E agora?

Cap.3

Cheguei em casa e vi o Isaac caminhando de um lado para o outro com cara de assustado.
-O que houve Isaac?tá com uma cara mais estranha que o normal!-pergunto e dou uma risada irônica para ele.
Mas desta vez ele não me gritou,nem retrucou,apenas ficou a minha frente com uma cara triste,e passava as mãos entre os cabelos como se estivesse pensando em como me dizer algo.
-Fala Isaac,agora você tá me deixando preucupada.-grito com ele.
-Olha Ma..Ma..jú...- ele gagueja um pouco.
-Fala Isaac-grito mais alto.
-Bem,fica calma tá? É que sua tia passou mal,e teve que ser internada !-fala ele fazendo com que lágrimas rolem no meu rosto.
Eu sabia que ela não tava bem,eu sabia.
-Mas tá tudo bem né ? Vai ficar tudo bem? Quando ela recebe alta?- pergunto orando pra que ele me diga que ela está bem.
-Eu não posso mentir pra você,o estado dela é grave descobriram um tumor no cerebro,mas ela vai fazer uma cirurgia,ela pode ficar bem Majú.-O isaac fala e eu choro sem parar e ele meio sem jeito me abraça.
Minha tia,minha tiazinha,a única pessoa que me restou,a única em que posso confiar,ela tem que ficar bem,por favor ela tem que ficar.Tem que haver outras saídas né? ela é forte vai sair dessa,ela tem que sair.
Choro até não ter mais força. O abraço do Isaac por mais estúpido que ele fosse, agora era confortante.Ele só me dizia que ia ficar tudo bem e eu queria acreditar.
-Me leva no hospital Isaac!-Falo entre soluços.
-Claro! -ele diz e logo me solta se afastando um pouco de mim e enxugando minhas lágrimas.

O caminho todo foi silencioso,eu e o Isaac nunca tinhamos ficado perto assim sem brigar.Cheguei ao hospital e João estava lá sentado na recepção e sua cara não era nada boa.
-Oi!- ele fala ao nos ver.
-Oi pai!- responde o Isaac.
-Cadê a minha tia João?- pergunto.
-Ela está no quarto.-ele respondi olhando-me com um olhar triste.
-Será que eu posso vê-la?- pergunto esperando que a resposta seja um sim.
-Espera vou perguntar ao médico!- ele diz e vai em direção a um corredor.
Fico na recepação com o Isaac enquanto nos entreolhamos de vez em quando.
Uns vinte minutos depois o João veio acompanhado da enfermeira e sussurou pra mim "Pode ir" e a enfermeira logo fez gestos para que eu á acompahasse. Passamos por um corredor estenso cheio de macas,e salas,observei que em uma delas uma mulher segurava um bebê no colo,deveria ter nascido agora.
Os hospitais são tão contraditórios,algumas vidas sendo salvas outras sendo perdidas.A vida de minha tia tinha que ser salva.
Ao abrir a porta do quarto visualiso minha tia numa cama cheia de aparelhos,não me pergunte detalhes da sala,eu não reparei,eu só conseguia pensar em como queria que minha tia saisse dali.
Ela logo percebe minha presença e faz gestos com as mãos para que eu me aproximasse dela,tento segurar as lágrimas,tenho que dar força pra ela.
-Porque a senhora não me contou tia?-pergunto enquanto acaricio seus cabelos.
Os olhos dela pareciam estar cansados,estava tomando uma bolsa de soro direto nas sua veias,meu coração estava despedaçado por ter que vê-la assim.
-Não queria te preucupar!-ela fala pausadamente com a voz baixa,que nem parece ser aquela voz que me gritava para acorda-me hoje pela manhã.
-Oh tia,eu te amo tanto,a senhora vai ficar bem tá?- falo beijando o rosto dela com cuidado por causa dos aparelhos.
-Olha,tenho que te contar uma coisa.-ela fala quase sem conseguir.
-Não,não fala nada.Você tem que se cuidar,tem que repousar!-falo tentando acalma-la.
-Seu pai,ele tá vivo,o nome dele é Frederico Golbade.-ela diz sussurrando por estar fraca.
-Não tia não fala disso agora,ele me abandonou,só me preucupo com a senhora.-falo deixando uma lágrima cair.
Tenho dezenove anos e essa é a primeira vez que escuto o nome do meu pai.
-Ele não te abandonou Majú,ele não sabia que sua mãe etava grávida.-Minha tia falava agora forçando a voz.
-Não tia,ele abandonou minha mãe,ele não quis me conhecer,a senhora tá falando isso por causa do remédio.Para tia,para.-falo tentando acreditar que aquilo não era verdade.
-Ele fez sua mãe sofrer muito,ele bebia,maltratava ela,por isso ela não o contou,teve medo que fizesse mal a você.Por isso nunca te contei também,mas você tem o direito de saber,de procura-lo se quiser.Quem sabe ele mudou Majú?-Ela falava enquanto deixava cair uma lágrima.
Como assim? Ele não sabia de mim?Ele maltratava minha mãe? Todas essas informações estão me deixando zonza,choro sem parar,pelo estado da minha tia,pela minha mãe que sofria por causa do meu pai,e por nunca ter tido a oportunidade de ouvi-lá.Ai meu Deus meu coração esta desmontando.Mas não quero pensar nisso .Agora só quero que minha tia fique bem.
-Me perdoa Majú,perdoa por não ter te contado a verdade,eu não quero morrer sem que você me perdoe.-Fala minha tia enquanto chora.
-A senhora não vai morrer tia,a senhora vai fazer a cirurgia,vai ficar bem,não precisa pedir perdão,só não me deixa por favor tia,eu te amo tanto.-Falo entre um choro descontrolado e abraço a minha tia fortemente.
-Eu também te amo !-Ela diz e seus olhos começam a se fechar.
Começo a gritar os médicos que veêm rapidamente, pedem que eu me afaste,mas eu quero ficar perto dela não quero deixa-la partir,agarrei-me na cama tentando fazer com que eu podesse ficar ali um pouco mais...Não tia, não me deixa,por favor não,eu preciso de você tia!