Capítulo 1

9K 435 28
                                    

Olhei a carta em cima da mesa e engoli em seco. Levantei os olhos para o homem sentado à minha frente, com um smoking, um relógio caro no pulso e um sorriso vitorioso no rosto. Podia ver minha insegurança refletida em seus olhos verdes.

- E então? – ele disse, me impulsionando a ir em frente.

Olhei ao redor. Havia mais três homens ao seu lado. Não eram amigos. Eram seguranças. Conhecia muito bem esse tipo de cara. Bonitos. Podres de ricos, sem nem fazer questão de esconder esse fato. Mas acima de tudo: apenas pareciam perigosos. E apenas pareciam inteligentes também. A verdade é que eu vivia de sua arrogância e espirito de grandeza.

- Já era – um dos seguranças comentou ao seu lado – Ela já perdeu. De novo.

Os outros riram.

Olhei para o homem à minha frente novamente. O sorriso no seu rosto não havia sumido. Dei mais uma olhada nas cartas em minhas mãos.

- Tenho que admitir que admiro sua garra – ele disse – Você é dura na queda. Se era isso que queria provar, já o fez – ele começou a puxar o dinheiro em cima da mesa para si – Não precisa perder mais.

Respirei fundo.

Era isso. Tinha acabado.

Para ele.

Levantei o rosto e dei um sorriso.

- Eu não joguei ainda.

Ele me encarou. Pude ver toda aquela segurança se dissipando dele enquanto meu sorriso aumentava e a máscara de garota indefesa se desfazia. Ele tinha caído direitinho. Eles sempre caíam.

Virei as cartas em cima da mesa e saboreei o olhar de derrota e surpresa no rosto de cada homem ao meu redor. Sempre era assim. Fácil demais.

Você apostava com uma grande quantidade de dinheiro na mão e um olhar desafiador. Eles riam de você por ser mulher. Você aumentava a aposta. Eles aceitavam, porque dinheiro era sua sina. A gente jogava. Eu ganhava. Eles não aceitavam perder e dobravam a aposta. Eu aceitava e perdia. Eles se vangloriavam. Eu dobrava a aposta mais uma vez. Eles topavam, e eu perdia de novo. Aumentava a aposta de novo. Eles cantavam vitória antes mesmo do jogo começar. E então eu levava todo o dinheiro deles para casa.

- Não pode ser! – o homem disse, os olhos arregalados e as mãos tremendo.

Levantei da cadeira e puxei o dinheiro para o meu lado.

- Sorte de principiante, hã? – sorri e comecei a botar o dinheiro dentro do meu vestido.

Ele não falou nada. Não moveu um músculo. Estava totalmente em choque, ainda encarando as cartas em cima da mesa. Não podia acreditar que tinha perdido.

Assim que terminei de guardar o dinheiro, me aproximei dele e passei a mão em seu braço delicadamente.

- Eu posso perder uma – falei – Duas. Até três jogadas – aproximei meus lábios se seu ouvido, sussurrando – Mas eu nunca perco o jogo.

Ele me olhou. Observei de perto o choque se transformar em raiva dentro dos seus olhos. Seu rosto se contorceu e, em um acesso de fúria, ele levantou rapidamente da cadeira, de modo brusco.

- Você me enganou! – ele gritou alto o suficiente para me deixar surda.

Apenas encarei ele, como se nada tivesse acontecido, e dei um sorriso de lado.

- Espero não ter te deixado liso – e essa foi a minha deixa.

Virei de costas e comecei a me dirigir lentamente até a saída. Não estava muito longe, mas eu sabia que antes de chegar ao meio do caminho eu teria que começar a correr.

Jogando com PrazerOnde histórias criam vida. Descubra agora