CAP 5

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Lily:

- Eu não quero ir! Odeio aquela escola! - Esbravejei.

- Mas você só assistiu um único dia de aula. Como já odeia a escola? - Papai perguntou.

- Odeio, simplesmente! - Bufei.

- Lily, você  não é mais nenhuma criancinha! Entra logo no carro, antes que eu te ponha á força! - Ele disse um pouco irritado.

- Droga! - Resmunguei, e entrei.

Meu pai me deixou em frente ao colégio, e eu entrei me arrastando para mais uma manhã irritante, ao lado de pessoas irritantes.

- Aê, gringa! - Carter gritou, derrubando os meus cadernos no chão.

Justamente, quando eu decido não levar mochila ಠ_ಠ

- Imbecil! - Gritei furiosa, juntando os cadernos.

- O quê a gringa disse? - O valentão voltou, me encarando.

- Que você é um imbecil! - O encarei.

- Se eu fosse você teria medo de mim! - Ele disse com o rosto bem próximo ao meu.

- E se eu fosse você, escovaria os dentes. Esse bafo de peixe morto é matador! - Falei.

[[ Risos pelo corredor]]

O empurrei, enquanto ele verificava o seu mau hálito, e fui para a minha sala tranquilamente.

Como eu não queria passar pelo constrangimento de ficar andando em círculos, á procura de uma carteira novamente,sentei - me logo nas últimas carteiras onde chamam de "fundão".

Fiquei olhando para o nada com a mão no queixo, enquanto o professor não entrava na sala, e o restante dos alunos também.

- Psiu! - Alguém disse, e eu ignorei. - Ei! Psiu! - Insistiu.

Olhei para trás, e uma garota magra, de cabelos loiros, e muito simpática aproximou-se.

- Eu achei o máximo, o que você fez com o Carter! - Sorriu timidamente.

- Ah,você viu? - Dei um sorriso torto.

- Vi. Faz tempo que ninguém dar uma lição no Carmo! - Ela disse.

- Carmo? - Fiz careta.

- É o nome dele! Mas ele odeia tanto o bom gosto dos pais dele,que se apelidou por Carter! E "ai" de quem, ousar em chamá-lo de Carmo! - Explicou.

[[ Gargalhamos]]

- Sou a Patrícia! - Sorriu.

- Lily. Prazer! - Sorri.

[[ Apertamos as mãos amigavelmente]]

- Então, aqui tem aulas de ballet, ou algo do tipo? - Perguntei curiosa.

- Tem o grupo de dança! Eu até faço parte. Se quiser assistir á um ensaio qualquer dia,sinta - se á vontade! - Ela disse.

De bailarina que compete em grandes campeonatos,para "assistente" de ensaio de "grupinho" de dança? Pensei maldosamente.

- Hum, tudo bem. - Assenti sem graça. - E o que vocês dançam? - Perguntei como quem não quer nada.

- Hip hop, street dance, dança contemporânea,ballet.. - Patrícia respondeu.

- Você disse, ballet? - Arregalei os olhos.

- Você gosta de dançar? Se quiser pode se inscrever para entrar pro grupo no próximo bimestre! - Deu de ombros.

- Eu sou bailarina clássica. - Arfei.

Juro que não queria ter respondido esta pergunta de forma esnobe mas.. Acho que foi inevitável.

- Nossa! Que tudo! Gostei de você! - A garota disse animada.

- Eu também. - Dei um sorriso murcho.

A professora de inglês entrou na sala, e o restante dos alunos entraram em seguida.

- Nos falamos no intervalo! - Cochichou.

- Tudo bem. - Cochichei em resposta.

Acho que ao menos uma colega eu tenho agora, certo?

Lily:

- Eu só acho, que a sua "filhinha" foi criada com muito mimo, meu irmão! Onde já se viu? A garota não come todos os tipos de comida, passa a maior parte do dia trancada no quarto usando o computador, e ainda é mau humorada? Ah,Olavo! Nunca pensei que a Lilith fosse tão cheia de frescuras! - Minha tia Otávia reclamou para o meu pai.

