Capítulo I

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Faziam exatamente cinquenta meses, setecentos e oitenta e nove dias, cento e quatro semanas, vinte um mil e sessenta horas e setenta e cinco milhões setecentos e oitenta mil segundos que eu havia me mudado para a cidade maravilhosa. Podem me achar louca, podem dizer que eu não tenho o que fazer, mas calcular os dias, meses, horas e segundos parecia ser o que eu precisava fazer para não me lembrar do passado. Passado, essa palavra me causava terríveis arrepios, noites mal dormidas, voltas no estômago e, principalmente, más recordações, mas como minha mãe sempre dizia: 'Quem gosta de passado é museu, minha filha, viva o presente e tente não estragar seu futuro'.

E foi isso que eu fiz. Cidade da Luz era como eles a chamavam. Não, não estou falando do meu Brasil, minha terra maravilhosa, que à noite virava um show de luzes, estou falando de Paris. Ah, Paris, uma cidade perfeita para se viver, um dos melhores lugares para se morar, deveria existir outdoors em todos os cantos do mundo dizendo: "Venham para Paris e comece uma vida nova, esqueça seu passado, Paris é o seu presente."

Mudei-me para Paris logo que as coisas começaram a andar bem na minha vida outra vez, um sonho antigo de se tornar atriz voltou com tudo na minha vida e se tornou uma realidade, um caça talentos aqui de Paris foi passar as férias na Califórnia e logo que me avistou gostou de mim e logo me chamou para fazer parte de um de seus filmes e, sem hesitar um milésimo, adentrei ao primeiro avião para Paris. Meu pai e minha mãe não aceitaram no começo e Mandy não queria aceitar de jeito nenhum, ela havia se apegado muito a mim, mas o que eu poderia fazer? Eu tinha que esquecer, tinha que deixar naquela cidade para esquecer, esquecer de tudo.

Dizem que quando se foge aquilo lhe persegue e volta duas vezes mais forte, bom, comigo não aconteceu isso, ainda. Eu tinha que me libertar do que me prendia naquela droga de cidade.

Logo que cheguei a Paris conheci todos os produtores, organizadores, atores e atrizes e pessoas possíveis para o filme, agradeci milhões de vezes aquelas aulas de francês que eu achava uma perda de tempo - elas me ajudaram muito -, mas tudo não foi cor de rosa, descobri um pouco antes de gravar o filme que deveria cantar e logo me bateu a insegurança. Será que eu conseguiria? A resposta foi sim e os produtores gostaram tanto que me fizeram gravar um CD, não em francês, pois meu francês não era tão bom, mas sim em inglês, para o filme. O filme foi muito bem criticado e logo minha carreira decolou tanto aqui como nos Estados Unidos. Assim foi e continua sendo durante esses dois anos, com vários papéis me surgiram grandes oportunidades, e eu as agarrei com unhas e dentes, trabalhando a maior parte do meu dia. Ainda me perguntam o que eu gosto mais de fazer: atuar ou cantar; sempre respondo os dois, simplesmente se completam, me completam.

Entrei pelo hall do prédio dando um breve sorriso ao meu porteiro, Robert. Ele veio a ser o meu melhor companheiro nos jogos da França, admito, assistir aos jogos dos franceses me frustravam, eles falavam tão rápido que às vezes nem Robert entendia, ele foi o melhor amigo que eu já tive, ele sempre estava lá quando eu precisava, sempre que chegava um roteiro nós líamos juntos para criticarmos, se fosse bom eu aceitava, se não, aceitava do mesmo jeito. Robert sempre dizia: 'Não se julga o livro pela capa, todos merecem um voto de confiança e até mesmo uma segunda chance.'. Aquela última parte me cheirou a passado. Opa! Alerta! Logo tratei de mudar de assunto.

- Bon jour, Robert! - falei passando por ele e pegando minha correspondência.

- Bon jour, senhorita! - ele falou sorridente. Robert era um viúvo que tinha dois filhos, ele morava no prédio e não necessitava do emprego de porteiro, mas ele gostava, ele dizia ter se acostumado de anos esperar um porteiro vir e nunca veio, e decidiu ficar no cargo desde então. - Como foi o seu dia?

The Babysitter IIOnde histórias criam vida. Descubra agora