Capítulo X

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- Sara! - senti algo me sacudir de um lado para outro, tentando me acordar, soltei um resmungo em reprovação e coloquei o travesseiro em meu rosto, eu não estava a fim de acordar agora. - Sara!
- Ai não, me deixa, Matt!
- O que é isso?
- Sono.
- Não, você está usando seu caderno de músicas? I never wanted you to leave, I wanna you stay here and hold me. - dei um pulo da cama e peguei o caderno de suas mãos e o abracei.
- O que você pensa que está fazendo?
- Lendo e me emocionando. É linda.
- Essa não é pra ser usada.
- Por que não? É incrível.
- Ela tem um valor importante para mim.
- Você escreveu ela para sua mãe?
- Como...esquece. Sim, eu escrevi sim.
- Ela iria amar. - ele falou se sentando na cama em minha frente. Afastei o caderno e o olhei, minha mãe havia me dado quando eu comecei a escrever músicas, ela sempre falava que todas as vezes que eu escrevesse uma música nesse caderno, ela iria tornar-se um sucesso. Bom, quanto a isso ela nunca errou. - Você não vai gravar?
- Não sei, Matt, eu queria guardar como uma lembrança, uma coisa que eu tenho dela, sabe.
- E quer coisa melhor que gravá-la? Você a terá na memória.
- Eu lembrarei da minha mãe toda vez que eu cantá-la.
- Você mesmo disse que queria se lembrar dela de um jeito bom, toda vez que você cantá-la lembrará dos momentos que passou com ela.
- Você acha?
- E alguma vez eu estive errado?
- Teve aquela vez... - ele me fuzilou com os olhos fazendo com que eu parasse de falar. - Parei.
- Você vai gravá-la? - de certa forma Matt estava certo, gravando essa música era uma maneira de manter uma imagem especial e boa da minha mãe, eu me lembraria sempre dos momentos bons, nunca dos ruins e sempre, sempre a amaria eternamente.
- Tudo bem, vamos gravá-la.
- Eba! Vou ligar pro estúdio pra você ir para lá.
- Não, Matt, vamos esperar algum tempo, depois do filme eu gravo.
- Deixa eu ver o caderno de novo? -entreguei-lhe o caderno de novo e ele começou a folheá-lo. - Você nunca me mostrou essas músicas.
- Ah, eu sempre mostrava para minha mãe, era só dela esse caderno. Toda vez que ela ia a Paris eu mostrava.
- Você nunca gravou uma música que está aqui?
- Não! Isso aí é muito pessoal, diferente do que eu já cantei.
- É isso!
- O quê?
- Sara, esse caderno tem cheiro de sucesso, tem milhares de músicas incríveis aqui, por que você nunca me mostrou?
- Nunca achei necessário, eram apenas esboços dos meus sentimentos.
- Vou ligar para os produtores agora, Sara Lowe tem um novo disco e todo escrito com músicas dela. - ele falou se levantando da cama.
- Matt, vamos conversar. - falei o pegando pelo braço e o fazendo sentar em minha frente. - Vamos esperar, por favor. Eu preciso de tempo, o CD não precisa sair agora.
- Esperar?
- É, eu preciso pensar, preciso colocar tudo no lugar.
- Tudo bem, vamos esperar, até que isso custe sua carreira, meu emprego, minha vida... - ele falou com a voz chorosa.
- Ok, pode ligar pros produtores - ele sorriu largamente - mas quero primeiro selecionar as músicas.
- Uhul! - ele falou se levantando - Nós vamos para um estúdio, nós vamos ficar ricos, nós vamos ganhar prêmios, nós vamos virar lenda. - ele cantarolava pelo quarto. - Nossa, isso me deu fome.
- Eu também. - falei me levantando e seguindo para a porta, abrindo-a. - Vamos descer?
- Claro! - ele segurou em meu braço e descemos a escada em pulinhos, entramos na cozinha e a imagem do meu pai sentando na mesa conversando com Jenny e Ed surgiu. - Bom dia.