- Otávia, tudo ainda é muito novo para a Lily! Ela não é acostumada com nada disso! Ela deixou para trás os amigos, a mãe, e a escola de ballet que ela tanto amava. Para uma adolescente,isso é o fim! - Meu pai argumentou.

Ao menos alguém nessa casa, me entende!

- Quanto drama! A sua filha é insuportável, Olavo! Eu não vou aturar por muito tempo essa garota fazendo birra dentro de casa. Nunca parou para pensar que os nossos pais podem se sentirem mal com isso não? A única neta, os ignora! - Ela gritou.

O meu pai, e a Otávia são os únicos filhos dos meus avós,e o sonho da vida da minha tia, é ser mãe.
Mas, por alguns probleminhas ainda não conseguiu.

Ela faz tratamento para engravidar há 2 anos,e desde então, a espera até que seja abençoada com um bebê, mexeu muito com o humor dela.

- Não se preocupe! Eu já estou vendo um lugar para morar com a minha filha,e espero que você pare de reclamar! Isso já está ficando chato! - Papai disse, e retirou - se.

Deixei de ouvir atrás da porta, e corri para o quarto.

- Já está pronta pro colégio, filha? - Ele perguntou dando batidinhas na porta.

- Quase! Já tô indo! - Gritei.

- Rápido! Você precisa comer alguma coisa antes de ir, hein? - Falou.

- Só um minuto. - Gritei pondo as minhas sapatilhas de ballet,e uma meia calça dentro da mochila.

Desci, tomei um café da manhã rápido, e papai me levou para a escola.



Chegando lá,a mesma coisa de sempre : Carter me zoando, as pessoas me ignorando, e Patrícia ( minha semi amiga) salvando a pátria, me fazendo não me sentir tão sozinha, e perdida no meio daquela gente toda.

- Psiu! - Ouvi,e olhei para trás.

- Tem ensaio hoje depois da aula! - Patrícia cochichou.

- Eu sei! - Sussurrei.


Após a aula..

Paty (íntima, já?) me levou para o "quartinho" que elas se aquecem antes de entrar no palco, e ficamos lá por alguns minutos.

Depois, uma voz masculina chamou todos os dançarinos para o palco (deve ser o professor),todos foram, e eu fiquei observando o ensaio escondida por detrás da cortina.

- Quanta falta de talento, meu Deus! - Revirei os olhos.

Fiquei até com náuseas vendo aqueles bailarinos desengonçados fingindo que estavam dançando. Fingindo, por quê para mim,aquilo nunca foi dança!
Mas sonhar, não custa nada não é mesmo?

- Nossa! Se os meus amigos da companhia vissem isso, certamente eu morreria de vergonha! - Ri alto, e logo levei as mãos até a boca para que não me ouvissem. - E esse espaço então? Como alguém consegue dançar em um local tão pequeno? - Me perguntei.

Entrei para o quartinho,vesti a meia calça, pus as sapatilhas nos pés, e fiquei na ponta.
Me aqueci ligeiramente, e logo comecei á dançar.

Entre rodopios, e passos que aprendi com Megan (saudades dela), eu dançava no ritmo daquela música maravilhosa.

Ao menos a música é boa! Graças!

Rodopiei, rodopiei, rodopiei, tropecei em um sapato que alguém deixou por ali,saí cambaleando, tentei me segurar na cortina ( claro que não ia dar certo),e acabei caindo, derrubando a cortina, e o pior, havia alguém em baixo de mim.

Agora imagine a cena: Eu por cima, uma cortina vermelha no meio,e uma pessoa não identificada por baixo de mim, completa por inteiro por um pano vermelho.

Mico do ano!

- Ai.Meu.Deus. - Falei lentamente.

[[ Gargalhadas infinitas ecoavam pelo auditório]]

Tirei o pano rapidamente de cima da pessoa, e dei de cara com um lord. Quer dizer, o professor de dança.

Que vergonha!

- Me perdoe! Foi sem querer, eu não quis! Oh meu Deus, desculpe! - Eu disse corada, me levantando rapidamente.

