!
- Maldita nação do fogo!
- Odeio esses nativos do fogo!
  No telejornal, o apresentador apresentava a reportagem.
- Na cidade, um surto de comerciantes nativos da terra depredam os negócios de nativos do fogo.
  No centro da cidade havia um alvoroço, um surto de caos com quebra-quebra e pancadaria deliberada. De um lado os comerciantes que perderam os negócios por causa dos terroristas e do outro os inocentes comerciantes do fogo que não tiveram nada a ver com isso.
  Uma nave da polícia sobrevoou o local. Vários policiais, inclusive meu pai, desceram com seus cabos de ferro.
  Prenderam alguns nativos da terra revoltosos e os levaram à delegacia. Infelizmente um parente de Kim e Boden fora preso.
  Adentramos à delegacia, nós quatro e Moshu. Encontrei meu pai na sala do chefe de polícia, vestido como um e atrás da mesa, conversando ao telefone.
  Ao me ver, ele se despediu da pessoa atrás da linha e se direcionou a mim.
- Hiro? Não deveria estar treinando água?
  Fiz que sim.
- Sim, mas, houveram muitos contratempos - Kim e Boden apareceram na vista dele. - Lembra dos meus amigos?
  Meu pai arregalou os olhos, bufou, se levantou e foi até mim.
- Sério que você trouxe dois manifestantes pra cá?
- Sim. Eles souberam que um parente deles foi preso. Gostaria que você me ajudasse nisso.
  Meu pai tentou não explodir de raiva, mas suspirou e se acalmou.
- É um dos badernistas que perderam o negócio?
  Kim fez que sim.
- É nosso tio.
  Meu pai trouxe o tio dos dois e os colocou numa sala de interrogação. O tio deles era careca e usava uma roupa verde. Estava machucado e trêmulo.
- Quanto tempo não vejo vocês - ele disse. - Como têm se sustentado?
- Eu faço uns bicos - respondeu Boden.
- Eu sou famosa no Benderbook - respondeu Kim.
  O tio deles riu.
- Vocês não mudaram nada.
- Só lembrando que isso não é uma reunião de família, é um interrogatório - disse meu pai; foi até a mesa e bateu a mão nela, encarando-o. - Precisamos de nomes, Senhor Hu.
  Hu fez uma careta.
- Não tem nome nenhum, general. Só sei que aqueles fedelhos invadiram minha loja e queimaram tudo. Queríamos fazer justiça.
- Destruindo patrimônio alheio? Acho que não - meu pai o pegou pelo braço. - Reunião acabou; se você quiser sair daqui sem algemas, vai ter que cooperar e fazer um retrato falado dos piromaníacos.
  Meu pai levou Hu para fora dali.
- Nossa, esse seu pai é maior baixo astral - reclamou Kim. - Ele não tem nada a ver com o Bolin.
  Boden bufou.
- Tenho uma ideia de aonde podemos ir para encontrar esses garotos.
  Franzi a testa.
- Como?
- Eu já fiz de tudo nessa vida - ele suspirou.

Avatar - A Lenda de HiroOnde histórias criam vida. Descubra agora