Capítulo XVIII

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As gravações haviam começado há duas semanas e não estava sendo nada difícil, mas extremamente agradável. Eu e Cameron estávamos indo muito bem, como se tudo de dois anos atrás não tivesse acontecido, como se tudo fosse um mar de rosas e todos aqueles calafrios estúpidos, todas aquelas borboletas, devessem ser ignoradas, porque agora não importava mais o que eu sentia ou não, tudo estava extremamente e estupidamente bem. Nós parecíamos dois amigos de infância que passavam o dia um na casa do outro brincando, e isso tudo já estava começando a me irritar. Eu tentei, tentei de tudo para atiçá-lo, desde sussurros nos ouvidos a peladas na coxa, mas parecia que nada que eu fazia o atingia, muito pelo contrário, ele estava achando engraçado e ainda fazendo graça para todos dizendo: É bom tê-la por perto outra vez, inimiga. Eu o estava odiando por isso, parecia que ele sabia, mas não estava nem um pouco se importando e isso estava me matando.
Então uma das últimas hipóteses passou por minha cabeça: talvez ele não me amasse mais, talvez devesse ser assim, talvez eu e Cameron não estivéssemos destinados a ficar juntos, talvez todas aqueles reencontros tivessem sido apenas coisas da minha cabeça, e pela primeira vez eu estava começando a acreditar nisso. Eu estou acreditando nisso.
E então eu desisti, pois era a única coisa que me restava fazer, porque lutar em uma guerra que já tem um vencedor era o mesmo que dizer que o amor nunca machucava. O amor só é de verdade se machucar, pois o amor perfeito nunca bate forte no seu peito, ele está apenas em nossas cabeças. E tudo piorou quando acidentalmente - ou, como eu gosto de chamar, culpa do Oliver - Cameron pegou o meu caderno de músicas - que, devo ressaltar, estava acidentalmente aberto em cima de sua cama logo depois que eu mostrei a Oliver minhas criações - onde havia todas as minhas músicas, incluindo uma inacabada onde ele fez questão de me ajudar a terminar e cantar comigo. Ou, como eu gosto de chamar, culpa do Lucas e do Oliver, que deram a ideia de no final do filme lançar um videoclipe como publicidade para o filme. Os dois estavam me ajudando na conquista de Cameron, mas não estava adiantando muito, Cameron não queria saber mais de mim e eu tinha que me acostumar com apenas sua amizade.