[[ Patrícia chorava de tanto rir ಠ_ಠ]]

- Tudo bem. Só preste um pouco mais de atenção na próxima vez. Por um momento, eu fiquei tão tonto,que cheguei á pensar, que você tinha caído do teto. - Disse o professor, passando a mão em um galo imenso na parte de trás de sua cabeça.

[[Olhei para o chão tímida]]

- Prazer, Ettore! Aluno,e  professor de ballet da escola. - Estendeu a mão para um aperto amigável,com um sorriso estampado no rosto.

Professor e ALUNO?
Juro que não entendi!

- Lily! - Falei,apertando a mão dele devagar.

Depois de um tombo daqueles, eu tentei ser sútil ao menos uma vez.

- Você é a aluna novata, né? - Perguntou.

- S,sim! - Gaguejei.

- Gente, o ensaio está encerrado por hoje! - Ele disse.

- Ué, já? - Alguém perguntou.

- Eu estou um pouco zonzo. Melhor repetirmos amanhã. - Ele respondeu.

Burra, burra, burra! Culpa minha!

Os alunos aceitaram com tristeza, e foram embora aos poucos.
E eu? Troquei de roupas, e depois fiquei lá me sentindo a bruxa má da história.

- Hey! - Gritei.

Ettore me olhou, e foi até mim.

- Desculpas! Fiquei mal por ter te machucado! Sou uma desastrada. - Falei envergonhada.

- Relaxa! Eu vou ficar bem. - Sorriu. - Bom, eu já estou fechando o auditório. - Me olhou.

Ok, me expulsou educadamente.

Sem dizer mais nada, peguei a minha mochila,e saí.
Chegando lá fora, a tia Otávia me esperava para me levar pra casa.

- Que demora! Eu trabalho, sabia? Não posso passar meia hora em frente a sua escola, esperando você sair! - Resmungou dando a partida no carro, saindo em alta velocidade.

Não fui discutir. Pus os meus fones de ouvido, coloquei a minha playlist predileta, e fui ouvindo músicas até chegar em casa, enquanto minha tia só reclamava.
Lily:

Finalmente, o meu pai conseguiu uma casa para morarmos. Nos mudamos ao final da tarde para uma casa bonita,confortável e bastante espaçosa.

E o melhor de tudo, é que além de ser perto da minha escola, eu me "livrei" do mau humor da minha tia.
Por quê de cara emburrada,já basta a minha.

Á noite...

- Agora somos apenas eu, e você! - Papai disse sorrindo.

- É. - Sorri em resposta.

- Gostou do seu quarto? - Perguntou.

- Sim, muito. Mas faltam alguns pôsteres, roupas jogadas pelos cantos, um papel de parede bem bacana, ursos de pelúcia, enfim.. - Respondi.

[[ Gargalhamos]]

- Bom filha,eu estou muito cansado. Vou dormir pois amanhã tenho que ir trabalhar, e você tem aula. - Deu um beijo em minha testa, e foi para o quarto.

Fiquei na sala vendo tv,e depois fui para o meu quarto.


No dia seguinte...

Acordei cedo, tomei banho, troquei de roupas, e fui tomar café da manhã.

- Que cheiro de queimado é esse? - Perguntei fazendo careta.

- As torradas queimaram! - Meu pai respondeu dando um sorriso amarelo.

[[ Ri alto]]

- Deixa que eu faço! - Entrei na frente dele,joguei aqueles "torrões" no lixo, e fiz as torradas.

- Torradas crocantes, e deliciosas! - Sorri pondo o prato em cima da mesa.

- Ao menos o suco, eu fiz! - Papai falou sem jeito.

Tomamos café, e depois ele me deixou em frente ao colégio.


Entrei.

- Meninaaa! - Patrícia veio correndo falar comigo.

- Que susto, sua louca! - Arregalei os olhos.

- Nossa cara, eu ri muito ontem! - Ela disse gargalhando.

- É,você chorou. - Falei sem emoção.

- Cair em cima do Ettore não é pra qualquer uma não, hein? - Sorriu.

- Eu já disse que foi sem querer. - Bufei.

- Tudo bem, amiga. Mas que foi engraçado, foi. - Deu uma risadinha.

- Você me chamou de quê? - Olhei para ela ligeiramente.

