Abriu os olhos assim que a luz excessiva que o envolvia sumiu. Mingyu observou a sua volta, dirigindo um olhar confuso para o ser a sua frente em seguida.
"Não... não aconteceu nada?", indagou.
Ainda estava às margens do rio em que encontrara o outro, pouco antes da estranha conversa começar e de ele concordar em apenas deixar de existir para que Wonwoo pudesse viver.
A vida de Wonwoo...
"Mesmo se tudo em mim morrer, eu só preciso de você para respirar"
"Isso por acaso é uma brincadeira?!", começou a se alterar, fechando os punhos com força. "Você acha isso engraçado?!", já nem ao menos conseguia pensar direito.
"É claro que não", o estranho respondeu, calmo como sempre. "E nem é uma brincadeira também. Você acabou de dar sua existência por Wonwoo."
O Kim parou, surpreso, e olhou para as próprias mãos, tão confuso quanto antes.
"Isso é apenas um eco", a criatura brilhante contou. "Um resquício do que deveria ter existido, mas ninguém pode te ver, ouvir, ou sentir. E será apenas questão de tempo até que essa pequena consciência que você é agora também suma por completo."
"Entendo... então Wonwoo está vivo?", o jovem queria ter certeza de que estava tudo bem.
"Sim, está muito bem. Sem nenhum sinal de doença, inclusive", afirmou.
Respirando fundo, Mingyu se lembrou do sorriso de Wonwoo. Parecia que fazia tanto tempo que não o via... Na verdade, nunca o vira nessa nova vida.
"Eu quero engolir este veneno por você
Quero ficar bêbado com você e nunca mais acordar""Você está pronto?", o ser desconhecido lhe indagou e só então percebeu que não estava. Ainda precisava fazer algo.
"Eu tenho que ir agora?", não sabia para onde, mas tinha certeza que teria que ser tirado dali.
"Não exatamente agora", o outro admitiu. "Mas, quanto mais rápido você for, melhor", advertiu.
"Eu entendo... Mas eu ainda preciso fazer algo", ele pediu.
Concedido esse desejo, Mingyu seguiu para um lugar onde queria, e esperou até o amanhecer. Ficou parado na frente da casa dos "pais" durante horas, acompanhado do que seja lá o que o outro fosse, até que eles pareceram acordar.
Mesmo que não tenham tido um filho, eles moravam na mesma casa. O Kim sorriu ao ver a mulher que seria sua mãe abrir as cortinas da janela da frente. Ela estava exatamente igual. E viu o homem que seria seu pai sair alguns segundos para pegar as garrafas de leite que eram deixadas na frente da casa todas as manhãs.
Mesmo em outra vida, os dois pareciam iguais, os pais que Mingyu nunca tivera. Eles sorriam constantemente durante os poucos momentos em que os viu pelo vidro da janela ou saindo furtivamente. Eles eram felizes, e o rapaz ficou feliz também.
"Eu os amo, mãe, pai", sorriu enquanto sussurrava para ninguém além dele mesmo.
Assim, pode se despedir das duas pessoas que tanto amara, e não se sentiu culpado.
"Certo então?", o estranho que poderia chamar de "anjo" perguntou.
"Ainda não, falta apenas um lugar", ele respondeu e o outro suspirou. "Por favor, me leve até Wonwoo."
O ser pareceu um pouco surpreso.
"Você não vai...?", ele perguntou, parecendo temeroso.
"Não irei fazer nada", interrompeu. "Quero apenas vê-lo uma última vez."
Olhando-o com compaixão, o outro meneou a cabeça sem dizer mais nada, e mais uma vez, levantando uma das mãos, os levou em um instante para a frente do ginásio de seu antigo colégio.
Ele também parecia o mesmo. Sua existência não parecia fazer tanta diferença no fim, e Mingyu não conseguiu evitar um riso melancólico ao pensar sobre isso.
"Ele está lá dentro", contou o desconhecido.
"Muito obrigado", o Kim estava verdadeiramente agradecido.
Entrando no lugar, deixando o companheiro do lado de fora, o rapaz teve de apertar os olhos para que pudesse enxergar algo na escuridão.