Entrei pela porta do estúdio que há uma semana eu vinha com muita frequência, Cameron, Oliver e Lucas já estavam lá gravando as últimas batidas da música, enquanto eu estava gravando cenas para o filme.
- Já estamos terminando? - perguntei me jogando ao lado de Cameron no sofá.
- Falta apenas os últimos toques de guitarra e o último verso que eu escrevi. - olhei-o assustado - O quê? Você realmente acha que ela terminaria com o segundo refrão?
- É apenas uma música, não fará tanta importância em nossas vidas.
- Não sei quanto a sua, mas minha vida mudou muito depois que você voltou, quero dizer, depois da música.
- Só você mesmo, Cameron. - falei colocando minha cabeça em seu ombro.
- Quer ver o novo verso?
- Canta pra mim.
- Were you really looking for me? - ele começou a cantar baixinho passando um de seus braços por cima de meus - Try your best to reassure me, I wasn't patient to meet you. - ele continuou a cantar baixinho - Am I too needy, am I too eager? I don't know what this is but it doesn't feel wrong.
- É linda. - falei escutando seu coração bater um pouco mais forte e decidi que aquilo era falta. Isso, falta de ar.
- E aí, pombinhos? - Oliver falou entrando no estúdio - Atrapalhei algo?
- O Cameron fez um verso novo para a música.
- Foi, Cameron?
- Eu... - o celular de Cameron começou a tocar freneticamente e eu pude olhar no visor: Diana - Eu preciso atender. - ele se levantou saindo do estúdio e eu o acompanhei com o olhar.
- Nenhum progresso? - Oliver perguntou e eu virei meu olhar para ele.
- Claro que houve um progresso, eu desisti.
- Você não pode desistir, vocês se amam.
- Oh, claro, Oliver, até porque todas as minhas investidas deram certo e nós estamos fazendo sexo selvagem todo o dia.
- Só mais um pouco, Sara.
- Por que você simplesmente não aceita o fato que nunca vai dar certo? Tá doendo, Oliver, amar o Cameron dói cada dia mais. Eu prefiro desistir a morrer sofrendo.
- Eu estou te pedindo só mais um pouco de paciência.
- Paciência eu tenho, o que eu não tenho mais é coração.
- Confia em mim, Sara, ele te ama.
- Oh Oliver, ele pode até me amar, mas como amigo.
- Eu sei, Sara, eu vejo nas gravações.
- As gravações são encenações, não é real.
- Mas...
- Olha Oliver, eu agradeço o seu apoio e o Lucas, mas não é preciso mais. Acabou. Eu e Cameron estamos terminados.
- Então vocês vão ser amigos?
- Não Oliver, nós somos amigos.
- Sara, pronta? - um dos produtores me chamou me entregando o papel dos novos versos.
Levantei-me pegando o papel de suas mãos indo em direção à cabine, a música começou a rodar e eu a acompanhei em cada nota. Ela ficaria linda quando nós a terminássemos hoje, era uma música que transparecia uma briga entre um casal, mas mesmo assim não mudariam nada um no outro e de algum modo essa música falava um pouco de mim e do Cameron por completo, lembrava dois anos atrás quando nós passávamos todo o tempo juntos e quando brigávamos, mas mesmo assim não mudaríamos nada em nossa relação.
Eu ainda me lembrava das vezes que ele tentava ler meus pensamentos e eu tentava brigar, como todos nos comparavam com chuva e fogo e citavam aquela frase Homens são de Marte e mulheres de Vênus, que fazia jus a nós dois. E todas as vezes que ele me dizia o quanto perfeitamente imperfeito nós éramos, o quanto eu sempre era não quando ele era sim, e o quanto ele não mudaria nada. E então aquilo me atingiu como um caminhão em plena estrada estadual, ele lembrava, ele ainda lembrava. Aquela música era nossa, contava a nossa história de dois anos atrás. Deus, como eu fui burra, pensei cantando o último verso da música. E antes mesmo de George, o produtor, pronunciar uma palavra, eu já estava no corredor procurando freneticamente por Cameron. Virei o segundo corredor à direita encontrando-o chutando a máquina de refrigerante.
- A máquina não tem culpa. - falei andando em sua direção.
- Claro que tem, ela roubou meu dinheiro. - sorri chegando perto dele.
- A sua música ficou linda.
- Você começou, eu apenas continuei.
- Isso quer dizer alguma coisa? Isso por acaso foi uma indireta?
- Se a carapuça serviu.
- Então tudo isso é sobre vingança?
- Ninguém falou em vingança.
- Não precisa, eu vejo em seus olhos. - Deus, como fui burra, tudo isso foi uma vingança.
- Eu sou homem, não preciso de vingança para me sentir melhor.
- Oh, claro, tinha até esquecido do seu machismo.
- Você que foi embora. - ele gritou olhando para mim - Você saiu pela porta me deixando apenas uma carta dizendo que não me amava mais.
- Então você está me culpando por ter ido embora com aquela música? Que conveniente.
- Eu nunca disse que aquela música era pra você. Eu disse que eu a continuei.
- Você sabia, você sabia que aquela música era pra você. Você fez de propósito. - eu já gritava - Você escreveu aquilo pra me atingir!
- Como se meu mundo girasse em torno de você.
- O meu mundo girava em torno de você, eu fui embora por você!
- Do que você está falando?
- Eu fui embora pra você poder tocar sua banda sem se sentir culpado por estar namorando a filha do seu chefe.
- O quê? Eu nunca te pedi para ir embora, eu ia deixar aquela companhia dependendo de você ou não. E da onde você tirou isso?
- Eu percebi, Cameron, ninguém precisou me dizer. Admita, eu era uma pedra no seu caminho, se eu não tivesse ido embora você nunca teria se tornado o que é hoje.
- Eu teria me tornado muito mais.
- Não, eu teria atrasado sua vida.
- Isso é estúpido.
- Eu fiz porque eu te amava. - eu gritava sentindo as lágrimas rolarem por meus olhos.
- Eu te amo, porra! - ele gritou me jogando contra a parede e encostando nossas testas - Eu te amo. - ele falou acariciando meu rosto - Eu te amo e por isso tenho que te deixar ir. - ele se separou de mim, desaparecendo pelo corredor. Ele me amava, mas o que diabos significava aquele deixar ir?

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