Capítulo 2

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Despejei o cereal em uma tigela para mim e peguei outra para Melissa assim que ouvi seus passos no corredor.

Ela entrou sonolenta na cozinha e sentou, se escorando na bancada.

- Cereal? – perguntei. Ela afirmou com a cabeça, bocejando – Dormiu bem?

- Não consigo me lembrar da última vez que dormi em um colchão que preste.

Sorri.

Eu já havia feito milhares de tentativas de convencê-la a morar comigo, mas ela nunca aceitava. Gostava de ir e vir quando quisesse e odiava se apegar a qualquer coisa. Ela vivia pulando por aí, de um quartinho nos fundos de algum lugar à um quarto de pousada caindo aos pedaços e depois a hotéis menos cinco estrelas. Como ela sempre gastava o dinheiro que ganhava com qualquer coisa que não fosse o aluguel, ela sempre ia embora antes de começarem a cobrar, sem deixar rastros.

Quando alguma coisa dava errado, ela costumava ir dormir de baixo de uma ponte ou em algum buraco na parede. Atualmente ela vinha para cá, como agora. Provavelmente ficaria uma ou mais semanas, até achar um lugar ruim com um dono idiota para ficar por um mês e vazar.

- Vai fazer algo hoje? – ela perguntou enquanto comia.

- Não sei. Talvez tentar ganhar de volta os quinze mil que você levou de mim.

Ela fez uma careta.

- Cara, você deveria começar a usar aquele pênis de borracha que veio de brinde na bolsa que roubou. Você está precisando.

Eu ri.

- Vou pensar sobre isso.

Ela sorriu.

- Eu estava pensando... – ela fez uma pausa para mastigar.

Encarei ela.

- O que?

Ela fez um gesto impaciente com a mão.

- Posso terminar de ingerir meu alimento?

Revirei os olhos e esperei ela terminar.

- Estava pensando se você não podia me levar num lugar desses para eu ganhar dinheiro jogando também – ela disse, por fim.

Larguei a colher na tigela e apoiei os braços na bancada, olhando séria para ela.

- Você sabe jogar algo, pelo menos?

Ela deu de ombros.

- Alguns jogos – ela fez uma pausa – E pôquer também – ela começou a mastigar novamente, mas fez menção de que iria continuar falando, então esperei – Aprendi nas ruas, apostando drogas – ela riu.

Peguei a tigela vazia dela e levei até a pia.

- Eu não acho que um grupo de pessoas drogadas jogando pôquer seja realmente um jogo de pôquer.

- Hei! – ela protestou, se fingindo de ofendida – Eu ganhei muitas drogas assim.

Ergui as sobrancelhas, descrente.

- Pessoas drogadas não sabem o que estão fazendo.

- Ok, então – ela apoiou os braços na bancada e se inclinou para frente – Vamos dizer que eu saiba as regras do jogo.

- Saber as regras não é saber jogar – falei.

- Mas já é um começo – ela retrucou.

Encarei ela por tempo indefinido, depois suspirei e puxei uma banqueta para sentar.

- Quer mesmo fazer isso? – perguntei.

- Quero ganhar dinheiro e te pagar...

- Já disse que não me deve nada – interrompi ela.

Jogando com PrazerOnde histórias criam vida. Descubra agora