19 - Luana

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Quinta-feira, dia 5 de Novembro, 21:23, habitat natural masculino.
Girls:
- Lu, dá uma ajudinha aqui? - Mary pediu, com dificuldade para abrir o botão da calça.
- Sempre, né, Mary? - perguntei, rindo com ela. Aquela era nossa piada interna, porque sempre que Mary bebia demais não conseguia abrir o botão da calça, e eu tinha que acompanhá-la ao banheiro.
Cambaleei para perto dela, me apoiando em qualquer coisa que via pelo caminho. Minhas pernas estavam bambas, e não me obedeciam mais, mas eu ainda estava boa o suficiente para me lembrar das coisas. Abri seu botão vagarosamente, e sentei-me no chão, enquanto ela fazia xixi. Sei que aquela cena era um pouco nojenta, mas nós estávamos bêbadas e achávamos tudo muito engraçado. Olhei para o teto, apertando os olhos por causa da luz da lâmpada que me cegava.
- Você acha que o Thur algum dia vai querer ficar comigo? - perguntei, debilmente, me esquecendo de que não havia falado à ninguém que talvez estivesse um pouco afim dele.
Só um pouco!
- Acho que eu estou afinzassa dele... - suspirei.
É... Talvez um pouco mais do que só um pouco.
Como ele havia passado de lixo imprestável para possível paixonite no meu conceito???
- EU SABIA! - ela gritou, caindo na risada enquanto dava descarga. Fechei a cara de brincadeira e ela riu mais um pouco antes de recomeçar a falar. - Bom, se quer saber minha opinião sincera, acho que ele tá afim de você, mas também acho que ele vai conseguir o que quer e depois jogar fora, como fez com todas as garotas da escola...
Era por isso que eu adorava minhas amigas bêbadas, eram sempre sinceras.
- É, eu sinto o mesmo... - suspirei.
- Arthur Paladini, eim? Quem diria... - ela riu, retocando o rímel em frente ao espelho, acertando tudo menos seus cílios. - Acho que a tequila tá subindo agora... - ela mudou de assunto, ficando de frente pra mim. Ajudou-me a levantar e nós duas saímos do banheiro de braços dados, dando de cara com Anne e Rhayane, que esperavam do lado de fora, tão bêbadas quanto nós duas. Elas nos puxaram novamente lá para dentro, e nós quatro ficamos socadas num cubículo que cheirava xixi.
- Reunião? - perguntei, pegando o copo de sei-lá-o-que da mão de Rhayane e entornando-o garganta abaixo.
- Estou com um probleminha! - Anne exclamou, sentando-se na tampa da privada. - Lucas disse que queria ficar sozinho comigo e eu só ri. Então ele fez uma cara estranha e disse que ia pegar mais cerveja. E agora está todo estranho comigo...
- E por que diabos você foi rir? - Mary perguntou.
- Sei lá, eu pensei que fosse uma piada, ele só faz piada! - ela exclamou, colocando a mão na frente da boca logo em seguida. - Será que ele ouviu isso?
- Claaaaro, ele tem audição super sônica! - brinquei, rindo sozinha da piada ruim.
- O que eu faço? - ela perguntou, aflita, arrumando o cabelo em frente ao espelho.
- Você quer ficar com ele? - Rhayane perguntou, já um pouco cansada do cu doce de Anne.
- Não sei... - ela entortou a boca.
- Não sei é sim. - Mary comentou, maliciosa. Anne sorriu nervosa.
- Faz o seguinte, Ann: Volta lá, senta do lado dele e diz que você também quer ficar sozinha com ele! - eu disse, me surpreendendo com as coisas que estavam saindo da minha boca. Desde quando eu dava conselhos amorosos? Eu era sempre a que dava conselhos sobre músicas boas e como fazer o exercício de física mais rápido, não sobre como ficar com um cara! - Quero dizer, Lucas sempre foi o amor da sua vida e agora que você tem a chance de ficar com ele fica fazendo cu doce?
Olhei para elas, que me olhavam de volta de um jeito estranho.
Qual era o problema? Eu estava bêbada! Não podia ser sincera ao extremo como todos os outros bêbados normais?
- Meu Deus, o que eu ainda estou fazendo aqui? - ela perguntou, arregalando os olhos. Depois se virou para a porta, girou a maçaneta e saiu gritando: - Me desejem sorte!
Rhayane foi atrás dela, sempre cuidando para que ela não fizesse nenhuma besteira, e eu saí com Mary, rindo da foto de um cachorro com uma manga na boca que estava colada na parede do hall.
Chegamos na sala depois de quase fazer xixi na calça de tanto rir e encontramos Austin comendo o último pedaço de pizza de peito de peru com catupiry, Pedro contando quantas pintas Rhayane tinha nos braços e Thur dando um gole no que parecia ser sua vigésima terceira cerveja. Claro que não era, mas eu não duvidava nada...
- Outro porre, Thur? - eu perguntei, me jogando ao seu lado. Para mim tudo o que eu estava fazendo era engraçado e sem segundas intenções, mas sabia que quem estava me vendo de fora estava pensando outra coisa. Quero dizer, normalmente eu não me jogaria em ninguém e muito menos em Thur.
Mas estávamos todos bêbados, então, who cares?
- Pergunto o mesmo a você! - ele brincou. Mary sentou-se ao seu lado e entrou na conversa de Pedro e Rhayane.
- Cadê a Ann? - perguntei, mesmo já sabendo a resposta.
- Sei lá, acho que foi dar uma volta com Lucas... - ele respondeu. - Quer? - ele colocou um shot de tequila na minha mão.
- Você quer me embebedar, Arthur Paladini? - perguntei, pegando o copinho da sua mão e mordendo o lábio inferior. Ele seguiu meus movimentos e por um instante ficou travado em meus lábios. - Porque eu continuo não te suportando, bêbada ou sóbria!
Thur sorriu sarcástico e virou um shot ele mesmo. Imitei seu gesto e enchi novamente o copo com a Jose Cuervo que brilhava na mesa central de vidro.
Já havia sacado que ele estava me dando bebidas a noite inteira, porque tudo o que eu havia bebido até ali fora retirado das suas mãos, mas resolvi deixar as coisas aconteceram. Tinha algum problema nisso?
Bom, talvez algumas consequencias...
Continuei virando, e ficava cada vez mais bêbada. Quando eu estava naquela fase não-sinto-mais-nada, começamos a jogar Sueca. [N/a: Pra quem não sabe o que é, jogo de cartas com cada carta significa algo.] Eu só estava perdendo, porque minha coordenação motora estava péssima, e cada vez que perdia tinha que beber mais.
As brincadeiras estavam me aproximando de Thur, e nós estávamos rindo sem parar, sentados um ao lado do outro. Num determinado momento, senti sua mão se entrelaçar com a minha, mas estava tão ausente do mundo real que só a mantive lá, esquentando meus dedos gelados. Estávamos rindo, bebendo, comendo, e tudo estava ótimo, até que eu comecei a ficar enjoada e tonta, e as memórias começaram a vir como flashes: Eu tendo que lamber sal da curvinha do queixo do Thur, tudo preto, o jogo acabando porque Rhayane derrubara batida nas cartas, tudo preto, Anne e Lucas voltando, tudo preto, Thur me levando ao banheiro para vomitar, tudo preto, eu abraçada na privada e Rhayane e Thur segurando meu cabelo, tudo preto, Rhayane e Pedro se beijando num canto escuro, Mary e Austin pulando no meio da sala e Thur rindo, com o braço em volta dos meus ombros, sentados no sofá.
Aí eu apaguei.

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