Quando acordei, o silêncio ainda tomava conta da minha casa.
Fui até a sala, meu pai estava arrumando uns papéis dentro de uma pasta, e minha mãe olhava para o nada com as mãos trêmulas, e uma mala ao seu lado.
Desci as escadas ligeiramente, estranhando aquela cena.
- Tudo bem aí? - Perguntei quebrando o silêncio.
- Bom dia, filha! Eu estou quase indo trabalhar, mas antes,vou esperar os enfermeiros virem buscar a sua mãe. - Disse apontando para ela.
Mamãe estava paralisada, com os olhos arregalados, olhando para um lugar específico da sala.
- Ah, mas já? Não está muito cedo não? - Perguntei.
- A doença não pode esperar, minha querida Lily! Quanto mais cedo ela for tratada, mais cedo,ela será curada! - Papai respondeu.
- Não te parte o coração não? - Perguntei.
- O quê? - Me olhou.
- Ver ela assim! Certamente, não é aquela mulher feliz, e cheia de vida de antes! Respondi.
- Ela vai ficar bem! - Me abraçou. - Se despeça dela, que os enfermeiros já chegaram. - Ele disse.
- Quanta frieza! - Bufei.
Abracei forte a minha mãe, a beijei, e os funcionários da clínica a levaram.
Sentei-me no sofá aos prantos.
- Por quê ela não retribuiu os meus carinhos? Por quê ela não disse nada? - Gritei com um entalo na garganta.
- Abstinência.. Mas ela vai ficar bem! Não se preocupe! Eu te amo. - Meu pai beijou a minha cabeça, e foi trabalhar.
Subi as escadas, tomei um banho, troquei de roupas, fiz o meu café da manhã, e a casa parecia mais deserta, que antes. E realmente estava.
Por um instante pensei em não ir para a escola. Mas como as minhas notas precisavam de uma melhora,eu fui mesmo assim.
Assisti ao primeiro horário de aula normalmente, e no segundo horário fiquei na biblioteca estudando.
- Psiu! - Alguém disse.
Olhei,e vi Alba em uma mesa afastada. Fui até ela.
- Oi. - Sentei - me.
- O Rachid me contou que vocês conversaram até tarde na noite em que você dormiu na casa dele. - Disse me encarando.
- É,foi! - Afirmei com a atenção voltada para o meu livro.
- Você só tem isso, para me dizer? "É,foi?" admita, Lily! Vocês se beijaram? - Ela perguntou.
- Claro que não! Por quê você não confia em mim, Alba? Você sabe que os únicos garotos que eu beijei na vida, foram o William, e o Lucca! A minha relação com o Rachid é amizade, e nada mais! Por quê você não entende? - Perguntei irritada.
- Por quê você olha para ele de um jeito diferente, você fica andando de mãos dadas com ele, sem contar,que eu detesto quando você chama ele de "Chid". Isso é chato, sabia? Você impede ele de olhar para mim! Chama toda a atenção dele para você! - Ela gritou.
- Silence! - A bibliotecária deu um grito agudo.
- O seu ciúmes é tão doentio, que você ver coisa onde não tem! - Bufei, tirei os meus livros da mesa, e saí.
Lily:
Mesmo a casa estando em paz absoluta depois que minha mãe foi internada, eu não deixei de sentir a falta dela.
Passei vários dias deprimida, sem querer sair de casa, mas certamente, os ensaios para o campeonato de dança me ajudaram bastante á sair da "deprê". Pois uma pequena falta sequer, pode fazer um bailarino perder-se completamente, na coreografia.
1 mês após a internação de Olívia..
As mãos suavam, as pernas estavam bambas, e as batidas do coração aceleravam á todo instante.
Finalmente, nós estávamos prestes á nos apresentar na primeira fase do campeonato mais importante de nossas vidas.
Me aqueci um pouco, respirei fundo, e me olhei no espelho.
- Roupa, ok! Cabelo, ok! Maquiagem, ok! Sapatilhas,ok... Perfeito! Não está faltando nada! - Falei em frente ao espelho enorme do camarim.
Megan reuniu todos os bailarinos e bailarinas da companhia, para nos dizer algumas palavras, antes da nossa apresentação.
- Hey! Vocês são muito bons! E este é o motivo pelo qual estão aqui. Façam valer todas as nossas cinco horas de ensaios por dia, todas as nossas dores nos pés, todo o nosso cansaço físico e mental, enfim o nosso esforço! - Ela disse. - Vocês são capazes! Vocês são demais! O talento de vocês é inigualável! Agora dêem o melhor de vocês! - Sorriu.
[[ Nós vibramos]]
As cortinas se abriram,e eu entrei acompanhada do Lucca (Um de meus melhores amigos, e o carinha com quem dei o meu primeiro beijo).
Primeiramente, nós fizemos uma espécie de "dueto" romântico, com direito á rodopios , piruetas, e toda a leveza do ballet.
Em seguida, entrou em cena o restante da companhia, e com uma música um pouco mais intensa, fizemos uma longa sequência de passos sincronizados.
E o público foi á loucura!
Como já era de se esperar, nós conseguimos passar para a segunda fase do concurso,que será no México.
Feliz da vida, eu estava sentindo orgulho de mim mesma. Só que eu gostaria que o meu pai sentisse a mesma coisa.
Isso, se ele tivesse ido me ver!
Decepcionada, troquei de roupas, e quando saí do teatro,encontrei com Lucca do lado de fora.
- Lily! Quer uma carona? - Ele perguntou.
- Não, obrigada. - Comprimi os lábios.
- Tudo bem. Bom, eu gostaria conversar com você.. - Ele disse.
- Tudo bem,conversamos em outra hora. - Falei fria.
Ele assentiu com a cabeça, e foi embora.
Megan me deu uma carona até em casa,e como sempre, me aconselhou bastante, depois que lhe contei o quanto eu estava triste.
Entrei em casa, e me deparei com o meu pai lendo um livro, e tomando vinho.
- Filha, por quê chegou tão tarde? - Perguntei.
- Se você tivesse ido ver a minha apresentação no teatro, você saberia por quê cheguei em casa tarde! - Bufei.
- Nossa! Eu esqueci completamente! Me perdoe, filha! Eu, eu sinto muito.. - Papai desculpou-se.
- De quê isso importa, agora? - Perguntei, subindo as escadas.
- Lily,espera! - Ele disse, e eu parei.
- Nós iremos nos mudar para o Brasil! - Ele disse.
- Quê? - Olhei para ele ligeiramente.
- Isso mesmo. Eu já estou cuidando de todos os detalhes. - Falou com os olhos voltados para o livro.
- Mudar para o Brasil? Esta idéia é absurda, papai! - Eu disse indignada.
- Absurda ou não, já está decidido! Nós iremos nos mudar para o Brasil! - Disse tomando um gole de vinho.
- Eu não irei,o Senhor tá ouvindo?! NÃO IREI! - Gritei, e fui para o meu quarto correndo.
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Um Passo para Deus (DEGUSTAÇÃO)
Teen FictionVinda de uma família completamente desestruturada, Lily cresceu presenciando diversas brigas de seus pais, e vendo a sua mãe se afundar no alcoolismo cada vez mais. Só, que tais fatos não a fizeram desistir do maior sonho de sua vida: Ser bailarina...