- Bom dia. - todos responderam. Meu pai me olhou e sorriu, se levantou e andou em minha direção me abraçando e dizendo:
- Meu amor, me desculpa. - ele me abraçou forte e eu retribuí.
- Não pai, me desculpe por não estar aqui. - falei deixando uma lágrima solitária cair.
- Você cresceu. - ele falou se separando de mim. - E você, Matt, cuidou bem da minha filhona?
- Claro, senhor, cuidei dela como se fosse minha.
- Então, vamos tomar café? - ele falou me puxando para a mesa. - Como estava Paris?
- Linda, como sempre. - engatamos uma conversa sobre meus filmes, prêmios, entrevistas, sobre tudo. Contamos a história do apartamento da nossa vizinha, de como dançamos na torre depois de saber que eu havia ganhado o papel. Mandy falava da melhor maneira possível os 100 motivos por que eu não deveria deixar Paris e um desses era que ela poderia morar comigo quando fizesse um intercâmbio de um ano quando completasse 16 anos.
- Agora, sério, você vai voltar para Paris, minha filha? - meu pai me perguntou e eu mordi os lábios em dúvida.
- Ela está pensando, senhor, a vida dela está lá, ela não pode simplesmente se mudar - Matt começou - Mas eu quero ficar aqui, acho a Califórnia um lugar bom para se viver.
- Serão sempre bem-vindos. - meu pai respondeu.
- Pai...
- Oi, minha filha.
- Eu queria ir ver a mamãe. - falei olhando para ele.
- Agora?
- Sim, eu me culpo por não ter ido ao enterro.
- Sara, não foi sua culpa, você não sabia.
- Não pai, eu deveria ter voltado, eu deveria ter parado de trabalhar pra vir vê-la.
- Meu amor - ele me abraçou de lado. - A culpa não foi sua, você não sabia que a doença dela estava tão avançada. - ele se levantou e me puxou junto. - Eu quero te mostrar uma coisa.
- O quê? - ele me puxou escada acima.
- Se acalme, você vai gostar. Sua mãe queria que eu lhe desse. - ele me puxou em direção ao seu quarto e abriu a porta, me puxou em direção ao closet e abriu uma velha caixa de joia pegando algo dentro. - Ela me pediu pra lhe dar quando estivesse perto de... você sabe. - ele falou me mostrando o colar do infinito que ela havia ganhado de sua mãe e era uma herança de família.
- Pai, é lindo. - falei me virando vendo-o colocar o colar em mim. O colar era de prata e o pingente era em formato do infinito, onde entre as linhas havia escrito My Little Angel. As lágrimas desceram por meu rosto e eu as limpei rapidamente.
- Ela queria te dar quando fosse a Paris na próxima vez, mas bom, isso não aconteceu. - virei-me para ele e o abracei.
- Eu sinto tanto a falta dela.
- Não, meu amor, ela vai estar sempre com você.
- Eu sei, pai. - falei me separando dele - Vamos? Eu ainda tenho uma entrevista hoje.
- Ai, vou ter que me acostumar em ter uma filha famosa. - rimos e descemos as escadas sorridentes. Olhamos para Matt que estava ao pé da escada e assenti gesticulando um 'Vamos', ele sorriu e eu segui com meu pai ao meu lado até o carro.
Seguimos até o cemitério conversando e contando ao meu pai as histórias que eu e Matt passávamos para fugir dos paparazzis. Meu pai parecia feliz, diferente do homem que achamos jogado na porta de casa ontem à noite. Matt falava de seus casos, das pessoas famosas que conhecemos.
- E você, Sara? - meu pai me perguntou depois de um tempo em silêncio.
- Eu o quê, pai?
- Você nunca namorou nesses dois anos?
- Não pai, eu tenho mais o que fazer. Eu trabalho, sabia?
- Sabia sim, mas você nunca arranjou um namorado?
- Eu fiquei um tempo com um garoto, mas nada sério.
- Quanto tempo isso faz?
- Um ano e pouco. - falei suspirando.
