Hourglass

Capitulo 04- Asma

Justin estava a minha frente, seu olhar não era mais tranquilo e brincalhão, ele estava preocupado.
"Me.." Tentei falar, mas meus pulmões queimavam tanto que começavam a me impedir de falar.
"Vem, vou te levar a enfermaria" Ele puxou minhas mãos, me dando o impulso inicial para levantar.
"Por favor, não" Eu pedi, vi a relutância em seu olhar, ele discutia mentalmente o que era o certo a se fazer.
"Tudo bem, vamos te tirar daqui"
Ele tentou me fazer descer os degraus da escadaria, mas minha força estava em ponto morto.
"Vou te carregar, você não vai aguentar"
Não consegui responder, ele me puxou para seus braços e subiu a escada com pressa. Uma porta foi aberta e pude sentir o ar fresco contra meu rosto,  ele me colocou em uma superfície de madeira, senti algumas farpas, era talvez uma improvisação de banco. Justin respirou fundo.
"O que acabou de acontecer?" Ele perguntou tentando entender a situação.
"Asma" menti
"E você não anda com aquelas bombinhas"
"Faz muito tempo que isso não acontecia" Acrescentei uma verdade em minha mentira "Que lugar é esse?*"
"Era um jardim experimental, a turma de ciências tentava modificar as flores ou coisa do tipo, quando abandonaram o projeto eu resolvi usar aqui" Ele olhou em volta, era realmente bonito. O cheiro era agradável, haviam flores de todas as cores e tipos, as minhas favoritas são as brancas.
"É aqui que você trás suas garotas?" Perguntei com humor
"Ah claro, eu beijo todas bem aí onde você está sentada" Ele brincou
"Huh, então isso é uma indireta?" Joguei os cabelos para o lado, divertida
"Só se você quiser que seja" Ele arrumou o topete e molhou os lábios com a língua, Justin é o tipo de cara que consegue ser sexy sem forçar movimentos e poses, ele só precisa respirar.
Ficamos em silêncio, o ar me fazia bem e cada vez que uma corrente passava por meu rosto eu sentia a vida e seus pequenos detalhes essenciais.
"Você parece ter gostado daqui" Abri meus olhos, que mal notei que até então estavam fechados, e o vi me encarando.
"É o tipo de lugar que você não quer sair mais"
"Não para as outras garotas"  Ele riu
"Aqui não é o lugar perfeito para um encontro?"
"Seria se: Ai Justin, me dê rosas no meu aniversário, vamos pra um lugar mais movimentado e onde não tenha tanto mato em volta" Ele falou com sua imitação da voz de uma menina.
"Lugar movimentado?" Eu soltei uma risada com o nariz
"Um lugar que as amigas delas e outras garotas possam ver que elas estão comigo"  Ele balançou a cabeça e olhou o relógio "Você me deve uma aula de química, estou sem entender uma única vírgula faz três anos e perdi mais uma aula"
"É o preço de ser um herói" Demos risada "Bom, eu posso te ajudar. Sou boa em química"
"Eu não sou bom em nada" Ele se abaixou para amarrar o cadarço
"Não fale assim de você mesmo, aposto que é bom em alguma coisa" Esbarrei meu ombro no dele
"Posso te mostrar" Ele aproximou seu rosto do meu, senti as bochechas queimarem e me afastei delicadamente dele.
"Aposto que é futebol ou corrida"
"Esportes? Sério? Sou tão previsível assim?" Ele se fez de ofendido e a cena de segundos antes parecia não ter acontecido.
"Você tem cara de atleta" Semicerrei os olhos e acabei sorrindo
"A cara e o corpo" Ele mandou beijo e levantou a camisa "Olha só esse tanquinho, pode tocar, eu deixo"
"Não torne meus pesadelos reais" Rimos e ele tentava pegar minha mão para passar em seu abdômen.
"Está melhor?" Ele perguntou quando desistiu da brincadeira
"Parcialmente bem" Abracei meu corpo gelado
"Está com frio?"
"Um pouco" Dei de ombros
"Vem, vamos sair daqui" Ele me puxou pela mão novamente, entrelaçou nossos dedos e voltamos para o corredor dos armários. Era a hora do intervalo e muita gente passava por ali, todos cumprimentavam ele e alguns chegaram a falar comigo, mas Justin se demonstrava apressado até finalmente chegarmos em seu armário.
"Pega" Ele tirou um moletom branco, as mangas cobriam minhas mãos de tão grande que era. "Agora vamos encontrar os garotos"
Era engraçado como Justin andava pelos corredores, parecia desfilar para o fashion week com suas roupas e o caminhar descolado. O refeitório estava cheio, eu não estava com fome depois do episódio nada saudável de hoje, sentei em uma mesa e logo os meninos vieram com suas bandejas.
"Oi amor" Chaz se sentou a minha esquerda "Algum garoto deu ideia em você? Conta pro seu namorado. E que blusa é essa?"
"É minha, babaca" Justin se sentou a minha direita "Não vai comer nada?"
"Agora não"
"Pega uma batata pelo menos" Ele empurrou sua bandeja e eu peguei uma "Não seja literal"
"Literal é meu nome do meio" Eu dei uma piscadela
"Então, Senhora Literal, o que acha de você aceitar o convite de nós irmos até sua casa?" Nolan me perguntou de boca cheia, o garoto levou um tapa de Chris.
"Isso não é um convite"
"É só formalidade, meu bem. Nós vamos de qualquer jeito" Ryan riu e fez um toque com Nolan.
O intervalo foi cheio de brincadeiras, os garotos não paravam quietos e continuaram assim nas aulas que tínhamos juntos.  Justin grudou em mim como um chiclete, mas esse chiclete falava e me perguntava a cada dez minutos se eu estava bem ou queria sair para tomar uma água.
"Pela milésima vez, sim" Eu estava quase gritando no meio da aula
"Não pergunto mais" Ele se fingiu de bravo e prestou atenção na aula, dez minutos depois fez a mesma pergunta.

******

Os garotos estavam enchendo meus ouvidos com piadas e falando sobre como a bunda da Alexandra Barbarieth tinha dobrado de tamanho.
"Chegamos, graças a Deus" Eu destranquei a porta e a comitiva da minha família estava me esperando.
"COMO FOI?" Meu avô foi o primeiro
"Ótimo" Eu estava nervosa com a possibilidade deles falarem algo errado, pela primeira vez na vida eu tinha amigos que não estavam com um olhar cheio de pêsames "Podemos falar depois? Estou com visitas"
Todos olharam para os garotos, analisaram-nos completamente e eu posso jurar que no lugar deles já teria saído correndo e me jogado dentro de uma delegacia implorando para a "segurança de uma prisão".