Porém, avistou de longe o rapaz parado no meio da quadra, de costas. Reconheceu-o imediatamente. Era ele, Wonwoo estava bem ali.
"Mesmo que eu não possa abrir os olhos por causa da escuridão que me engole
Mesmo que eu esteja marcado com uma marca inapagável"Parando, o observou. Ele parecia bem, saudável e forte, assim como o outro dissera. Mas não podia dizer o mesmo sobre seus sentimentos, tão explícitos na atitude irritadiça e no rosto tão infeliz. Ele parecia perdido...
O Kim se perguntou por que, por que ele apenas não podia ser feliz. Aquilo doía nele também. Tudo sobre Wonwoo o afetava.
"Quem está aí?", o Jeon perguntou de repente, fazendo Mingyu se assustar. Sem querer, recuou e se esbarrou na grande cesta com bolas de basquete atrás de si. Com um ruído alto, a que estava no topo caiu com estrépido. Não sabia que podia tocar nas coisas.
O rapaz, que havia se virado, olhou confuso ao redor. Ele não via Mingyu, e de alguma forma aquilo o atingiu.
Soltando a bola que tinha em mãos, Wonwoo correu até a outra caída no chão. Parando bem em frente ao Kim, o mais velho se abaixou pegando o objeto derrubado, e olhou para os lados.
"Quem está aí?", perguntou mais uma vez, agora baixinho.
O mais novo podia ver seu rosto claramente agora. Ele era tão bonito, mais seus olhos estavam aflitos, ansiosos.
"Por favor, me responda", mesmo não olhando para onde estava, Mingyu tinha impressão de que Wonwoo estava falando com ele. "Mingyu... É você?", ele indagou e o Kim achou que estava delirando.
Wonwoo sabia que ele estava ali? Como? Como poderia saber se ele não havia nem nascido? Não poderia estar ali, mas isso não parecia significar nada, por que de alguma forma o Jeon sabia dele.
Sentindo o coração se aquecer com todo o amor que guardava por ele, Mingyu sorriu, se sentindo feliz como nunca.
"Sim, sou eu, meu amor", devolveu, e viu quando um brilho de reconhecimento passou pelos olhos negros do mais velho. As orbes do rapaz pararam de vagar e se fixaram ao rosto do dele. Ele sorriu de volta.
Sem dizer nada, Wonwoo apoiou uma das mãos à nuca de Mingyu, como fizera no primeiro beijo dos dois, e encostou suas bocas calmamente, mas cheio de desejo e carinho.
O rapaz, ao ser beijado, retribuiu no mesmo instante, abraçando o corpo do mais velho.
"Parece que nem tudo saiu como deveria...", o homem do lado de fora comentou, falando sozinho. "Mas é bem melhor assim", e sorriu, indo embora em seguida, da mesma forma que aparecera.
Se separaram os olhos presos um ao outro. Como Mingyu amava aquele olhos cheios de paixão. Como amava ser amado por Wonwoo.
Não entendia o que acontecera, mas sabia agora que a ligação entre os dois era inquebrável, indestrutível.
"Senti sua falta", o mais velho sussurrou.
"Eu também", ele devolveu, entrelaçando seus dedos ao do outro.
"É o meu destino
Eu vou te amar até a morte"Naquele momento, Mingyu percebeu que não importava que ele não existisse para o resto do mundo. Wonwoo ainda o conhecia, ainda o amava. E só ele importava, por que Wonwoo era seu mundo inteiro, bem como a razão de sua existência e até de sua inexistência.
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Acabooooooooooou! Me desculpem por esse final, me desculpem qualquer erro. Espero que vocês tenham gostado, mesmo que só um pouco. Muita obrigada quem acompanhou, comentou e favoritou. Mais uma vez, muito obrigada <3 Até mais!
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Inexistente ✏ Meanie
Romance"Naquele momento, Mingyu percebeu que não importava que ele não existisse para o resto do mundo. Wonwoo ainda o conhecia, ainda o amava. E só ele importava, por que Wonwoo era seu mundo inteiro, bem como a razão de sua existência e até de sua inexis...