- Você nunca superou, certo?
- O quê? Superar? Do que você está falando, pai?
- Do Cameron. - meu corpo estremeceu e minhas mãos começaram a suar, o ar que existia em meus pulmões simplesmente esvaziou.
- Cameron? Então, esse é o nome do príncipe encantado?
- Príncipe encantado?
- É, a sua falecida mulher fez uma trato com a Sara de nunca mencionar o nome dele.
- Foi, filha? - ele se virou pra mim fazendo-me acordar do transe.
- Foi.
- Sara, você está branca, pálida. Você está bem?
- Aham, estou sim.
- Por que você não me disse que o nome dele era Cameron?
- Porque eu não achei necessário.
- Ou porque você ainda não o esqueceu?
- Chegamos, senhor! - o motorista falou parando o carro.
- Vamos descer? - falei abrindo a porta do carro e quase pulando para fora. Eles desceram e meu pai foi na frente nos guiando até a sepultura da minha mãe, Matt me abraçou de lado me passando força, meu pai parou em frente a uma sepultura falando 'É aqui!'. Soltei-me de Matt e me abaixei diante da sepultura.
- Oi, mãe! - falei baixinho - Desculpa não ter vindo antes, eu estava meio ocupada - as lágrimas já tomavam conta do meu rosto. - Eu queria ter vindo aqui, eu queria ter ficado com você, olhado para você pela última vez, mas... Desculpa mãe, eu prometo cumprir aquela promessa que você me pediu. - me abaixei e coloquei uma rosa em seu túmulo - Eu te amo, mãe, eu sinto sua falta. - falei me levantando e secando as minhas lágrimas.
- Vamos, Sara! - ele falou me abraçando de lado e me levando novamente para o carro.
Entramos no carro e começamos a conversar durante todo o caminho até Ellen DeGenners, a entrada estava meio tumultuada de repórteres e fãs, dei alguns autógrafos e entrei no estúdio. Meu pai estava ao meu lado e Matt no outro, entrei no camarim e coloquei um vestido para a entrevista, olhei para minha mão esquerda e vi o brilho daquele anel, ele me deu sorte, mesmo não sendo nada do que eu queria me lembrar, ele havia me dado sorte em toda a minha carreira. Culpei-me plenamente de ainda carregá-lo comigo. Eu deveria ter jogado-o fora, pensei.
A entrevista correu uma maravilha, sempre as mesmas perguntas, as mesmas brincadeiras. Eu gostava de fazer aquilo, menos da parte que eu tive que explicar porque andava com um anel no dedo anelar, mas com sorte eu desviei a pergunta dizendo que o havia comprado no aeroporto logo quando cheguei. Saí do estúdio com Matt e meu pai junto a mim, passamos por todos os paparazzis e entramos dentro do carro. Finalmente um lugar calmo, ou não.
- Você não vai acreditar. - Matt falou logo que entramos.
- O quê? Conseguiu que a Oprah aceitasse um dueto?
- Não, um amigo meu conseguiu ingressos para um pocket show de uma das bandas do momento.
- Que legal, fico feliz por você. - ele me fuzilou. - O quê?
- INGRESSOS, MEU AMOR. Você vai comigo.
- Ah não, Matt.
- Primeiro, anão é um homem bem pequeninho; segundo, você vai nesse concerto, meu amigo disse que eles são incríveis.
- Mas...
- Vai, minha filha, aposto que essa banda deve ser tudo que o amigo do Matt falou.
- Sei não, qual é o nome da banda?
- Isso é um detalhe, o importante é que você vá.
- Quando é?
- Hoje à noite.
- Hoje?
- Por favor, Sara, vamos, meu amigo vai estar lá.
- Ele é seu amigo ou futuro namorado?
- Um caso que eu quero pegar há muito tempo.
- Tudo bem, eu vou.
- Sério? - ele arregalou os olhos.
- Sério. E, aliás, o que pode acontecer de mal em um pocket show?

The Babysitter IIOnde histórias criam vida. Descubra agora