- Amiga! Apesar de te conhecer a pouco tempo,já te considero assim. Algum problema? - Perguntou.

- Não, só fiquei feliz. - Falei timidamente.

- Aawn! - Me abraçou forte.

A Patrícia faz a linha fofa sabe? E apesar de eu ainda não ter me soltado, e ser a timidez em pessoa nesta escola, eu gosto desse jeitinho dela.

- Amiga, meu namorado está vindo aí. Vou falar rapidinho com ele, e se você quiser ir para a sala me esperar lá, pode ir! - Ela disse.

Ok! Ela me dispensou educadamente.
Ultimamente, todo mundo faz isso ಠ_ಠ


Entrei na sala de aula. De cabeça baixa, procurei uma carteira , me sentei no "fundão" como nos dias anteriores, e guardei a cadeira ao lado para a Patrisha ( irei chamá-la assim agora. Ou simplesmente, Trisha).

Fiquei distraída lendo um livro enquanto a aula não começava, e vi um vulto de uma pessoa sentando-se na cadeira ao lado.

Quando abri a boca para falar que eu estava guardando aquele lugar para a minha mais nova amiga..

Um sorriso encantador, e lindos olhos me fuzilaram fazendo com que eu perdesse a graça completamente.

Ettore!!


- Você? - Falei.

- Sim, eu estudo aqui. - Sorriu.

Aquele sorriso! Por quê tão lindo?

- Hum. - Comprimi os lábios.

- Então, me falaram que você era dançarina clássica no exterior. É verdade? - Perguntou.

- Sim, é! - Respondi.

- Então, você deve ter muita experiência com a dança não é mesmo? - Perguntou.

Onde ele quer chegar?

- Sim, bastante. - Respondi com timidez.

- Eu gostaria de saber se você quer fazer parte do grupo de dança da escola. - Falou com aquele sorriso nos lábios.

Maldito sorriso! Por quê me desconcerta tanto?

- Fazer parte, como? Ser dançarina? Por quê eu não quero passar vergonha! - Fui sincera.

- Você é bem convencida pro meu gosto. Mas não! Quero que dê aulas comigo. - Respondeu.

- Ótimo! Melhor assim. Quanto vou ganhar? - Perguntei interessada.

- Quê? - Franziu o cenho.

- Você não quer que eu dê aulas de graça, quer? - Fiz careta.

- Você é muito engraçada! - Riu.

Não vejo graça! ಠ_ಠ

- Silêncio, aí no fundo! - A professora gritou,mas nós continuamos conversando.

E só quando ela berrou, que eu fui perceber a sua presença ali.

- Se eu fosse você Lilith Collins, prestaria mais atenção na aula, para da próxima vez, escrever os trabalhos em português. - A professora resmungou. - Traduza tudo isso,ou ficará sem nota! - Ela disse me entregando a minha apostila.

- Tudo bem. - Baixei a cabeça envergonhada, enquanto ouvia "risinhos" reprimidos vindo lá da frente.

Saco!

Ao final da aula, Ettore disse que falaria comigo depois para ajustar os últimos detalhes,e saiu apressado.

- Ele te deixou balançada, não deixou? - Patrícia perguntou vendo a minha cara de bobona.

- Deixou nada! - Retruquei.

- Deixou sim! Tá na cara! - Riu.

Á quem eu estou tentando enganar? Claro que aquele garoto me deixou mexida!

Mexida de uma maneira, que nenhum outro garoto me fez ficar antes.

- Fim de assunto! É um garoto como outro qualquer! - A belisquei.

- Aiii! - Reclamou. - Não está mais aqui quem falou! - Levantou as mãos em rendição.

- Vou pra casa. - Pus a minha mochila nas costas.

- Vamos pra minha casa! - Convidou - me.

E após muita insistência.. Fui conhecer a casa da Trisha.

De início me senti bastante envergonhada, já que sempre acho que posso estar incomodando,
mas depois foi super legal.

Acho que esta visita serviu para nos conhecermos melhor pois abrimos toda a nossa vida uma para a outra,e falamos também sobre as nossas manias, gostos, e sonhos para o futuro.

Um Passo para Deus (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora