Cristal e Carvalho

2 0 0
                                    

Há duas taças de cristal naquela mesa de carvalho, cheias até a metade desse espumante. Pequenas borbulhas mergulhadas nesse álcool disfarçado com o sabor mais artificial que você.

Duas coisas tão distintas, carvalho e cristal, que eu insisto em ridiculamente comparar com a gente. Tão divergentes, funções tão diferentes, há coisas em um que não há em outro.

Há coisas em mim que não há em você.

Podia muito bem estar falando das coisas que nos diferenciam em quesito biológico, esse pedaço de carne no meio das suas pernas, talvez. Um apêndice pra fora do corpo que só tem uma única utilidade: satisfazer a você mesmo.

Um brinquedo sexual evoluído que só funciona quando o seu ego o infla e te consegue proporcionar um prazer próprio, um pedaço de músculo e células, uma extensão da sua misoginia preso no meio das suas pernas.

Mas não quero falar dessas nossas diferenças cientificamente comprovadas – mesmo sendo o sentimento de amor apenas um pulso nervoso pulando de um neurônio pro outro.

Só queria falar sobre nós.

Vamos, pegue essas taças. Vamos discutir a pauta de hoje, mas antes vamos embriagar o sentidos, enganar a sorte, e ver se as coisas se resolvem se nossas línguas estiverem enroladas.

Erga o copo, vamos brindar.

Vamos brindar à todas as vezes em que as decisões foram em conjunto, mas só eu cumpria as promessas. Brindar à todas as vezes em que esperar por você era a única coisa que ocupava a minha cabeça. Brindar à todos aqueles seus beijos sem sentimento, e às noites de sexo sem prazer, à sua insensibilidade. Vamos brindar ao insucesso da nossa vida amorosa, e ao progresso que tivemos em perder todo o nosso tempo numa farsa muito bem planejada de um amor que nunca existiu por você.

Tão diferentes um do outro. E agora? Vamos botar a culpa em quem?

Beba, há coisas nas taças que não há no carvalho, a transparência talvez.

Há coisas em mim, que não há em você. Há amor em mim.

E em você?

Aqueles DevaneiosOnde histórias criam vida. Descubra agora